Aprofundamento teológico
A medianeira de todas as graças. A maternidade orante de Maria
O papel de Maria glorificada em relação à Igreja ou aos membros que Jesus Cristo associa ao seu Corpo Místico através dos séculos.
Solidariedade ou comunhão
1Tm 2,5: «Só existe um Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus, que se deu em resgate por todos» – Verificamos que desde o AT Deus quis chamar homens e mulheres, a virem ser «mediadores» para a salvação destinada a todo o povo. O título mediador foi aplicado: a Moisés, Abraão, Judite, Ester. Os levitas, que ofereciam o sacrifício pelo povo e pediam para este a Bênção do Senhor; os profetas, portadores da Palavra de Deus e intercessores em favor do povo.
No NT, os cristãos são chamados a interceder uns pelos outros (1Tm 2,1-4), a fim de que cheguem ao conhecimento da verdade e se salvem; Deus quer salvar uns mediante outros; é por efeito da mediação sacerdotal e única de Cristo que o cristão pode fazer algo em prol do seu irmão. O Senhor exerce a sua mediação servindo-se daqueles que Ele livremente quer associar à sua obra em favor dos homens.
É sobre este pano de fundo que se coloca a intercessão materna ou medianeira de Maria em favor dos homens peregrinos.
A intercessão da Mãe
A função de intercessora, que cabe a todo cristão em prol dos seus irmãos, toca a Maria de modo especial, pois ela ocupa um lugar único na Comunhão dos Santos; é a Mãe do Redentor. Mãe de toda a humanidade, que Jesus lhe confiou pouco antes de morrer (Jo 19,25-27). Como toda mãe na família desempenha uma função peculiar. Maria a desempenha na Igreja. O fundamento dessa função é a relação de Maria com Jesus, relação que não se limita ao indivíduo Jesus Cristo, mas se estende ao Cristo total (cabeça e membros do Corpo Místico, Cristo e Igreja).
Lumen Gentium, 60: «A materna missão de Maria em favor dos homens de modo nenhum obscurece ou diminui a mediação única de Cristo, mas até manifesta a sua eficácia. Com efeito, todo o salutar influxo da Bem-aventurada Virgem em favor dos homens...se origina do divino beneplácito. Decorre dos superabundantes méritos de Cristo, repousa na mediação de Cristo; dela depende inteiramente e dela tira a sua força. De modo nenhum impede, mas até favorece, a união imediata dos fiéis com Cristo».
Se durante a sua vida mortal Maria teve como missão cuidar de Jesus, guiá-lo e orientá-lo, actualmente este cuidado volta-se, de maneira própria ao seu próprio estado de glorificado, em favor do resto do Cristo total ou em favor dos membros do Corpo Místico de Cristo que ainda peregrinam na terra. Por isto a Igreja a interpela como intercessora ou como Maternidade Orante e a contempla na imagem da consumação que esperamos alcançar.
A medianeira de todas as graças
Desde os primeiros tempos, a Igreja invocou Maria como intercessora. No século III proferia-se esta oração:
«À vossa protecção recorremos Santa Mãe de Deus
não desprezeis as nossas súplicas, em nossas necessidades,
mas livrai-nos sempre de todos os perigos,
Virgem gloriosa e bendita».
Também as imagens da Virgem (século VI), a representam com mãos estendidas na posição de orante e advogada do género humano. Aqui começa a aparecer o título «Medianeira». No século XII também aparece este título com muita evidência, mas somente no século XVII se elaborou a doutrina. E no século XX, os teólogos dedicaram-se a aprofundar o sentido de tal expressão mariológica.
Em 1921, o Cardeal Desiré Mercier, arcebispo de Malines (Bélgica), com a colaboração de diversos teólogos e liturgistas da Universidade de Lovaina, com apoio do episcopado belga, pede à Santa Sé a promulgação do dogma «Maria Medianeira de todas as graças». Em 1922, o Papa Bento XV concedeu a celebração do Ofício Litúrgico e da Missa da Medianeira a todas as dioceses da Bélgica e a todas as outras dioceses que a solicitassem; todavia não se pronunciou sob a petição dogmática. Idêntica atitude reservada foi assumida pelos Papas seguintes: Pio XI e Pio XII, embora se avolumasse a produção teológica em livros e artigos favoráveis ao título de Medianeira. A este se associava o título de Co-Redentora, suscitando oposição calorosa da parte dos protestantes, que viam nos dois títulos uma derrogação ao Sacerdócio de Jesus Cristo.
Na fase preparatória do Concílio Vaticano II (1962-65), trezentas petições foram dirigidas à Santa Sé, solicitando a definição universal de Maria por parte do Concílio, que não quis tomar posição, os padres conciliares e seus teólogos viam claramente que tanto o título de «Medianeira de todas as graças» quanto o de «Co-Redentora» eram ambíguos e podiam suscitar mal-entendidos entre os fiéis católicos, assim como distanciamento dos protestantes, que o Concílio queria aproximar da Igreja católica. A piedade mariana na primeira metade do século XX tendia a exageros ou afirmações pouco fundamentadas na Escritura Sagrada e na Tradição.
O que nos diz a Lumen Gentium, 62: «A maternidade de Maria na dispensação da graça perdura ininterruptamente a partir do consentimento que ela fielmente prestou na Anunciação, que sob a Cruz ela resolutamente manteve e manterá até à perpétua consumação de todos os eleitos... a Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protectora, Medianeira. Isto, porém, entende-se de tal modo que nada derrogue, nada acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador. Com efeito, nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo plano com o Verbo Encarnado e Redentor. Mas, como o sacerdócio de Cristo é participado de vários modos seja pelos ministros, seja pelo povo fiel, e como a indivisa bondade de Deus é realmente difundida nas criaturas de maneiras diversas, assim também a única mediação do Redentor não exclui mas suscita nas criaturas uma variegada cooperação, que participa de uma única fonte. A Igreja recomenda ao coração dos fiéis para que, encorajados por esta maternal protecção, mais intimamente dêem sua adesão ao Mediador e Salvador».
A função materna e intercessora de Maria, portanto, não decorre de alguma insuficiência da obra salvífica de Cristo, nem é algo de necessário por causa de alguma pretensa limitação dos méritos de Cristo. Mais: a mediação de Maria em favor dos homens recobre a fase da história que vai da Assunção até o fim dos tempos. Não se estende a época anterior a Cristo nem atinge a redenção ou salvação dos seres humanos. A expressão «Medianeira de todas as graças» ou «Medianeira Universal» é actualmente posta de lado pelos teólogos, pois poderia insinuar uma indevida aproximação de Maria a Jesus Cristo.
A mediação de Maria é reconhecida pela Igreja em vista de duas grandes intenções:
a) O ecumenismo: Todos os fiéis cristãos supliquem instantaneamente à Mãe de Deus e Mãe dos Homens, para que ela, que com as suas preces esteve presente às primícias da Igreja interceda junto a seu Filho, até que todas as famílias dos povos, tanto os cristãos, como os que ignoram o seu Salvador, sejam oportunamente congregadas na paz e concórdia, no único povo de Deus, para a glória da Santíssima e indivisa Trindade (Lumen Gentium, 69);
b) A nova evangelização. Paulo VI: «Na manhã de Pentecostes Maria presidiu, em oração, o iniciar-se da evangelização sob a acção do Espírito Santo; seja ela a estrela da evangelização sempre renovada, que a Igreja, obediente ao mandato do Senhor, deve promover e realizar, sobretudo nestes tempos difíceis, mas cheios de esperança». [Evangelii Nuntiandi,82. (Fonte da notícia: ISCR - Inst. Sup. Ciencias Religiosas)]
Fonte: Renascendo em Cristo
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