sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O acto e a intenção

Há uns tempos que, fruto de meditação e da observação de procedimentos, congeminei escrever sobre este assunto. Não é matéria nova, longe disso, mas, às vezes, certas atitudes podem gerar equívocos se não estivermos sabiamente avisados, e se não tivermos o suficiente discernimento, e é sempre bom saber separar as águas.
Este tema tem um duplo interesse: material e moral.
Na ordem material, as leis das nações, prevendo a ocorrência de situações gravemente condenáveis, sujeitam a punição dos comportamentos humanos à verificação do facto (o "acto") e do intuito (o "animus"). Daí o fazer-se depender de procedimento "doloso" a possibilidade de punição de certos comportamentos tipificados como crime ou faltas no âmbito administrativo sancionadas de outra forma. Só em casos especiais previamente identificados se poderá punir por simples negligência (quando se atribui ao sujeito um especial dever de cuidado).
Por isso, no âmbito civil, concorrem para a punição dos comportamentos individuais o acto e a intenção.
Também segundo a Lei de Deus, que é a que verdadeiramente comanda o Homem no seu todo, por maioria de razão, se exige que, para existir comportamento punível na ordem espiritual haja perfeito concurso desses dois elementos: do acto e da intenção.
Reza o Catecismo da Igreja Católica que, para que se verifique falta grave a qualquer dos preceitos divinos, é indispensável que estejam reunidos quatro requisitos: ser matéria grave, haver pleno conhecimento, agir com intenção e a prática do acto.
Do Catecismo da Igreja Católica:
"§1858 - A matéria grave é precisada pelos Dez mandamentos".
"§1859 - O pecado mortal requer pleno conhecimento e pleno consentimento (que abrange a intenção). Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato, de sua oposição à lei de Deus. Envolve também um consentimento suficientemente deliberado para ser uma escolha pessoal. A ignorância afetada e o endurecimento do coração não diminuem, antes aumentam, o carácter voluntário do pecado."
Mas embora todos os actos humanos presuponham a existência de uma intenção, poucos são os que estão sujeitos a sancionamento.
O mesmo não acontece no plano espiritual pois todos, mas mesmo TODOS os nossos actos estão naturalmente submetidos à Justiça Divina, que um dia será exercida sobre nós.
É esta a matéria que nos interessa para sabermos qual o procedimento que agrada a Deus, e qual o julgamento que Deus fará dos nossos actos.
Os Evangelhos estão cheios de exemplos de procedimentos em que a intenção e o acto se não adequam. Seria exaustivo enumerá-los todos, mas poderemos, quase que aleatoriamente, indicar alguns mais representativos.
Abrangendo, como que em definição, a oposição entre o acto e a intenção, S. Mateus relata as palavras de Jesus em 15,8: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim." Idem S. Marcos, 7, 6.
Mas uma das descrições que melhor retrata a oposição e a adequação entre a intenção e o acto é a constante em Mt. 21, 28-30 sobre o procedimento dos dois filhos convidados para ir trabalhar na vinha. "Qual dos dois fez a vontade do Pai?" - perguntou Jesus.
E em S. Marcos, 2, 23-27, surge com clareza a razão de não ser condenável o facto de os discípulos se terem servido das espigas ao Sábado, e de David ter distribuído os pães da proposição. A intenção dos primeiros não era a de desprezar a observação do Sábado nem do segundo as leis do Templo.
E como julgar à luz dos procedimentos dos homens a expulsão dos vendilhões do Templo? (S. Marcos, 11, 15-18.). A motivação está na afirmação de que "A Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos", "mas vós fizestes dela um covil de ladrões.". A desordem ocasionada aparece justificada pelo fim, que lhe é superior: preservar a casa da oração.
Contudo, uma das passagens em que a intenção se mostra com mais força, é em S. Marcos, 13, 41-44, relativamente ao óbolo da viúva pobre. As duas pequenas moedas têm mais peso na apreciação divina que as chorudas esmolas dos ricos, porque a intenção da viúva foi dar tudo quanto tinha.
(A continuar)

Quem conduz este combóio é o meu Pai!



ERA UMA VEZ UM RAPAZINHO DE APROXIMADAMENTE 5 ANOS, QUE CORRIA DUM LADO PARA O OUTRO NUM COMBOIO QUE CIRCULAVA RAPIDAMENTE ENTRE O PORTO E LISBOA. UM SENHOR, IMPRESSIONADO COM O QUE LHE PODIA ACONTECER NAS CURVAS, TRAVAGENS E ACELERADELAS DO ANDAMENTO DO COMBOIO, CHAMOU-O E DISSE-LHE:
"- OLHA, MEU MENINO, TENS QUE TER MUITO CUIDADO PORQUE PODES-TE MAGOAR! MAIS VALIA FICARES SENTADO EM VEZ DE ANDARES NESSAS CORRERIAS, SENÃO AINDA TE MAGOAS!"
"- NÃO, NÃO! NÃO ME MAGOO NÃO!"
"- E COMO SABES QUE NÃO TE MAGOAS?"
"- É QUE QUEM VAI A CONDUZIR ESTE COMBOIO É O MEU PAI!"
"QUEM VAI A CONDUZIR ESTE COMBOIO É OMEU PAI!"
Toda a manhã choveu torrencialmente e anunciavam chuva para a noite. De Coimbra recebemos uma mensagem preocupante: a pessoa que trazia os "mimos" que compunham aquele habitual GRANDE cabaz não aparecia, não estava contactável, não se se sabia se as coisas iriam chegar... A história - verdadeira - do menino do comboio que me tinha sido contada na véspera não me largava: "quem vai a conduzir este comboio é o meu Pai!"...
A aparelhagem de som que tínhamos tido a necessidade de arranjar à ultima da hora porque a outra não estava a resultar e era preciso que a oração fosse ouvida por todos e também era preciso dar mais "voz" às 3 violas que agora fazem parte do côro, este novo côro que se "vira e revira" para dar mais força à oração, mostrava-se avessa a dar o som certo, e eu pensava: "quem vai a conduzir este comboio é o meu Pai!"
Recebi uma mensagem a prevenir que a "x" estava bêbada e ía estragar a noite e eu teimava em acreditar: "quem vai a conduzir este comboio é o meu Pai"...
Acabada a oração com o tema: "Preparação para o Nascimento", que foi encerrada por uma música cheia de força e de alegria, uma multidão esfomeada cercou-nos ansiosa. Mas as travessas servidas à volta por amigos cheios de alegria e amor estavam repletas e chegou para todos. As caras foram-se alegrando, e apesar de algumas cenas de violência (que infelizmente vão sendo cada vez mais comuns) a noite acabou em paz. O ar estava morno, a chuva foi chover para outra cidade, e a "x" despediu-se de nós com um lindo fado...
Não há dúvida de que ***QUEM VAI A CONDUZIR ESTE COMBOIO É O MEU PAI***

Relato da noite da última Quarta-Feira na Trindade, de Teresa Olazabal

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Experiências da rua

Por onde começar?
Decidimos fazer um relato mais alargado recuando ao mês anterior. É que a acção não é instantânea mas se alonga no tempo, por dias, semanas, meses... e, às vezes, até anos!
A persistência é um dom a não esquecer. Só com Fé e teimosia se conseguem mover montanhas. Ainda que sejam as montanhas artificialmente criadas pelo próprio Homem em torno de si próprio, ou em si mesmo.
No mês transacto continuámos o acompanhamento seleccionado de alguns amigos na tentativa de os levar a mudar o rumo das suas vidas. Privilegiámos um casal novo, na casa dos trinta. Fomos ao seu encontro no fim do mês e tivemos a grata surpresa de sermos por eles recebidos com alegria mesmo esfusiante, desejosos que estavam de nos transmitir a certeza de que estavam mesmo, não decididos, mas A MUDAR!...
Apresentaram-nos os responsáveis da associação que os acompanha com quem pudemos conversar, e certificar-nos de que estavam no rumo certo.
Anteriormente tinham-nos apresentado um pedido simples: eram casados pela Igreja e queriam que todos o soubessem; para isso gostavam de ter alianças mas alianças de verdade, ainda que fossem simples alianças de latão!
Registámos o pedido, pusemo-nos em campo, descobrimos a Paróquia onde tinham casado, obtivemos a cópia do Assento de Casamento, e encomendámos umas alianças de prata dourada gravadas com a data e o nome de cada um.
O aniversário era a 31 de Outubro. Nesse dia, à noite, fizemos-lhes a surpresa: oferecemos-lhes as alianças, um farnel adequado, e o Assento de Casamento! Quando lho demos, disse a senhora:
- Ai!... Era mesmo isso que lhes íamos pedir!
Não foi necessário pedir. Adivinhámos o desejo e foi com enorme gosto que lhes demos essa alegria!
A saída de Quarta-Feira teve de ser adiada para Quinta, ontem, por causa dos festejos do S. Martinho, nosso Padroeiro.
Feitas algumas compras para a distribuição da noite, empurrando o carrinho quem me aparece à frente? Ela mesma em pessoa, fora do círculo que lhe era habitual, sozinha! Ficámos a cavaquear durante uma boa meia-hora sobre o tratamento a que se submeteram, sobre a sua decisão, sobre os motivos porque os tratamentos anteriores não tinham resultado, etc., etc., etc.
- Sabe?, não sei porquê gosto mesmo de conversar consigo... As outras pessoas... não sei, não é a mesma coisa! Tem um modo de conversar diferente...
Rservei duas medalhas Milagrosos para lhes entregar à noite, mas não apareceram. Nessa tarde tínha-me dito:
- Sabe? às vezes até já não vamos aos carros; não nos sentimos bem e preferimos ficar no nosso quartinho.
Devem, por isso, ter ficado no seu quartinho. É preciso rezar por eles, empurrá-los com a Graça de Deus!
De resto a noite, com 4 na equipa, foi um pouco diferente. Íamos preparados com 40 sacos para o Aleixo, e mais cerca de 60 para a cidade, e fruta, leite com chocolate e sandes avulso.
À última hora, porque eram ainda 21,30 horas, pensámos alterar a volta começando pelo Aleixo. Deste modo tínhamos a certeza de que todos quantos nos procurassem receberiam o seu quinhão. Só que os sacos a eles destinados já estavam acondicionados no fundo da bagageira. Mas não era impedimento: poderiam tirar-se por dentro, rebatendo o banco.
A solução não demonstrou ser a melhor porque a nossa acompanhante de serviço, que tinha trazido algumas roupas, se viu atrapalhada querendo entregar uma e outra coisa! A aglomeração era grande, com fome e no stress habitual quase que exigiam que lhes dessem os sacos que estavam ali mesmo à mostra, mas que não eram tão completos como os que lhes estavam reservados. Entre sacos, roupa e o sumo, que ia sendo distribuído à medida que chegavam, ultrapassou-se a balbúrdia que não permitiu nenhuma aproximação individual.
Não pôde aqui ser semeada a Palavra que saíra na nossa oração: 1ª. Coríntios, 1, 23 - Respeito pelos outros.
Sem semearmos nos seus corações, retivemos, no entanto, o recado: "quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória da Deus.".
E para maior glória e honra de Deus ali estávamos, cientes de que, por nós, nada conseguimos resolver, e, por isso, nos entregamos e confiamos em Deus que, ELE sim, tudo pode.
Indo à cidade, andámos positivamente a tropeçar em ajudas: o Colégio do Rosário, os Samaritanos - ambos habituais - e mais três ou quatro grupos novos de que não conhecemos o nome nem a história. A Caridade não tem dono, é certo, mas viemos para casa a pensar se não será altura de dar lugar aos que acabam de chegar, possivelmente com mais meios e capacidade, e de optar por outro tipo de abordagem.
"Tudo é permitido mas nem tudo é conveniente. Ninguém procure o seu próprio interesse mas o dos outros." - dizia a leitura. E qual é o interesse dos outros neste caso?
"Fazei como eu, que me esforço para agradar a todos em tudo, ... a fim de que eles sejam salvos."
Terminámos a nossa noite agradecendo e pedindo o devido discernimento para que, entre o que é permitido descubramos o que é também conveniente na abordagem dos carenciados de quem nos aproximamos.
A Paz de Deus fique nos corações de todos quantos lerem estes curtos relatos, que estão a ter leitores de norte a sul do Brasil, na Espanha, Holanda, em Sacramento dos Estados Unidos da América do Norte, e, claro, em Portugal. Que a semente que queremos deixar no coração de quem encontrarmos no nosso caminho germine e cresça também nos corações dos nossos leitores, a quem saudamos na fraternidade de Jesus.
Avé Maria!
Novembro de 2009
C.