segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

BOAS FESTAS, FELIZ NATAL

No final de mais um ano de actividade ao serviço dos mais débeis e carenciados venho desejar a todos os elementos do grupo "Franjas Sociais", aos nossos amigos colaboradores, aos que nos acompanham na acção e na leitura dos relatos que vamos fazendo, e, especialmente a todos quantos acompanhamos ao longo do ano e que certamente não lerão esta mensagem, um Santo Natal e um Bom Ano de 2013 que se deseja mais risonho, farto e pacífico que o que nos têm prometido.


C.

Boas Festas

No final de mais um ano de actividade ao serviço dos mais débeis e carenciados venho desejar a todos os elementos do grupo "Franjas Sociais", aos nossos amigos colaboradores, aos que nos acompanham na acção e na leitura dos relatos que vamos fazendo, e, especialmente a todos quantos acompanhamos ao longo do ano e que certamente não lerão esta mensagem, um Santo Natal e um Bom Ano de 2013 que se deseja mais risonho, farto e pacífico que o que nos têm prometido.

C.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Pensamento mês de Abril

Este mês como reflexão enviei a todos o seguinte:



Muitos de vós pensaram: "Por ser Páscoa a nossa reflexão é o Pai Nosso." Lemos a oração, já com o piloto automático ligado e pronto, não pensamos mais nisso.

Ontem, quando terminamos a nossa ronda, fomos chamados a pensar um pouco nesta oração.

Aqui fica o pensamento deste mês...


Homem: Pai nosso que estais no céu...
DEUS: Sim? Estou aqui...
Homem: Por favor, não me interrompa, estou a rezar!
DEUS: Mas tu chamaste-me!
Homem: Chamei? Eu não ch
amei ninguém. Estou a rezar....                                          
               Pai nosso que estais no céu...
DEUS: Ai, chamaste-me de novo...
Homem: Fiz o quê?
DEUS: Chamaste-me! Tu disseste: Pai nosso que estais no céu. Estou aqui. Como é que posso ajudar-te?
Homem: Mas eu não quis dizer isso. É que estou rezar. Rezo o Pai Nosso todos os dias, sinto-me bem assim. É como se fosse um dever. E não me sinto bem até cumprí-lo...
DEUS: Mas como podes dizer Pai Nosso, sem lembrar que todos são teus irmãos, como podes dizer que estais no céu, se tu não sabes que o céu é a paz, que o céu é amor a todos?
Homem: Realmente ainda não tinha pensado nisso.
DEUS: Mas prossegue a  tua oração.
Homem: Santificado seja o Vosso nome...
DEUS: Espera ai! O que queres tu dizer com isso?
Homem: Quero dizer... quer dizer, é... sei lá o que significa. Como é que vou saber? Faz parte da oração, só isso!
DEUS: Santificado significa digno de respeito, Santo, Sagrado.
Homem: Agora entendi. Mas nunca tinha pensado no sentido dessa palavra SANTIFICADO. "Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu..."
DEUS: Estás a falar a sério?
Homem: Claro! Porque não?
DEUS: E o que é que fazes para que isso aconteça?
Homem: O que faço? Nada! É que faz parte da oração, além disso seria bom que o Senhor tivesse um controle de tudo o que acontecesse no céu e na terra também.
DEUS: Tenho controle sobre ti?
Homem: Bem, eu frequento a igreja!
DEUS: Não foi isso que Eu perguntei! Pergunto pela forma como tratas os teus irmãos, a maneira como gastas o teu dinheiro, o muito tempo que dás  à televisão, as propagandas e o pouco tempo que dedicas a Mim...
Homem: Por favor. Pare de criticar!
DEUS: Desculpa. Pensei que estavas a  pedir para que fosse feita a minha vontade. Se isso  acontecer tem que ser com aqueles que rezam, mas que aceitam a minha vontade. O frio, o sol, a chuva, a natureza, a comunidade.
Homem: Esta certo, tens razão. Acho que nunca aceito a Sua vontade, pois reclamo de tudo: se manda chuva, peço sol, se manda o sol reclamo do calor, se manda frio, continuo a reclamar, se estou doente, peço saúde, mas não cuido dela, deixo de me alimentar ou como muito...
DEUS: Ótimo reconhecer tudo isso. Vamos trabalhar juntos Eu e tu, mas olha, vamos ter vitórias e derrotas. Estou gostar dessa nova atitude.
Homem: Olha Senhor, preciso terminar agora. Esta oração está a demorar muito mais do que costuma ser. Vou continuar: ... "o pão nosso de cada dia nos dai hoje..."
DEUS: Pára ai! Estas  a pedir pão material? Não só de pão vive o homem, mas também da minha palavra. Quando Me pedires o pão, lembre-se daqueles que nem conhecem o pão. Podes pedir-me o que quiser, desde que me vejas como um Pai amoroso! Eu estou interessado na próxima parte de tua oração. Continua!
Homem: "Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido..."
DEUS: E o teu irmão desprezado?
Homem: Está a ver? Olhe Senhor, ele já criticou várias vezes e não era verdade o que dizia. Agora não consigo perdoar. Preciso vingar-me.
DEUS: Mas, e a tua oração? O que quer dizer a tua oração? Tu chamaste-me, e eu estou aqui, quero que saias daqui transfigurado, estou a gostar de te ver ser honesto. Mas não é bom carregar o peso da ira dentro de ti, não achas?
Homem: Acho que iria sentir-me  melhor se me vingasse!
DEUS: Não vais não! Vais-te sentir pior. A vingança não é tão doce quanto parece. Pensa na tristeza que me causarias, pensa na tua tristeza agora. Eu posso mudar tudo para ti. Basta quereres.
Homem: Pode? Mas como?
DEUS: Perdoa o teu irmão, Eu perdoar-te-ei a ti  e te aliviarei.
Homem: Mas Senhor, eu não posso perdoá-lo.
DEUS: Então não me peças perdão também!
Homem: Mais uma vez está certo! Mas só quero vingar-me, quero a paz com o Senhor. Esta bem, esta bem, eu perdô-o a todos, mas ajude-me Senhor. Mostre-me o caminho certo para mim e  para os meus inimigos.
DEUS: Isto que tu pedes é maravilhoso, estou muito feliz contigo. E tu? Como  te estás a sentir?
Homem: Bem, muito bem mesmo! Para falar a verdade, nunca me havia sentido assim! É tão bom falar com Deus.
DEUS: Ainda não terminamos a oração. Prossegue...
Homem: "E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal..."
DEUS: Ótimo, vou fazer justamente isso, mas não te ponhas em situações onde possas ser tentado.
Homem: O que quer dizer com isso?
DEUS: Deixa de andar na companhia de pessoas que te levam a participar em coisas sujas, intrigas, fofocas. Abandona a maldade, o ódio. Isso tudo vai levar-te para o caminho errado. Não uses tudo isso como saída de emergência!
Homem: Não estou a entender!
DEUS: Claro que entendes! Já fizeste isso comigo várias vezes. Entra no erro, depois corre a pedir-me socorro.
Homem: Estou com muita vergonha, Perdoa-me Senhor!
DEUS: Claro que perdoo! Sempre perdôo a quem esta disposto a perdoar também, mas não te esqueças, quando me chamares, lembra-te da nossa conversa, medita cada palavra que disseres... Termina a  tua oração.
Homem: Terminar? Ah, sim, "AMÉM!"
DEUS: O que quer dizer AMÉM?
Homem: Não sei. É o final da oração.
DEUS: Só deves dizer AMÉM quando aceitas dizer tudo o que Eu quero, quando concordas com minha vontade, quando segues os meus mandamentos.
Porque AMÉM! quer dizer, ASSIM SEJA, concordo com tudo que rezei.
Homem: Senhor, obrigado por me ensinares esta oração e agora obrigado por me fazer  entendê-la.
DEUS: Eu amo cada um dos meus filhos, amo mais ainda aqueles que querem sair do erro, aqueles que querem ser livres do pecado. Abençôo-te e fica com minha paz!
Homem: Obrigado Senhor! Estou muito feliz por saber que és meu amigo.




domingo, 18 de março de 2012

Lição de 4ª. Feira

"Algumas vezes sabemos dentro de nós que devemos fazer qualquer coisa semelhante a plantar uma árvore, mesmo sabendo que nunca comeremos dos seus frutos nem descansaremos à sua sombra.

Ou descobrimos que devemos aplicar-nos não tanto ao nosso pequeno problema, mas a reconstruir as ruínas imensas que nos rodeiam. E nunca como então somos tão grandes. E nunca como então estamos tão perto de nós mesmos."

Paulo Geraldo

Quem planta uma árvore mesmo sabendo que nunca comerá dos seus frutos, não é egoísta, e também não o é quem está mais interessado em acorrer à fragilidade do outro do que interessado em sí próprio.

Este foi o belo pensamento que a dupla Suzana/Hugo nos deixaram para meditarmos durante a semana que antecedeu a nossa última saída na Quarta-Feira.

É o altruísmo a prevalecer sobre o egoísmo, o amor sobre o ódio, a generosidade sobre a ganância (avareza), a humildade sobre o orgulho...

Em abstracto todos sabemos já essa lição. O que me surpreendeu foi o facto de termos encontrado o seu negativo na Quarta-Feira à noite, personificado num sem-abrigo ocasional com que deparámos na Rua de Camões.
Estávamos já a "desfazer as malas" naquele sítio quando aparece um par, perfeitamente desemparelhado, ele com 81 anos, ela com 38. Ébria, procurava nele amparo, ele achava nela nem sei o quê que lhe servisse. Mas faziam um par. Ela ria sem motivo, ele arrastava uma mala como quem vai para a residencial. Encostaram-se a outros dois na escadaria do prédio preparando-se para ali passar a noite. E foi então que começaram as "apresentações" por parte da companheira, dando todas as referências dele, de onde era, o que fazia, etc.

Como quem diz um segredo sem lho pedir, foi dizendo:

- É cleptomaníaco!

- Leva para casa tudo quanto apanha...

- Tem "lá" um armazém cheio de quinquilharia...

- Até guarda-chuvas avariados ele leva para casa! E palitos que encontra!...

- A mulher dele - tem mulher, sabia? - trata-o bem, trata-lhe da roupa e da comida, mas ele não quer saber e volta e meia dá à sola e anda por aí. Então a mulher deita-lhe os guarda-chuvas ao rio.

- E eu volto lá buscá-los! - completou ele.

E acrescentou:

- Um palito tem utilidade, Sabe?

A mala estava ali mas ainda estava vazia.

- É para meter aí o que encontra... - esclareceu ela.

- Então quando vai para casa leva-a cheia? - perguntei.

- Pois, é para meter aí as coisas. Sabe, ele tem muito dinheiro, tem carro e tudo! É rico!

- Já lá tive sete de uma vez! - respondeu ele. E ria.

- Se tem dinheiro, onde é que vai dormir hoje?

- Hoje?!... Aqui!

- Então, podia ir para uma pensão... dormia bem numa cama quentinha...

- Uma pensão custa dinheiro!... Uma pensão custa dinheiro!...

- Ele é assim!... - exibia ela o punho fechado. Não gasta um tostão!

- O dinheiro pode fazer falta! - continuava ele.

Achei que devia tentar destapar-lhe a cataplana em que está, e perguntei-lhe se nunca tinha dado nada a ninguém. Olhou-me meio espantado.

- Dar?!... P'ra quê?

- A alguém que precise!

- O quê?

- Um palito por exemplo...
- Mas um palito tem utilidade!... Um palito pode ter utilidade!...

- Sabe que há mais prazer em dar do que em ter ou recber?

Não, o C. não sabia... E ali ficou sem saber. A cataplana continuou hermética.

Egoísmo concentrado. Dali não sai nada.

Vim para casa a pensar nas duas atitudes em confronto: uma concentrada no outro, a outra concentrada no eu, ao cúmulo. Nesta última atitude o outro está sempre ausente, nem existe sequer. Só o eu, o meu, o ter.

Estampa perfeita da parábola dos talentos. Quanto rendem os deste homem? NADA!... Não geram amor, nem amizade, nem bem, nem riqueza. Nem servem até para nada a não ser para a esperança de virem a servir, o que nunca acontece.

E dei ainda comigo a pensar no porquê de nos ter surgido nesta noite este exemplar para quem tudo tem utilidade desde que seja ele o servido, o beneficiado, e que nunca tem um olhar para quem o serve, ajuda, apoia, trata, como é o da esposa que permanece sempre em casa de braços abertos para o receber depois de cada arruada, noites seguidas a deambular sem rumo certo, companhias de ocasião, ao Deus-dará...

81 anos!...
 
A quem aprova Deus, àqueles que agem sem esperar benefício ou retribuição como sugere Paulo Geraldo, ou aos que procedem como C. para quem os degraus dum patamar servem para dormir porque uma pensão custa dinheiro, e que tudo arrebanham porque até um palito pode ter utilidade?

 
C.F.

domingo, 11 de março de 2012

Sr. Santos

Caros amigos:
Às vezes as notícias que não temos chegam-nos quando não as procuramos. Ontem alguém me perguntou pelo Sr. Santos, o camionista de Aveiro que parava junto à bomba de gasolina do Campo Alegre, logo a seguir ao Capa Negra. Como o nosso grupo foi reforçado o ano passado com uma segunda carrinha nem sempre dá passar por ali e não tinha notícias para dar.

Ao fim da tarde, quando subia uma rua perpendicular ao Campo Alegre, perguntei por ele ao José, que estava envolvido na tarefa de arrumador de carros. Respondeu-me que já tinha falecido há cerca de um ano...

Seria verdade ou má interpretação?

Hoje, passando por ali, espreitei a mina onde dormia, no Horto das Virtudes. Lá estava a tenda perfeitamente montada. Desci e chamei: sr. Santos!... Saíu de lá o José a dizer: então não lhe disse ontem que ele faleceu há um ano?!...

Ficou confirmada a notícia. O José é o herdeiro do seu lugar na mina onde continua o ritual do dono anterior, como atestam as roupas estendidas a secar na corda...

Não mais será preciso deixar o saco "no canteiro junto à parede".

Fica-nos a recordação das quase horas que demorava a expor os seus conhecimentos de informática, sempre loquaz, sem dar quase tempo a podermos entrar na conversa.
Mais uma intenção a colocar nas nossas orações pela Paz Eterna dos que já partiram.
PNAMGP
C. F.

quarta-feira, 7 de março de 2012

2012 e a rua continua...

Com saídas já realizadas em Janeiro e Fevereiro continuamos a nossa missão...
No princípio do ano e, mais concretamente, em Fevereiro, encontrámos as ruas quase que semi-desertas por causa do frio e da deslocação de muitos para locais de abrigo de recurso: a Casa da Rua e instalações da Câmara Municipal. Perante o sucesso da operação ainda acalentámos uma ténue esperança de que pudesse servir de catapulta para se avançar definitivamente para a criação de locais permanentes de abrigo mais ou menos abertos sob a supervisão dos responsáveis da Segurança Social ou de outros organismos que têm a responsabilidade de velar pela segurança e qualidade de vida das populações, mas, erro meu, tudo voltou já ao princípio sem se vislumbrar uma nesga que permita adivinhar que se decida ir por aí...
Às vezes as soluções são tão fáceis e estão tão ao alcance das nossas possibilidades que até escandaliza que não sejam equacionadas! Será o nosso feitio de querer tudo sempre muito bem feito, à medida de cada um e, também, dos organismos de controlo que foram criados para assegurar o normal funcionamento da sociedade que entrava o avanço? Esses organismos, é fácil ver, acho que não têm lugar aqui tratando-se de situações à margem da própria sociedade cuja gravidade e marginalidade se pretende minimizar.
Assim sendo, por que não andar para a frente, contado com o mínimo e a boa vontade de quantos já estão empenhados em acorrer gratuitamente a quem precisa?
O certo é que a rua começa novamente a encher-se passada que foi a arremetida daqueles dias mais frios do que é costume, e esqueceu-se o principal. Resta a "solidariedade" daqueles que teimam todo o ano em repetir todos os dias os mesmos gestos de aconchego e amizade sem esperar retribuição que não seja a de ver regressar àqueles rostos um vislumbre de alegria quase sempre fugaz, e o reconhecimento da sua identidade humana.
Desabafos...
Com o saco que entregamos fica sempre algo de nós. É mais do que isso o que lhes damos. Coragem, Fé, Esperança, um rasto de Amor...
Chegados aqui, vendo crescer o desejo de apoiar e aumentar o número dos que a isso se dispõem, impõe-se que se partilhe a tarefa de organizar, dando azo a que mais e melhores ideias venham enriquecer o espírito de ajuda aproveitando a garra e a juventude dos voluntários que têm vindo a aderir a este projecto.
Os escuteiros de Aldoar abraçaram esta ideia e dois deles dispuseram-se a dar nova cara ao grupo "Franjas Sociais" ao menos durante este ano. Serão eles que responderão e representarão o grupo daqui em diante. É uma passagem de testemunho que abrange também de certo modo a juventude da Paróquia de Carregosa que fica à espera da sua vez. Dividindo tarefas e responsabilidades uniremos mais os nossos esforços com vista ao objectivo de acorrer às necessidades do próximo segundo as possibilidades de cada um sem que fiquemos à espera que outros façam o que a cada um de nós compete: sermos os samaritanos do próximo quando damos conta da sua situação e existência.
Aldoar e Carregosa estão unidas numa tarefa que ultrapassa a mera ajuda aos necessitados.
À rua levamos ajuda, da rua para nossas casas e paróquias queremos trazer nova dinâmica e vivência em Igreja.
A saída deste mês está já a ser preparada pelos novos responsáveis com novidades de figurino e de pensamento, bem como o programa deste ano.
Aguardamos com expectativa o resultado da resposta que daremos ao novo desafio e os frutos que daí advirão para todos.
Parabéns à Susana e ao Hugo, a quem daremos toda a força e apoio de que necessitem.
Parabéns à juventude de Carregosa que persevera neste projecto sem se queixar dos 50 Km que nos separam, com quem esperamos desenvolver um intercâmbio que enriqueça quem de cá e de lá nele está envolvido.
Assim Deus nos ajude!

C. F.

domingo, 15 de janeiro de 2012

7º. Ano...

E regressámos à rua no dia 11 deste mês. É especialmente bom ver alguns que se nos dirigem contando que já se encontram em tratamento, outros recuperados. Não vou relatar em pormenor os encontros ou reencontros nem o que rodeou a preparação de mais uma saída. Foi mais uma boa resposta dos nossos amigos escuteiros e dos da Paróquia de Carregosa, uns e outros com história alicerçada nestes raides. Aliás, não consta do relato, mas só da Paróquia de Carregosa compareceram 35 voluntários ao Jantar de Natal servido aos Sem-abrigo!
Sempre presentes nestas e noutras iniciativas, são exemplo vivo de que olhar com olhos de ver o próximo não é tarefa alheia mas da responsabilidade moral de cada um.
Foi fria a noite mas muito quente de afectos.
Correram-se os Bairros Sociais e as ruas da Baixa.
Deixámos algo de nós e muito do que lhes levámos e viemos embora temporariamente resignados com a nossa incapacidade de responder a todas as suas necessidades. Mas anotamo-las e continuamos a teimar...
Salutar é ver que a rua, a pouco e pouco, vai mudando alguma coisa! Hoje já não é aquela rua de há 10, de há 7 anos! Há menos gente a dormir ao relento e há muito menos abandonados a si mesmos e ao seu natural desleixo. Alguns dos que afastavam de si qualquer um pelas cotras do vestuário e pelo odor acre e desagradável da imundície que transportavam no corpo e na roupa, estão e sentem-se muito mais humanizados.
Tudo isto é sinal de que todos os que estão com eles na rua, seja em resposta a um apelo pessoal ou da organização em que se integraram como voluntários, ou até de dever de ofício, devemos continuar porque ainda que não consigamos erradicar o mal pela raíz podemos pelo  menos fazê-lo diminuir.

A tarefa não é fácil mas não é motivo para se lhe virar as costas.
Neste novo ano e nos que se lhe seguirem continuaremos a tentar com o melhor do nosso esforço e contributo que a rua seja melhor, e que os que a têm por casa encontrem por fim um abrigo certo, seguro e digno.
Um Bom Ano a todos.

C. 

Jantar de Natal com os Sem-abrigo

Seguindo a tradição iniciada na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição há já alguns anos, foi servido no passado dia 29 de Dezembro o Jantar de Natal aos Sem-abrigo. A iniciativa destinava-se a contemplar não só os habituais utentes da Porta Solidária, a quem é servida diariamente uma refeição na Paróquia, mas também aos demais Sem-abrigo que o desejassem.

A data foi previamente anunciada nas ruas e foram também feitos os contactos com alguns grupos de voluntários para assegurarem a preparação e o apoio na refeição.

Numa congregação de vontades, em verdadeiro espírito de Caridade Cristã, cedo começaram a surgir de um e outro lado as contribuições voluntárias dos géneros necessários, todos dispensando qualquer tipo de publicidade. Assim, desde os frangos, passando pela fruta, Vinho do Porto e terminando nos chocolates e no Bolo-Rei, tudo foi aparecendo anonimamente, sem alarde nem qualquer forma de cobrança.

E, na tarde deste dia, foi uma agradável surpresa ver aparecer, dispostos a executar qualquer tarefa, cerca de cem (100!...) voluntários aos quais foi destinada uma das diversas ocupações – cozinha, copa, mesas, acolhimento, animação – necessárias ao bom êxito da festa. Sim, porque de verdadeira festa se trata, e tratou mais uma vez este ano, em que até se ultrapassou o êxito já alcançado em anos anteriores.

De facto, à fartura e diversidade do serviço, juntou-se a alegria geral partilhada com os mais de trezentos comensais e a animação do grupo de cavaquinhos da Paróquia. Cantou-se, dançou-se, e o riso rasgado em muitas bocas deixava para trás as agruras do dia-a-dia de todos…

Sempre presente onde mais falta faz, numa comprida mesa corrida, o Sr. D. Manuel Clemente tomou mais uma vez lugar no meio deles, acompanhando-os na refeição, alimentando-lhes a alegria, e relembrando-lhes que também eles são parte integrante da Igreja de Cristo.

Em coro afinado, os voluntários desejaram a todos as Boas Festas de um Natal Santo e de um Ano Bom como precisamos.

De estômagos compostos e sacos cheios de prendas, os contemplados levaram também a alma cheia de gratidão e daquela alegria que, é pena, mas parece que só o Natal sabe dar, ainda que ali a Porta Solidária durante todo o ano aberta, o pretenda fazer aos que a procuram todos os dias.

Na troca de abraços final ficou a sensação de mais um dever cumprido e a determinação de ali voltar no próximo Natal, esperando que a alegria que a pouco e pouco vai sendo semeada, germine e cresça e cada vez mais se expanda numa séria contribuição para a construção de um mundo melhor.