domingo, 16 de agosto de 2015

Em férias, na rua...

Pensando que já aprendemos tudo o que havia a aprender na rua somos surpreendidos uma ou outra vez por actos e factos que nos fazem questionar-nos.
Tendo criado o hábito quase mecânico de calcorrear quase sempre as mesmas ruas e os mesmos becos, pouco mais esperamos encontrar que os mesmos rostos e situações, a permanente necessidade estender a mão ao pão que levamos, e a ânsia de receber um pouco do ânimo de que carecem.
No meio de experiências noite-a-noite repetidas não esperamos ser habitualmente surpreendidos, mesmo depois de gasto em cada noite com os mesmos personagens o mesmo "latim", de que não se vêm resultados.
A passada noite do dia 12 foi rica em encontros, de que destacamos dois. Logo no início, o primeiro deles: tínhamos acabado de estacionar no Pinheiro Torres quando passa por nós um automóvel utilitário, que pára logo adiante, e de onde sai uma senhora radiante, eufórica!
- Estou limpa!... - exclama ela.
- Frequentou um programa? - perguntámos.
- Não!... Fiz tudo sozinha!
- Como?!
- A frio...
- Como conseguiu?
- Foi a Fé. Se não fosse a Fé que tenho nunca conseguiria.
- Mas... a frio! Como ultrapassou a ressaca?
- É que o que eu sofri até ali foi muito pior que o que sofri para deixar!
- Mas se assim fez que vem aqui fazer? Não era melhor deixar de vez este bairro?
- Já deixei! Hoje só vim buscar o meu cãozinho!
Percebemos que a V... tinha uma imperiosa necessidade de gritar ao mundo o resultado da sua vitória e de se nos mostrar limpa e asseada, limpa do vício e bem "deste lado".
E embora sentíssemos que nada fizemos para aquele resultado, percebemos também que a força da V... resultou não só da sua determinação mas também dos muitos convites e insistências que, durante meses e anos, lhe fomos fazendo. É por isso e para que outras V.... se decidam a dar o passo decisivo que temos de continuar a dar o nosso empurrãozinho àqueles e àquelas precisam de um pouco de mais impulso para mudar as suas vidas.
O segundo foi um não-encontro: soubemos que o Daniel foi desalojado do seu lugar na rua, que lhe foi tomado por um casal que o maltratou. Refugiou-se no cais, sob uma lona... Na hierarquia da vida ainda se pode descer abaixo do patamar!...

Franjas Sociais