sábado, 26 de dezembro de 2009


No meio da azáfama característica desta quadra, e com o senão de termos interrompido esses afazeres por causa imprevista, deixámos passar o dia de Natal sem que aqui o tivéssemos lembrado...
O Natal deve ser todos os dias, costuma ouvir-se. É verdade, mas embora o afirmemos sempre também sempre depressa o esquecemos...
De qualquer modo, e para que conste, desejamos a todos UM MUITO SANTO NATAL, e que o Deus-Menino permaneça e cresça sempre cada vez mais nos nossos corações.
E aproveitamos para desejar que o Ano de 2010, que brevemente se vai iniciar, preencha os desejos de cada um quanto à sua vida particular, e a todos traga a tão ansiada PAZ, Saúde, Pão, FELICIDADE!...
São os votos de franjas sociais.
C.

INÊS...

"Esta manhã (24/12) fui ao enterro da Inês às 11h em Vilar de Andorinho. Lindo. Já ontem à noite quando fui à capela mortuária com a Cuca e a Manela rezar um terço tive ocasião de perceber "aquele" sorriso tão misterioso nos olhos fechados dela. Foi um consolo.
Hoje houve uma cerimónia muito bonita - com a celebração da Palavra, uma homilia e a distribuição da Comunhão na Capela Matriz.
A Manela leu as leituras tão bonitas do Natal: "O povo que andava nas trevas viu uma grande luz. Para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar", e o Salvador - de que ela tanto gostava no que era correspondida, leu a oração dos fiéis pedindo "pelas famílias que nesta noite não têm casa, nem pão, nem amor...". Tudo girava à volta da vida da nossa querida Inês que, com a fotografia da entrega da caixa dos sonhos na Missa de Natal da Trindade ao lado dela no caixão, continuava a sorrir como se nos quisesse sossegar e dizer: "acabou-se a luta, estou em paz, mas... atenção! Continuo convosco".
O diácono que presidiu falou com uma sabedoria muito grande explicando que há filhos que estão mais perto e outros mais longe da família e da casa mas que nunca saem verdadeiramente dos corações dos seus pais. E se é assim no coração dos pais da terra, muito mais o é no coração do Pai do Céu - n'ELE nunca deixa de caber um filho. São nove irmãos e uma mãe de alguma idade.
Foram buscá-la ao Instituto de Medicina Legal logo que souberam que tinha morrido e levaram-na de volta à terra donde nasceu, enterraram-na com muita dignidade, e foi de lá que partiu para a sua definitiva morada. EM PAZ.Vai-nos custar esquecê-la... aquele jeito atolambado de ser, de se rir, aqueles passos gigantescos capazes de ultrapassar o tempo, aquele sorriso malandro e terno, os abaços sem fim... e, um segredo: a boneca...
Um dia contou-nos que foi mãe há perto de 7 anos. Entregou a filha ao médico que a assistiu no parto quando este lhe mostrou a evidência - que ela não teria nunca capacidades de educar uma criança no coreto do Jardim da Cordoaria. E era com uma boneca, a que vivia agarrada toda a noite, que ela compensava a dor e as saudades que tinha da Sofia.
A Cuca andou como louca de um lado para o outro nos sítios que sabemos terem sido os últimos momentos dela, à procura da boneca para hoje lha entregar. Em vão. Mas não importa porque agora, do Céu onde andará de um lado para o outro aos encontrões a tudo e a todos, ela pode olhar e gozar bem de perto a sua menina.Descansa em paz, Inês!"
(Texto da Teresa Olazabal)
Da minha parte quero-te dizer que não sabia nem imaginava que no passado dia 14, na Trindade, te estavas a despedir quando, à socapa, me vieste dar "aquele" abraço e me pespegaste dois sonoros beijos na face.
Ao pensar nisso sinto como que uma dívida para contigo: a de nunca te esquecer, e, especialmente, não deixar de rezar por ti. É o que vou procurar fazer. Que o que te faltou em vida em comodidades, atenção e carinho, te sobeje agora no Céu em Graça e Felicidade Eterna. E lembra-te também sempre de nós junto do ETERNO DEUS!

PNAM

Carlos

terça-feira, 22 de dezembro de 2009


"...A arma dos fortes foi destruida e os fracos revestidos de força.Os que viviam na abundancia andam em busca de pão e os que tinham fome foram saciados..."
(Do Salmo da Missa de hoje, 1Sm2, 1.4-5.6-7)
"A "nossa" Inês foi ontem para o Céu.
Dormindo na rua durante 25 anos, foi recolhida e reabilitada pelo nosso grupo.
Não sabia o que era uma cama.
Mas teve uma recaída há 15 dias.
Voltou para a rua e para o inferno da vida anterior.
Presa durante a noite, morreu não sabemos porquê.
No Ofertório da Missa de Natal fez questão de levar a "caixa dos sonhos". E fê-lo com uma convicção e uma dignidade total.
Agarrada com unhas e dentes à caixa, entregou no altar os seus sonhos: "- o de um dia poder viver dignamente: com emprego, casa e familia; - o de um dia poder ser olhada com respeito por todas as pessoas; - o de um dia poder ser livre, sem dependencias e sem precisar de estender a mão.

Como dizia há pouco uma amiga, agora vai realizá-los todos. Porque na verdade não era a "nossa" Inês mas sim a Inês "de Jesus" porque "a mais pequenina dos pequeninos" de tão mal amada, de tão maltratada, de tão despezada...

Inconsoláveis, acreditamos nas palavras deste Salmo:
"os que tinham fome foram saciados".
A Inês tinha uma fome insaciável de amor. E umas gargalhadas de menina. Abraçava toda a gente com a força de quem acredita que isso lhe minimizaria o sofrimento provocado pelas tantas feridas que tinha no coração e de que não se conseguia livrar...
"...Os fracos foram revestidos de força e os que tinham fome foram saciados...!"

(Teresa Olazabal)

Comentário:

Inês:
Quem disse que a Missa de Natal a 14 de Dezembro era prematura?
Pois foi a tua Missa de Natal!... Celebraste também este ano o teu Natal, o Natal de Jesus...
Tal como escreveu a amiga Teresa, abraçavas toda a gente, querias viver num momento o que não te era permitido usufruir ao longo da vida. Mas... naquele abraço que, por puro impulso teu, me vieste dar de surpresa na Igreja da Trindade, vejo agora o teu abraço de despedida!...
A vida foi muito madrasta para ti, mas que tudo quanto te deram em sofrimento te seja agora dado no Céu em recompensa por toda a eternidade!...
Elevamos ao Céu as nossas orações mas estou certo de que não precisarás delas, e, por isso te peço: Pede a Deus por nós!...
P.N.A.M.
Carlos

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Missa de Natal dos Sem-abrigo




"Mais do que comentários, deixo aqui os tres pontos altos da Missa:
Ofertório, Pai Nosso, Poema da Margarida
O OFERTÓRIO
Foram oferecidos ao Senhor presentes - dos Amigos da Rua e do nosso grupo - que eram mostrados ao povo de Deus ali reunido, enquanto a Joana lia pausadamente o sentido de cada entrega:
A Laura e o João, um casal da rua, aproximam-se do altar com uma caixa de cartão dobrada e um cobertor:
"Oferecemos-Te Senhor a nossa cama muitas vezes o único conforto na solidão e no frio das noites compridas de inverno. Tu, que também nasceste no desconforto da manjedoura, acolhe-nos e aquece os nossos corações com o Teu Amor".
A Sónia, mãe de três filhos, no desemprego, bem como o marido, aproxima-se do altar com um pão seco:
"Oferecemos-Te Senhor este pão, sinal da nossa carência e da nossa fome: fome de alimentos, fome de carinho, fome de companhia. Tu que mataste a fome aos famintos, sê o Pão, o alimento, e o amor das nossas vidas".
A Marta, do nosso grupo, aproxima-se do altar com um recipiente cheio de cacos, de várias cores:
Oferecemos-Te Senhor estes cacos, sinal das nossas vidas tantas vezes estragadas, fúteis, partidas e sem sentido. Dá-nos, Senhor, a Tua ajuda e refaz as nossas esperanças e alegrias tantas vezes quebradas e perdidas.
A Joana, do nosso grupo, aproxima-se do altar com um "saco-ternura":
Oferecemos-Te, Senhor, este saco de plástico a que chamamos "saco-ternura" onde todos os meses colocamos não só os alimentos para os Amigos da Rua, mas também o nosso amor, a nossa atenção, a nossa companhia e a nossa alegria em podermos partilhar com eles as nossas vidas. E nunca permitas que desanimemos de servir-Te nestes irmãos e irmãs.
A Inês, sem-abrigo, leva uma caixa "doirada" com tres papeis escritos:
Oferecemos-Te, Senhor, estes nossos sonhos: - de um dia podermos viver dignamente com emprego, casa e familia; - o de um dia podermos ser olhados com respeito por todas as pessoas; - o de um dia podermos ser livres, sem dependências e sem percisarmos que estender a mão para satisfazer as nossas necessidades essenciais. Senhor, alimenta e anima cada vez mais estes nossos sonhos.
A Rosa e o Armando, dois Amigos da Rua, aproximam-se do altar com as hóstias e as galhetas:
Oferecemos-Te, Senhor, o pão e o vinho que em breve se irão transformar em Jesus, o Alimento que vem do Céu. Com este pão e este vinho vão as nossas dores, trabalhos e solidões. Aceita-os, Senhor.
O PAI NOSSO

O Senhor Padre Fabião convidou-nos a dar as mãos de maneira a que não houvesse uma mão desgarrada, solta, sozinha. E a Igreja transformou-se como que por magia num imenso cordão que incluía o altar e ía até ao último banco. Pediu-nos um instante de silêncio que de tão calado pesou fundo nos corações e rezámos emocionadamente não só o Pai Nosso como as orações seguintes numa comunhão imensa, incrível.
O POEMA DA MARGARIDA:

O Poema da Margarida... é "simplesmente" este... que a Rosarinho nos fez chegar numa leitura feita directamente do coração:
"Irmão meu, filho do mesmo DeusQue nos criou num milagre de amorQuero hoje entregar-lhe as tuas mágoasEstar contigo, firme, a implorar com fervor:Que me livre do egoísmo que me cega,Das comodidades que tenho sem merecer,De não te dar a mão, peregrino das ruas,De não ser uma esperança para o teu viver.Quero ajudar-te , mas…sozinha não consigoDar-te pão, carinho, dar-te abrigo,Ser luz na tua noite, maná das tuas fomesQue por tantas que são, nem sei delas os nomes…Irmão meu, alegra-te, há ALGUÉM poderosoQue o nosso impossível pode realizarTe olha e te ampara com amor de PaiE, por amor nasceu para nos salvar.O Menino do Presépio é o mesmo DeusQue continua hoje a olhar-te com amorIrmão meu, testemunha de dolorosas horas,De noites gélidas, sem pão e sem calor.Levanta-te do chão e olha o Céu aberto!Olha Jesus a dar-te a mão e num abraçoElevar-te da terra ao infinito espaço!Para te fazer sentir toda a consolação,Toda a misericórdia, toda a redençãoO seu imenso amor, o seu total perdãoSua entrega total, sem nenhuma condição.Dá-lhe a tua mão irmão e sente o seu abraço,Agarra-a com força, e vais ver que és capazDe mudar pouco a pouco a tua vida,Sentir no coração o bálsamo da Sua Paz."
Margarida Martins Alves, Natal 2009
Depois, "O SOCIAL" cá fóra:
"Sacos-ternura"; presentes para homens, senhoras e crianças; perú "acompanhado"; bolo rei, chocolate quente, sumos, café e Vinho do Porto. Para além da generosidade de todos, não poderia deixar de agradecer à Zé Pinho que forneceu o perú e ao Luis Vieira de Castro que ofereceu o Bolo Rei.
O Largo da Trindade era um imenso sorriso... Os olhares eram estrelas cheias de Luz... As palavras que mais nos chegavam era um "obrigada, e que o Senhor vos acrescente".
É pois com estas mesmas palavras que termino esta "notícia":
"OBRIGADA, E QUE O SENHOR VOS ACRESCENTE!"
AMEN - ALELUIA"

(Relatado por Teresa Olazabal)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O acto e a intenção

Há uns tempos que, fruto de meditação e da observação de procedimentos, congeminei escrever sobre este assunto. Não é matéria nova, longe disso, mas, às vezes, certas atitudes podem gerar equívocos se não estivermos sabiamente avisados, e se não tivermos o suficiente discernimento, e é sempre bom saber separar as águas.
Este tema tem um duplo interesse: material e moral.
Na ordem material, as leis das nações, prevendo a ocorrência de situações gravemente condenáveis, sujeitam a punição dos comportamentos humanos à verificação do facto (o "acto") e do intuito (o "animus"). Daí o fazer-se depender de procedimento "doloso" a possibilidade de punição de certos comportamentos tipificados como crime ou faltas no âmbito administrativo sancionadas de outra forma. Só em casos especiais previamente identificados se poderá punir por simples negligência (quando se atribui ao sujeito um especial dever de cuidado).
Por isso, no âmbito civil, concorrem para a punição dos comportamentos individuais o acto e a intenção.
Também segundo a Lei de Deus, que é a que verdadeiramente comanda o Homem no seu todo, por maioria de razão, se exige que, para existir comportamento punível na ordem espiritual haja perfeito concurso desses dois elementos: do acto e da intenção.
Reza o Catecismo da Igreja Católica que, para que se verifique falta grave a qualquer dos preceitos divinos, é indispensável que estejam reunidos quatro requisitos: ser matéria grave, haver pleno conhecimento, agir com intenção e a prática do acto.
Do Catecismo da Igreja Católica:
"§1858 - A matéria grave é precisada pelos Dez mandamentos".
"§1859 - O pecado mortal requer pleno conhecimento e pleno consentimento (que abrange a intenção). Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato, de sua oposição à lei de Deus. Envolve também um consentimento suficientemente deliberado para ser uma escolha pessoal. A ignorância afetada e o endurecimento do coração não diminuem, antes aumentam, o carácter voluntário do pecado."
Mas embora todos os actos humanos presuponham a existência de uma intenção, poucos são os que estão sujeitos a sancionamento.
O mesmo não acontece no plano espiritual pois todos, mas mesmo TODOS os nossos actos estão naturalmente submetidos à Justiça Divina, que um dia será exercida sobre nós.
É esta a matéria que nos interessa para sabermos qual o procedimento que agrada a Deus, e qual o julgamento que Deus fará dos nossos actos.
Os Evangelhos estão cheios de exemplos de procedimentos em que a intenção e o acto se não adequam. Seria exaustivo enumerá-los todos, mas poderemos, quase que aleatoriamente, indicar alguns mais representativos.
Abrangendo, como que em definição, a oposição entre o acto e a intenção, S. Mateus relata as palavras de Jesus em 15,8: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim." Idem S. Marcos, 7, 6.
Mas uma das descrições que melhor retrata a oposição e a adequação entre a intenção e o acto é a constante em Mt. 21, 28-30 sobre o procedimento dos dois filhos convidados para ir trabalhar na vinha. "Qual dos dois fez a vontade do Pai?" - perguntou Jesus.
E em S. Marcos, 2, 23-27, surge com clareza a razão de não ser condenável o facto de os discípulos se terem servido das espigas ao Sábado, e de David ter distribuído os pães da proposição. A intenção dos primeiros não era a de desprezar a observação do Sábado nem do segundo as leis do Templo.
E como julgar à luz dos procedimentos dos homens a expulsão dos vendilhões do Templo? (S. Marcos, 11, 15-18.). A motivação está na afirmação de que "A Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos", "mas vós fizestes dela um covil de ladrões.". A desordem ocasionada aparece justificada pelo fim, que lhe é superior: preservar a casa da oração.
Contudo, uma das passagens em que a intenção se mostra com mais força, é em S. Marcos, 13, 41-44, relativamente ao óbolo da viúva pobre. As duas pequenas moedas têm mais peso na apreciação divina que as chorudas esmolas dos ricos, porque a intenção da viúva foi dar tudo quanto tinha.
(A continuar)

Quem conduz este combóio é o meu Pai!



ERA UMA VEZ UM RAPAZINHO DE APROXIMADAMENTE 5 ANOS, QUE CORRIA DUM LADO PARA O OUTRO NUM COMBOIO QUE CIRCULAVA RAPIDAMENTE ENTRE O PORTO E LISBOA. UM SENHOR, IMPRESSIONADO COM O QUE LHE PODIA ACONTECER NAS CURVAS, TRAVAGENS E ACELERADELAS DO ANDAMENTO DO COMBOIO, CHAMOU-O E DISSE-LHE:
"- OLHA, MEU MENINO, TENS QUE TER MUITO CUIDADO PORQUE PODES-TE MAGOAR! MAIS VALIA FICARES SENTADO EM VEZ DE ANDARES NESSAS CORRERIAS, SENÃO AINDA TE MAGOAS!"
"- NÃO, NÃO! NÃO ME MAGOO NÃO!"
"- E COMO SABES QUE NÃO TE MAGOAS?"
"- É QUE QUEM VAI A CONDUZIR ESTE COMBOIO É O MEU PAI!"
"QUEM VAI A CONDUZIR ESTE COMBOIO É OMEU PAI!"
Toda a manhã choveu torrencialmente e anunciavam chuva para a noite. De Coimbra recebemos uma mensagem preocupante: a pessoa que trazia os "mimos" que compunham aquele habitual GRANDE cabaz não aparecia, não estava contactável, não se se sabia se as coisas iriam chegar... A história - verdadeira - do menino do comboio que me tinha sido contada na véspera não me largava: "quem vai a conduzir este comboio é o meu Pai!"...
A aparelhagem de som que tínhamos tido a necessidade de arranjar à ultima da hora porque a outra não estava a resultar e era preciso que a oração fosse ouvida por todos e também era preciso dar mais "voz" às 3 violas que agora fazem parte do côro, este novo côro que se "vira e revira" para dar mais força à oração, mostrava-se avessa a dar o som certo, e eu pensava: "quem vai a conduzir este comboio é o meu Pai!"
Recebi uma mensagem a prevenir que a "x" estava bêbada e ía estragar a noite e eu teimava em acreditar: "quem vai a conduzir este comboio é o meu Pai"...
Acabada a oração com o tema: "Preparação para o Nascimento", que foi encerrada por uma música cheia de força e de alegria, uma multidão esfomeada cercou-nos ansiosa. Mas as travessas servidas à volta por amigos cheios de alegria e amor estavam repletas e chegou para todos. As caras foram-se alegrando, e apesar de algumas cenas de violência (que infelizmente vão sendo cada vez mais comuns) a noite acabou em paz. O ar estava morno, a chuva foi chover para outra cidade, e a "x" despediu-se de nós com um lindo fado...
Não há dúvida de que ***QUEM VAI A CONDUZIR ESTE COMBOIO É O MEU PAI***

Relato da noite da última Quarta-Feira na Trindade, de Teresa Olazabal

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Experiências da rua

Por onde começar?
Decidimos fazer um relato mais alargado recuando ao mês anterior. É que a acção não é instantânea mas se alonga no tempo, por dias, semanas, meses... e, às vezes, até anos!
A persistência é um dom a não esquecer. Só com Fé e teimosia se conseguem mover montanhas. Ainda que sejam as montanhas artificialmente criadas pelo próprio Homem em torno de si próprio, ou em si mesmo.
No mês transacto continuámos o acompanhamento seleccionado de alguns amigos na tentativa de os levar a mudar o rumo das suas vidas. Privilegiámos um casal novo, na casa dos trinta. Fomos ao seu encontro no fim do mês e tivemos a grata surpresa de sermos por eles recebidos com alegria mesmo esfusiante, desejosos que estavam de nos transmitir a certeza de que estavam mesmo, não decididos, mas A MUDAR!...
Apresentaram-nos os responsáveis da associação que os acompanha com quem pudemos conversar, e certificar-nos de que estavam no rumo certo.
Anteriormente tinham-nos apresentado um pedido simples: eram casados pela Igreja e queriam que todos o soubessem; para isso gostavam de ter alianças mas alianças de verdade, ainda que fossem simples alianças de latão!
Registámos o pedido, pusemo-nos em campo, descobrimos a Paróquia onde tinham casado, obtivemos a cópia do Assento de Casamento, e encomendámos umas alianças de prata dourada gravadas com a data e o nome de cada um.
O aniversário era a 31 de Outubro. Nesse dia, à noite, fizemos-lhes a surpresa: oferecemos-lhes as alianças, um farnel adequado, e o Assento de Casamento! Quando lho demos, disse a senhora:
- Ai!... Era mesmo isso que lhes íamos pedir!
Não foi necessário pedir. Adivinhámos o desejo e foi com enorme gosto que lhes demos essa alegria!
A saída de Quarta-Feira teve de ser adiada para Quinta, ontem, por causa dos festejos do S. Martinho, nosso Padroeiro.
Feitas algumas compras para a distribuição da noite, empurrando o carrinho quem me aparece à frente? Ela mesma em pessoa, fora do círculo que lhe era habitual, sozinha! Ficámos a cavaquear durante uma boa meia-hora sobre o tratamento a que se submeteram, sobre a sua decisão, sobre os motivos porque os tratamentos anteriores não tinham resultado, etc., etc., etc.
- Sabe?, não sei porquê gosto mesmo de conversar consigo... As outras pessoas... não sei, não é a mesma coisa! Tem um modo de conversar diferente...
Rservei duas medalhas Milagrosos para lhes entregar à noite, mas não apareceram. Nessa tarde tínha-me dito:
- Sabe? às vezes até já não vamos aos carros; não nos sentimos bem e preferimos ficar no nosso quartinho.
Devem, por isso, ter ficado no seu quartinho. É preciso rezar por eles, empurrá-los com a Graça de Deus!
De resto a noite, com 4 na equipa, foi um pouco diferente. Íamos preparados com 40 sacos para o Aleixo, e mais cerca de 60 para a cidade, e fruta, leite com chocolate e sandes avulso.
À última hora, porque eram ainda 21,30 horas, pensámos alterar a volta começando pelo Aleixo. Deste modo tínhamos a certeza de que todos quantos nos procurassem receberiam o seu quinhão. Só que os sacos a eles destinados já estavam acondicionados no fundo da bagageira. Mas não era impedimento: poderiam tirar-se por dentro, rebatendo o banco.
A solução não demonstrou ser a melhor porque a nossa acompanhante de serviço, que tinha trazido algumas roupas, se viu atrapalhada querendo entregar uma e outra coisa! A aglomeração era grande, com fome e no stress habitual quase que exigiam que lhes dessem os sacos que estavam ali mesmo à mostra, mas que não eram tão completos como os que lhes estavam reservados. Entre sacos, roupa e o sumo, que ia sendo distribuído à medida que chegavam, ultrapassou-se a balbúrdia que não permitiu nenhuma aproximação individual.
Não pôde aqui ser semeada a Palavra que saíra na nossa oração: 1ª. Coríntios, 1, 23 - Respeito pelos outros.
Sem semearmos nos seus corações, retivemos, no entanto, o recado: "quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória da Deus.".
E para maior glória e honra de Deus ali estávamos, cientes de que, por nós, nada conseguimos resolver, e, por isso, nos entregamos e confiamos em Deus que, ELE sim, tudo pode.
Indo à cidade, andámos positivamente a tropeçar em ajudas: o Colégio do Rosário, os Samaritanos - ambos habituais - e mais três ou quatro grupos novos de que não conhecemos o nome nem a história. A Caridade não tem dono, é certo, mas viemos para casa a pensar se não será altura de dar lugar aos que acabam de chegar, possivelmente com mais meios e capacidade, e de optar por outro tipo de abordagem.
"Tudo é permitido mas nem tudo é conveniente. Ninguém procure o seu próprio interesse mas o dos outros." - dizia a leitura. E qual é o interesse dos outros neste caso?
"Fazei como eu, que me esforço para agradar a todos em tudo, ... a fim de que eles sejam salvos."
Terminámos a nossa noite agradecendo e pedindo o devido discernimento para que, entre o que é permitido descubramos o que é também conveniente na abordagem dos carenciados de quem nos aproximamos.
A Paz de Deus fique nos corações de todos quantos lerem estes curtos relatos, que estão a ter leitores de norte a sul do Brasil, na Espanha, Holanda, em Sacramento dos Estados Unidos da América do Norte, e, claro, em Portugal. Que a semente que queremos deixar no coração de quem encontrarmos no nosso caminho germine e cresça também nos corações dos nossos leitores, a quem saudamos na fraternidade de Jesus.
Avé Maria!
Novembro de 2009
C.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Outra saída - Outubro 2009

Foi no dia 8 que, por troca e impossibilidade de o fazer na Quarta-Feira, saímos à rua este mês. Isso trouxe-nos alguma complicação porque nem todos ficaram avisados como era conveniente e uma amiga - a M. Elvira - surpreendeu-me na noite de Quarta- Feira com uma chamada em que perguntava onde estávamos e se não íamos à rua naquele dia. Percebi a sua confusão e desilusão porque estava "lá" com os seus mimos, sozinha!
- Preparei estas coisas para eles e não as levo para casa! Se não vêm vou eu levá-las onde puder.
E foi assim que a M. Elvira saíu, acompanhada do marido, pelas ruas do Porto em início antecipado da saída do dia seguinte!...
Acautelada, lá foi informando que, embora sozinha, era a nossa representante naquela noite! Entregou tudo na Rua Júlio Dinis.
No dia seguinte faltou-nos o contributo da Nobreza, que já tinha destino para as suas sobras do dia, e a companhia da M. Elvira, de quem já tínhamos saudades, e nos fazia falta.
Mas, mesmo com essas limitações tudo acabou por correr bem. Frustrada no seu desejo de entregar no Aleixo as descomunais sandes de broa recheada com enchidos preparadas com esmero e carinho, a M. de Lurdes viu ir parar o resultado de todo o seu trabalho às mãos dos que foram aparecendo na Câmara, na Batalha, no Carregal, no H. de Stº. António...
Para sua consolação ainda fomos ao Aleixo com meia dúzia das suas sandes. Por ironia, bastaram! Foram cinco ou seis os que apareceram.
Foi uma noite de encontros. Apareceram muitos de quem não tínhamos notícia e que prourávamos: O Fernando (da Avenida), que fomos encontrar aboletado debaixo das escadas que dão acesso aos sanitários de S. Bento, o António (que já está outra vez num quartinho na R. do Rosário, e que apareceu limpo e asseado), o Francisco (que de alegre até tropeçava nas palavras e nos deu dois fortes abraços).
Junto ao Stº. António reapareceu o Amadeu. Ao lado sussurrou outro:
- Foi meu companheiro na prisão. Acabou de sair da prisão.
- ?!...
- Estive 13 anos em Vale de Judeus. Não nos dão trabalho, temos de nos safar!
Perante essa confissão não provocada, optei por lhe dar um conselho:
- Antes de fazer qualquer coisa pare e pense se isso irá prejudicar alguém. Quando abdicamos de alguma coisa em favor dos outros sentimo-nos mais felizes do que se satisfizermos os nossos desejos.
Lá seguiram ambos em direcção indefinida, na rua e na vida. Tentando safar-se!

Casalinho

Foi no dia 28 de Outubro. À hora habitual reuniaram-se muitos apoiantes dos sem-abrigo da cidade do Porto na escadaria da igreja da SSma. Trindade, em oração com os seus amigos da rua. Numa mistura concertada ao longo da extensa escadaria rezou-se, cantou-se, ouviu-se. Ordeiramente, setados, todos receberam o lanche que lhes era destinado, a que seguiu a partilha de sandes, acepipes, bolos...
Nessa altura fui abordado e chamado à parte pela Sofia que, meio intimidada com o que pretendia expor, começou:
- Sabe... eu e o meu marido amamo-nos muito. Já iniciámos o processo para a desintoxicação e já estamos na metadona. Mas há uma coisa que nos faz muita falta. Em tempos, numa hora má, de desespero, vimo-nos obrigados a vender as nossas alianças... sabe?, a necessidade foi mais forte... Agora andamos com estas que o meu marido arranjou mas não são dignas - e mostrou umas engendradas a partir de fio de arame preto! Nós gostaríamos que as pessoas soubessem que somos casados mesmo. Não nos importamos que sejam de prata ou até de latão! Vamos fazer anos de casados e umas alianças a sério é do que precisávamos.
Ambos com formação superior, tiveram vida digna, emprego, casa, carro. Agora estão reduzidos à sobrevivência nas condições a que a droga os submeteu. Nossos conhecidos de vários encontros anteriores, com eles estabelecemos uma especial relação e sentimos que se sentem amparados pela atenção que lhes dedicamos. Variadas vezes insistimos para que se decidissem a iniciar a reabilitação e respondiam-nos sistematicamente que sim mas ambos em conjunto. Não admitiam ser separados. Por isso rejeitavam apoios das famílias que pretendiam separá-los para esse efeito. Temendo isso preferem manter-se entregues a si próprios, à mercê da caridade e da (pouca) sorte, sem eido onde viver.
- Lá no sítio onde pernoitamos a Sofia é a única mulher mas todos nos respeitam porque sabem que somos um casal.
Tomámos conta dos desejos da S. e do F.. Fazem cinco anos de casados no próximo dia 31 deste mês e vamos, com o contributo de quem quiser, tentar cumprir o seu desejo na reunião que terá lugar no mesmo local na noite do próximo dia 28. Será um momento lindo que lhes trará muita alegria e os incentivará a recuperar a alegria e a Esperança se não perdidas, muito abaladas.
E vamos rezar para que a sua recuperação seja efectiva.
Carlos

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Setembro 2009

Vindimas



Este ano o Verão tem-se mantido connosco. Os dias continuam com temperaturas bastante acima do que é costume nesta época. É tempo de vindimas. Na rua ainda se não sentiram os rigores da aproximação do frio, ainda se não reclama roupa de agasalho. Por isso não insistimos em levar roupa a não ser para uma necessidade evidente.

Preparámos o costume, insistindo nas sandes, no sumo natural a copo, na fruta e leite com chocolate. O resto que nos chega das confeitarias serve para compor a ementa.

Há gente ausente, há gente com problemas de vária ordem que não pode vir. Mas há sempre alguém com possibilidade de manter viva a chama da caridade e que aparece, que assegura a recolha dos donativos em géneros e prepara o seu contributo.

Éramos três mas chegámos para tudo. Não preparámos antecipadamente os sacos decidindo servir um-a-um à medida que fossem chegando. Utilizámos até um sistema novo: entregávamos a cada um que ia chegando um saco vazio que íamos enchendo enquanto ele o segurava. Entretanto ia sendo servido o sumo, íamos falando...

O primeiro que nos apareceu era um Russo, o Victor, que nem esperou que saíssemos do local de partida. Mas esperou que terminássemos a oração e a leitura de 1ª. Coríntios, 15, 1-11.

Depois, em J. Dinis, a Tatiana, a Diana e a Liana pediram-nos cadernos para a escola. Levaram sacos, levaram beijinhos e conselhos.

Na Câmara, reencontrámos a Sofia que nos disse que ainda não tinha contactado os Médicos do Mundo. Na vez anterior tínha-nos prometido que o faria para iniciar com o marido o processo de desintoxicação. Temos de ver se encontramos solução para eles.

Morais..., Francisco. Tem aparecido com bem melhor aspecto. Remoçou. Cabelo e barba aparados.

- Quem lhe cortou a barba e o cabelo? - perguntei.

- Fui eu!

- Como?

- Pus um espelho assim, e cortei!

Estava bem aparado. Gostámos do seu aspecto e gostaríamos que se mantivesse, pelo menos, sempre assim, se não for possível mudar para melhor.

Ficou a promessa da amiga Maria de Lurdes de lhe trazer arroz quentinho...

Descíamos a Avenida quando deparámos com um vulto estirado no chão da placa central. Demos a volta, parámos o carro e fomos ver: ergueu-se com muita dificuldade, cambaleando. O peso do álcool era demais para se poder suster. Barba grisalha, cabelo branco, parecia ter setenta anos. Mas não, disse-nos ter vindo de Viana e ter apenas 47 anos!... Encostado ao Rendimento de Reinserção, nega-se a trabalhar, a colaborar com a família, arruma carros e, em 20 minutos - disse-nos ele - fez mais de três Euros. Três Euros que tiveram como destino uns tantos copos...

Falámos longamente. Com roupa em Gaia estava ali em mangas de camisa, ao relento, porque não tinha ido a horas buscar as suas coisas. Dormir, dormiria ali, não sabendo onde seria o ali...

Ainda pusemos a hipótese de contactar o 112 mas, porque o seu estado não nos pareceu justificativo decidimos não o fazer.

Deixámo-lo melhor acomodado num banco do jardim, copo de sumo na mão para anular parte do seu mal, farnel ao lado para matar a fome, e seguimos. Batalha. Mais gente, mais fome, mais miséria.
Ultrapassámos o Carregal e seguimos directamente ao Aleixo. Apenas quatro ou cinco utentes. Ao fundo o carro da Polícia. Pois é: segurança e vigilância permanente!

Sabendo que o centro das operações fora desviado para Pinheiro Torres para lá seguimos. A romaria estava ali! O corropio parecia não mais terminar. Mas terminou com o último saco e com o último copo de sumo! Nem mais!

A nossa oração foi rezada desta vez à porta da amiga M. Lurdes, em Leça. Víramos muita miséria moral, física e material que nos incomodaram deveras. A sensação de impotência para resolver os problemas de cada um com que deparáramos não obstava a que sentíssemos uma satisfação especial, talvez por termos a noção do dever cumprido na medida das nossas possibilidades. Tudo isso agradecemos a Deus, e agradecemos a fartura de que gozamos, a saúde e a família que temos. E pedimos por todos eles, pelos seus anseios e necessidades.

Ao entrar em casa deparei com um desdobrável de campanha política intitulado: "Porto: Um compromisso".

Li a correr e deparei com um capítulo dedicado à segurança onde está escrito:

"Como estaria o Porto, se, em 2002, não tivéssemos invertido a política que estava a ser seguida ou se agora cedêssemos às pressões da oposição para não demolir o bairro do Aleixo?"

E, mais adiante:

"...um combate sério à toxicodependência são exemplos concretos que o País nunca pode esquecer."

Acabavamos de chegar da rua, do Aleixo, do Pinheiro Torres...

Enquanto o Bairro do Aleixo estava deserto por ter a polícia à porta, o Bairro Pinheiro Torres fervilhava de decrépitos frequentadores dos obscuros recantos onde a droga é oferecida e consumida a céu aberto!...

Duas perguntas se colocam ao autarca da nossa cidade:

Quando decide também demolir o Pinheiro Torres, o Bairro da Sé, o João de Deus?
E será que é a mudar de sítio que se combate a toxicodependência?

Tenho pena de quem lê tal propaganda sem ter possibilidade de aferir da sua verdade!

Que Deus nos guarde, guarde o Porto, e guarde Portugal!


C.






quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Em tempo de férias

Pois...
É de facto tempo de férias para muitos mas não para todos. Fomos ao seu encontro como de costume, ajoujados com tudo o que preparámos e conseguimos. O carro abarrotava, graças a Deus!
Quatro mensageiros, tentámos levar à rua mais uma vez uma mensagem de bem, de paz e de amor.
Em Júlio Dinis tivemos a surpresa de encontrar a Chantal em plena actividade. Deixara-nos há uns tempos e não mais soubemos dela. A semente germinou no seu coração e continua, ela, a irmã, a mãe e uma amiga, todas as Quartas-feiras a repartir o seu pão naquela rua. Foi uma alegria o reencontro. Quem não gostou foram alguns dos destinatários ao verem que não parávamos ali. Não se justificava depois de nos termos certificado que a Chantal quase que repetia o que levávamos. Por isso deixámos-lhe um garrafão de sumo e copos para completar o seu menú, e seguimos.
E seguimos pela cidade que àquela hora estava ainda cheia de transeuntes em férias, nacionais e estrangeiros.
Câmara, Francisco (voltava a estar receptivo e contente...), Batalha...
Decidimos seguir dali ao Aleixo, mas foi uma desilusão porque a polícia montou guarda àquele local e "eles" desandaram. Foi a custo que encontrámos destinatários para grande parte da merenda.
Voltámos então às ruas, entregando aos que íamos encontrando, descemos ao Carregal, à Urgência, a Júlio Dinis...
Não encontrámos destino para algum pão e para um garrafão de sumo quase inteirinho!
No final concordámos em que não devemos traçar muitos planos porque, se estamos ao serviço de Deus, temos de confiar unicamente n'Ele. Quando não confiamos, como foi o caso, os nossos planos podem sair furados... e saíram!
Ficou-nos a lição.
Rezámos por aquele casal, jovem e crente, que encontrámos e a quem demos o contacto dos Médicos do Mundo para tratarem da sua desintoxicação. Cinco anos de casamento religioso, sem filhos, a precisar urgentemente de readquirir novo rumo.
E rezámos por todos os outros que vieram ao nosso encontro, Cristos a precisar de Cristo.
Era bom que a droga e o álcool também dessem férias a todos. E, se possível, umas férias grandes... mesmo muito grandes!...
Andámos na rua, nas ruas do Porto, em noite cálida, encontrámos muitos necessitados, e nem um só momento nos lembrámos da tal gripe A...
Saúde e Paz a todos.
C.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Novamente na rua

As baixas continuam pelos mais diversos motivos.
Quem vai prepara e reúne o que pode para que não falte. Mas... no final, há sempre alguém que não recebe a sua parte. Contingências!
A habitual pontualidade na partida foi quebrada pelo atraso de uma hora na chegada do "cabaz" de Leça. Nem tudo corre sempre como esperamos mas, como o programa não é nosso, confiamos...

Apesar desse atraso quase que nem se deu por ele no percurso a não ser pela ausência de utentes na Câmara e na Batalha. Mas os restantes que encontrámos em Júlio Dinis, no Carregal e no Aleixo compensaram bem a diferença.

Na Boavista e em Júlio Dinis havia fome. No Carregal também, mas os estômagos já estavam aconchegados pela visita dos Samaritanos e pela sopa quentinha do amigo M. Rocha, que não se cansa de "Espalhar Afectos".

Porém, a história da noite foi vivida ao lado da Trindade. Tínhamos deixado para trás o Francisco - imerso desta vez em não sei que torpor que o fazia hibernar tombado sobre a sua enxerga, e de que não saíu mau grado as tentativas que fizemos - e passávamos junto ao shopping que ali fica quando nos apercebemos de um ajuntamento num daqueles portais. Voltámos atrás, parámos e fomos ver: eram quatro em torno de um casal que se estirava num cobertor; ele de perna envolta numa extensa ligadura, descalço, e ela ao lado montando guarda. Miséria guardada pela miséria, numa leitura apressada de leigo; mas solidariedade humana numa leitura mais atenta.

Face à limitação física não esperámos que viessem ao carro e, solícitos, quisemos servi-los do que levávamos. Começámos pelos que estavam ao lado. O doente, Manuel F., com quem entretanto já tínhamos estabelecido diálogo, não nos dava atenção nenhuma e, descalço, apoiado no que restava da bengala de um guarda-chuva desfeito, pôs-se em pé, iniciou uma caminhada em direcção às escadas, insensível aos apelos dos seus amigos que não cessavam de o chamar. Atravessou depois o passeio, fez-se à rua, passou ao outro lado, e seguiu com dificuldade ao longo do Largo da Trindade. Finalmente estancou mesmo defronte da escadaria da igreja, benzeu-se calmamente, ajoelhou no primeiro degrau, e, de mãos postas começou a rezar. O quê não sabemos, mas rezava... Com igual calma e dificuldade regressou para junto de nós, comovido. Não inquirimos pormenores dos motivos do seu insólito e devoto procedimento, e foi entre lágrimas e uma oração conjuntamente rezada por si que nos disse:
- Amanhã vou ser operado à perna no Hospital de Santo António!
E lá nos contou a sua infelicidade. Rezámos com ele, prometemos mais oração encorajando-o com a protecção de Deus aos que n'Ele confiam!

Ficámos a pensar: nós que pensamos levar à rua um pouco de Fé e de oração acabávamos de receber uma lição de Fé e de oração! Era digna de um quadro a cena que presenciámos às 11 horas da noite. É cena que fica gravada e não mais esqueceremos...

Do M. F. só conseguimos saber depois que deu entrada no Hospital mas que não resistiu a sair de lá sem operação! Razões? As que regem esta gente que não aceita peias ao livre uso da sua liberdade mesmo com prejuízo dos valores que nós estabelecemos como prioritários. Para ele a saúde pode esperar, a liberdade é que não! Que importa que os ossos cicatrizem fora do sítio se continua a ser senhor da sua escolha?

Estranho mundo este dos nómadas das nossas cidades!

Temos rezado pelo M. F., para que regresse e se deixe tratar. E que se deixem tratar os que fazem da sua vida uma roda viva de vai-e-vem a caminho do Aleixo...

C.

domingo, 14 de junho de 2009

Na rua em Junho de 2009

Uma partida informática impediu a publicação oportuna da notícia da última saída, mas cá estamos novamente dando conta do que de mais relevante encontrámos.

Dia 10 foi dia de festa mas isso não se notou na rua. Já houve tempo em que todo o País se sentia em festa mas agora parece que tudo se resume apenas ao palco das comemorações. A miséria não se limita apenas à fome e à carência de habitação ou de habitação condigna, mas a que mais grassa por aí é a moral, e esta toca a todos, mesmo aos bem instalados na vida e, até, no poder.

Para nós era dia de saída, de ir mais uma vez ao encontro daqueles que já não vão em "políticas", e que só costumam saborear as festas dos outros, sejam as do S. João ou o as do futebol. Aproveitam de uma e de outra as migalhas que lhes vão chegando...

Para nós, as dificuldades começaram a surgir bem cedo: um, dois, três dos habituais companheiros estavam impedidos de poderem ir neste dia. Nada nos demove. Confiamos e Deus fará o resto.

Como habitualmente, cada qual preparou as suas coisas, mas não contámos desta vez com a preparação prévia dos sacos para o Aleixo, por isso, regressámos à primeira forma de ir andando e servindo... e não é que deu certinho?

Fizemos a nossa oração como de costume e lá seguimos. Os utentes depressa começaram a surgir mas, como vinham assim iam, a correr...

Desta vez encontrámos o Francisco conversador, ria por tudo e por nada. Quase que hilariante, não era o mesmo Francisco que se entretém sistematicamente a fazer quadradinhos atrás de quadradinhos numa repetição incrível de paciência e monotonia. Foi a primeira nota interessante da noite.

Mais adiante, o carrinho da Associação "Espalhar Afectos", com afectos distribuía a habitual sopa e não só. Coração grande e raro o deste amigo que, sozinho, todos os dias marca presença nas ruas do Porto para encher estômagos e aquecer corações.

Mas, a marca do dia, como quase sempre, ficou no Aleixo. Muitos vão e vêm e, entre eles há sempre alguém que pára! E pára o tempo de que precisa para fazer o que é raro neles: conversar!

Desta vez foi o J.C.: alto, bem constituído nos seus trinta e poucos anos, aproximou-se sorrateiramente de nós. Servimo-lo e quis saber quem éramos.

- Alguma religião? - perguntou.
- Sim!

E, sem esperar pela resposta, atirou logo:

- Não me digam que são católicos porque eu com os católicos não quero nada!... Fizeram muitas asneiras ao longo da história, como essa da Inquisição, por isso não quero nada com eles!

- Mas somos mesmo católicos!
- Bem... mas vocês ao menos, se estão aqui é porque não são como eles.

E lá continuámos a conversa sobre o desinteresse de discutir números de quem foi o pior ou o melhor num mundo em que o desacerto tocou a todos em várias épocas da História, em que os comportamentos foram influenciados pela mentalidade desses tempos e não pelos desta época, que também não é exemplo de dignidade de comportamento humano em muitos grupos e países.

- Onde está o Homem está a imperfeição, o erro, o desvio, independentemente da ideologia que anima o grupo ou organização!
- Lá isso é verdade...

E falámos sobre ele, a sua situação e o tempo passava... Largos minutos depois desabafa:

- Estava mesmo a precisar disto! Já nem sei há quantos anos não converso assim!... Mas sinto que me está a fazer mesmo muito bem!

E continuámos mais um pouco. Mas tínhamos que vir embora porque o dia seguinte era de trabalho para alguns. Antes de nos despedirmos pergunta se me pode dar o seu contacto.

- É que quero continuar a conversar consigo. Preciso e faz-me bem.

Deu-me o seu número de telefone e do telemóvel e despediu-se. Enquanto se afastava ia voltando a cabeça e acenando uma despedida como se o nosso fosse já um conhecimento velho, estimado, saudoso...

A nossa noite tinha chegado ao fim. Sentíamo-nos leves. Passámos aquela noite como que voando nas ruas da cidade, tocando aqui e ali, ajudando quem precisava, distribuindo calor e carinho. E esse calor e ternura que levámos estava também connosco, e fazia-nos voar por sobre a miséria com que deparámos e ver sair dela e de algumas das suas vítimas inusitados sentimentos de bem, de gratidão, de singela inocência...

C.







domingo, 31 de maio de 2009

Domingo de Pentecostes


Evangelho segundo São João, 20, 19-23

«Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós: recebei o Espírito Santo».

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes:

«A paz esteja convosco».

Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo:

«A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».

Visitação de Nossa Senhora



A Igreja celebra a festa da Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel, em Ain-Karin, na Judeia. Isabel estava grávida de São João Baptista, o precursor de Jesus. É o encontro de duas mulheres que celebram jubilosas a vinda de Jesus Salvador: o Reino de Deus, a Boa Nova, as promessas de Deus já estão cumpridas e continuam a cumprir-se no meio dos homens de boa vontade.
No seu evangelho, São Lucas afirma: naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: "Bendita sois vós, entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre!" (Lucas 1,39ss.).
É o milagre da vida que brota com força e poder e vence o mundo. É a força e o poder da Palavra de Deus que faz a Virgem conceber e aquela que era estéril dar à luz (Lucas 1,30ss.). É por isso que Maria, trazendo Jesus no seu seio, irrompe neste sublime canto de alegria e júbilo que é o "Magnificat" (Lucas 1,46-55).
Maria glorifica o Senhor que n’Ela actua


A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador.
Com estas palavras Maria reconhece, em primeiro lugar, os dons singulares que Lhe foram concedidos e enumera depois os benefícios universais com que Deus favorece continuamente o género humano.


Glorifica o Senhor a alma daquele que consagra todos os sentimentos da sua vida interior ao louvor e serviço de Deus e, pela observância dos mandamentos, mostra que está a pensar sempre no poder da majestade divina. Exulta em Deus, seu Salvador, o espírito daquele que se alegra apenas em meditar no seu Criador, de quem espera a salvação eterna.


Embora estas palavras se apliquem a todas as almas santas, adquirem contudo a sua ressonância mais perfeita ao serem proferidas pela bem-aventurada Mãe de Deus, que, por singular privilégio, amava com perfeito amor espiritual Aquele cuja concepção corporal no seu seio era a causa da sua alegria.


Com razão pôde Ela exultar, mais que todos os outros santos, em Jesus, seu Salvador, porque sabia que o eterno Autor da salvação havia de nascer da sua carne com nascimento temporal, e, sendo uma só e mesma pessoa, havia de ser ao mesmo tempo seu Filho e seu Senhor.


Porque fez em mim grandes coisas o Todo-poderoso, e santo é o seu nome. Maria nada atribui aos seus méritos, mas reconhece toda a sua grandeza como dom d’Aquele que, sendo por essência poderoso e grande, costuma transformar os seus fiéis, pequenos e fracos, em fortes e grandes.


Logo acrescentou: E santo é o seu nome, para fazer notar aos que a ouviam e mesmo para ensinar a quantos viessem a conhecer as suas palavras, que, pela fé em Deus e pela invocação do seu nome, também eles poderiam participar da santidade divina e da verdadeira salvação, segundo a palavra do Profeta: E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.


É precisamente o nome a que Maria se refere ao dizer: E o meu espírito exulta em Deus meu Salvador. Por isso se introduziu na liturgia da santa Igreja o costume, belo e salutar, de cantarem todos este hino de Maria na salmodia vespertina, para que o espírito dos fiéis, ao recordar assiduamente o mistério da Encarnação do Senhor, se entregue com generosidade ao serviço divino e, lembrando-se constantemente dos exemplos da Mãe de Deus, se confirme na verdadeira santidade.


E pareceu muito oportuno que isto se fizesse na hora de Vésperas, para que a nossa mente, fatigada e distraída ao longo do dia com pensamentos diversos, encontre o recolhimento e a paz de espírito ao aproximar-se o tempo de descanso.


domingo, 24 de maio de 2009

Mensagem de Bento XVI


Bento XVI alerta para vantagens
e perigos do mundo digital

Papa publicou Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais

Na Mensagem para o 43.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se assinala dia 24, o Papa Bento XVI enaltece a importância das redes digitais, mas lança também alguns alertas sobre os perigos do mundo virtual.

No documento, intitulado «Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade», Bento XVI defende que os novos instrumentos de comunicação não devem contribuir «para incrementar o desnível entre pobres e ricos».

As novas redes digitais potenciam a «solidariedade humana, a paz e a justiça, os direitos humanos e o respeito pela vida e o bem da criação», refere o Santo Padre, para quem as novas tecnologias abriram «a estrada para o diálogo entre pessoas de diferentes países, culturas e religiões».

Apesar de ter aberto este caminho, o ciberespaço não pode, segundo o Papa, «banalizar o conceito e a experiência da amizade». Neste sentido, o documento chama a atenção para o perigo de a ligação virtual ser obsessiva, levando a pessoa a isolar-se e a interromper a interacção social real.

«Seria triste se o nosso desejo de sustentar e desenvolver “online” as amizades fosse realizado à custa da nossa disponibilidade para a família, para os vizinhos e para aqueles que nos encontramos na realidade do dia-a-dia, no lugar de trabalho, na escola, nos tempos livres».

Quem opera ao nível da produção e difusão de conteúdos dos novos meios de comunicação social deve sentir-se obrigado a respeitar a dignidade e o valor da pessoa humana.

Na opinião de Bento XVI, «se as novas tecnologias devem servir o bem dos indivíduos e da sociedade, então aqueles que as usam devem evitar a partilha de palavras e imagens degradantes para o ser humano».

Nossa Senhora Auxiliadora



Auxiliadora,
Virgem Formosa,
dos pequeninos, Mãe dadivosa,
de mil tormentas entre o furor,
teus filhos salva, astro de amor.

O Arcanjo Gabriel ao levar a mensagem de Deus à Virgem Maria, apenas trocou um paraíso por outro. A alma de Maria era como um oceano de graça quase sem praias, sem horizontes, sem limites. A Virgem Maria é como um precioso diamante cravado na aliança entre Deus e os homens, anunciando as núpcias do céu com a terra.

Durante o diálogo da Anunciação do Anjo Gabriel com a Virgem Maria, um silêncio se fez no céu, a Trindade Santíssima com toda a corte celeste aguardava, ansiosa, a resposta da jovem Maria, e ao ouvirem o seu sim, trombetas anunciaram com grande júbilo da obediência e a vitória da mulher sobre a serpente. O Salvador estava para chegar; a humanidade ganhava uma poderosissima auxiliadora, a Virgem concebida sem pecado, a Arca da Nova Aliança, o Primeiro Sacrário de Jesus na terra.

A Auxiliadora

Os antigos romanos chamavam “Auxilia” às tropas aliadas que combatiam com as suas legiões. Assim o nome “Auxilia”, evoca lutas em campos de batalha, onde a vida se pode tornar heroísmo em defesa de um ideal.
A Igreja aqui na terra é também uma milícia; e os cristãos lutam pela defesa e pela propagação da fé. Nossa Senhora é o seu auxílio no combate e é terrivel como um exército em ordem de batalha.

No século XVI, foi ameaçador o domínio do Mediterrâneo pela força naval dos turcos. O Papa São Pio V conseguiu unir Espanha com Veneza, sob o comando de João da Áustria e, em 1571 no Estreito de Lepanto, destruíu-se totalmente a força naval da Turquia. Durante a batalha o Papa rezava, com toda a sua corte, o rosário de Nossa Senhora. Depois da vitória, o Papa São Pio V, mandou incluir na Ladainha Lauretana a invocação de Maria “Auxílio dos Cristãos”.
Napoleão Bonaparte deportou o Papa Pio VII de Roma, que ficou prisioneiro em França entre 1809-1814. Tendo experimentado o poderoso auxílio da Mãe de Deus, quando recuperou a liberdade, Pio VII decretou a celebração da festa com o título Auxílio dos Cristãos, no dia 24 de Maio do Ano Litúrgico.

O Papa Pio IX exaltou a figura de Maria quando promulgou o dogma da Imaculada Conceição(Ineffabilis Dei, 1854) com estas palavras: “Maria é fidelíssima auxiliadora e poderosíssima mediadora e reconciliadora de toda terra junto a seu Filho Unigénito”

A invocação “Auxílio dos Cristãos” é a forma pública e social da mediação que a Santíssima Virgem exerce não só a favor de pessoas, instituições e países, mas tambem para o bem de toda a Igreja Católica e do Santo Padre, o Papa, principalmente nos momentos mais trágicos da humanidade e nos períodos mais difíceis da Santa Igreja.

A Auxiliadora de Dom Bosco

São João Bosco, desde o colo materno, nutria pela Virgem Maria, uma devoção filial e de total confiança. Aos nove anos tem um sonho profético de sua missão, em que o próprio Cristo lhe diz: “Eu te darei a mestra, sob cuja doutrina podes tornar-te sábio, e sem a qual todo o saber torna-se estultice”.

São João Bosco colocou a invocação Auxilio dos Cristãos, sob o título de Nossa Senhora Auxiliadora, no centro da espiritualidade das suas congregações recém-fundadas. Dom Bosco, homem de sonhos e de uma visão de futuro sem par! Dom Bosco homem de oração e trabalho, incansável pela salvação de almas, pelo bem–estar e o crescimento integral dos seus jovens, religioso que acreditou na juventude e por ela gastou sua existência.

Dom Bosco nada atribuía a si mesmo e dizia sempre: “Foi Maria quem tudo fez!” O Papa Pio IX, em 1868, escrevia a Dom Bosco aquando a consagração do Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, exaltando o patrocínio de Maria sobre a Igreja e o Pontifície.

João XXIII recorria a “Maria Auxiliadora” e invocava-a no discurso inaugural do Concílio Ecuménico Vaticano II. O mesmo fez Paulo VI. A todos que recorriam a Dom Bosco nas suas dificuldades (...), recomendava a novena à Virgem Auxiliadora que constitia em três Pai-Nossos, três Ave-Marias, Três Glórias ao Pai, acrescentando a jaculatória: “Graças e louvores se dêem a todo momento, aos Santissímo e Divinissimo Sacramento", três Salve-Rainhas, acresentando a invocação: "Maria Auxiliadora dos Cristãos, rogai por nós", durante nove dias, e oferecer alguma colaboração para obras caritivas.”Na Basílica o maior monumento é a belíssima pintura sobre o altar-mor, com sete metros de altura por quatro de largura, do pintor Lorenzone, ladeada por uma bela moldura dourada. Nela a Virgem Auxiliadora é representada em toda a sua realeza ladeada pelos Apóstolos e Evagenlistas.
(...) Paz e Bem

«Pregai o Evangelho a toda a criatura»



Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos, 16, 15-20


Naquele tempo, Jesus apareceu aos onze Apóstolos e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome falarão novas línguas, se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados».


E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.

domingo, 17 de maio de 2009

Maio de 2009

Com Maria, na rua


Mês de Maio, mês de Maria.

É também mês de peregrinações. Por força de uma destas, a Fátima, a pé, tivemos de antecipar a nossa saída para dia 6, substituindo os voluntários da Associação Fas+.

À pressa, porque os dias anteriores tinham sido de especial azáfama, lá preparámos o necessário, como de costume. Éramos 5, e chegámos.

Ainda não tínhamos iniciado a volta e já o primeiro nos solicitava auxílio. Não fazia inicialmente parte do grupo dos necessitados mas o rumo que deu à vida também neles o incluiu. E lá está! Vem quase sempre no princípio.

Estranhámos não encontrar ninguém na Boavista. Mais tarde soubemos porquê: a noite de Queima atraiu os sem-abrigo à zona da Circunvalação ao chamariz da arrumação de viaturas. E isso manifestou-se em toda a cidade e, até, no Aleixo!
Descrever o que foi o roteiro seria uma simples crónica, mas não queremos limitar-nos a isso. A noite é rica por outros motivos: pelas vivências que nos traz ou que despoletamos naqueles a quem nos dirigimos. Pelos sentimentos que despertamos.
Há noites simples, quase que sem história, como foi a de Abril, em que os três que saímos cumprimos a missão sem alarde e sem factos dignos de especial registo.
Já nesta não aconteceu o mesmo. Não encontrámos o Fernando (da Praça). Onde parará?!... Mas reapareceu o outro Fernando, o artista das casinhas de cartão, e o Carlitos!... Recuperado, bem barbeado, surpreendeu-nos no Carregal a dar conta de que está ocupado e até tem intervido em acções de formação. Boa!... As boas notícias são de dar a conhecer. Nunca tudo está perdido. Há que manter a Esperança. Perdido está às vezes o passado, mas há sempre um futuro que pode depender de nós. Temos de o aproveitar!
Um grande e sentido abraço selou o reencontro. Ainda há uma hora tinha perguntado por ele aos Samaritanos...
Neste dia trazíamos por tema a leitura de Actos, 15, 7-12, em que Pedro diz que Deus o escolheu para levar aos pagãos o Evangelho para eles abraçarem a Fé. E, no Aleixo, tivémos ocasião de tomar o lugar de Pedro em franco diálogo com o Rui, ateu ou agnóstico, muito ocupado com todas as coisas menos com as de Deus e da sua alma. Descreveu-nos a sua iniciação nas drogas duras aos 16 anos, após demorada experiência com os charros, que eram o seu centro de interesse e da sua roda de amigos até àquela altura. Muito inteligente, durante o nosso curto diálogo desfez alguns mitos que lhe povoavam o espírito, ideias e frases feitas nunca antes discutidas e aceites como boas "porque sim", porque dá trabalho debruçarmo-nos sobre assuntos que não fazem parte do nosso quotidiano e "são uma maçada", "betices". Queria deixar "aquela vida", mas as diversas tentativas falhadas que já fez levam-no a desistir...
E ali estava ele, entretido com o pacotinho "milagroso" de coca e heroína que fazia saltitar entre os dedos enquanto a conversa se estendia...
Despediu-se, surpreso por ter conversado com "católicos" que dizia detestar, e, pior, de ter feito amizade com "eles" ao menos durante uns largos minutos daquela noite!
Rezámos por ele, pela sua incapacidade de mudar, e por quantos que, como ele, também anseiam por uma vida nova sem vislumbrarem uma saída.
A FÉ!... É a Fé que tem poder de os fazer mudar. Sem fé nada poderá mudar, com fé até montanhas poderão ser removidas... O que é indispensável é que se acredite mesmo no que nos parece ser impossível!
Terminou a nossa noite na rua. Mas continuou em cada um de nós no eco que nos deixou a história do Rui, a sua vida que nunca deixou de ser atribulada mau grado a grande capacidade de a ter feito diferente do que de facto é!

"Nossa Senhora lhes dê a mão!...".
Carlos

O Rei do reis


«Num momento de crescendo da conflitualidade social, a Igreja propõe-se trazer para a praça pública suplementos de Paz e razões fundamentadas de esperança. Sim, sou rei. Disse Jesus a Pilatos. Mas acrescentou, para que não restassem dúvidas de que a sua vinda ao mundo não lhe faria concorrência: o meu reino não é deste mundo!
Os cristãos de Lisboa são chamados a reflectir sobre a frase de Jesus esta semana: sim sou rei! E são aconselhados pela Conferência Episcopal a meditar sobre o significado mais profundo dessa realeza. Servem de pretexto os cinquenta anos do santuário do Cristo Rei.
Num mundo onde a laicidade mal entendida domina e o fenómeno religioso é empurrado para o reduto invisível das consciências, vale a pena pensar no que os Bispos designam como laicidade positiva capaz de retrazer, sem temores, o fenómeno religioso para o espaço público. Como bem repetia Tony Blair, há dias, em Portugal, “ a religião é uma força muito importante no mundo de hoje”.

Negar esta evidência é não compreender a humanidade e desconhecer o que ela implica de aspiração a uma felicidade absoluta a que a estrita dimensão terrena dificilmente é capaz de dar resposta. Num momento de crescendo da conflitualidade social, a Igreja propõe-se trazer para a praça pública suplementos de Paz e razões fundamentadas de esperança.

As imagens religiosas, sinais do divino na terra dos homens, servirão de elemento agregador e motivo de oração. E não deixarão de ser factor de escândalo de todos os que são incapazes de entender que a verdadeira liberdade passa por, abdicando dos favores e honrarias do tempo, só prestar vassalagem ao Rei dos reis».
Graça Franco (texto), Opinião RR
Singra13 (foto)