terça-feira, 14 de outubro de 2014

Apoio a Sem-abrigo: Sociedade de S. Vicente de Paulo

Vimos agora por à disposição de todos os organismos ligados a este movimento a nossa loja social, que se localiza na Rua e Santa Catarina, 769, Porto e funciona das 14H00 às 17H00, de segunda a sexta feira.
A loja social dispõe de todo o género de roupa, para ambos os sexos e para todas as idades, sendo oferecida gratuitamente a quem manifestar necessidade da mesma.
Pedia-lhe que divulgasse por todos os interessados, para que se sirvam...
Com os melhores cumprimentos
Manuel Carvas Guedes
Sociedade de São Vicente de Paulo

A experiência de Outubro

Parece repetitivo dizer o que se faz em cada Quarta-feira em que vamos à rua. Há coisas, sim, que se repetem: as da preparação e os gestos necessários à execução da tarefa que nos propusemos. Mas, mesmo aí, surgem diferenças: a disposição e a forma como as fazemos. O nosso intuito também se repete: o de ir às encruzilhadas dos caminhos... Às vezes quem faz a diferença também são as pessoas. E desta vez tivemos a graça de, à partida, termos tido a bênção dada pelo pároco, que participou na nossa curta oração.
Constituíamos um grupo de dezassete pessoas, em dois carros e uma carrinha.
Foi uma noite com pouca história, uma noite que antevimos chuvosa e difícil mas que se apresentou calma, de tempo e de ânimos.
Não demorámos muito no Aleixo, pois havia ali pouca gente. Já o Pinheiro Torres é agora um sugadouro de vidas. E muitas vidas jovens! Ali deixámos grande parte da nossa distribuição e a pena de pouco podermos fazer por aquela gente. Rezámos uma curta oração e seguimos por algumas ruas da cidade em busca de gente desabrigada. Não encontrámos alguns que esperávamos, mas encontrámos outros que não víamos há algum tempo. Repetem-se presenças na Praça da República e no viaduto. Estavam desertas as redondezas da Praça D. João I, e subimos à Batalha, onde fizemos uma rápida visita a três "residentes" na parede do Teatro S. João, distribuímos alguns sacos por passantes ocasionais necessitados, e fomos reunir ao restante grupo mais adiante.
Um a um fomos entregando o que tínhamos até ao último saco... E ficámos em diálogo com os que ali estavam até secar a sua fome de falar.
Fazia-se tarde para o pessoal de Carregosa. Reunimo-nos para a oração, para a qual convidámos os presentes. E a noite que tinha sido tão calma, tão certinha, mostrou-nos com clareza que afinal nem toda a gente anda no mundo e nos nossos caminhos com o mesmo intuito que nós. Ainda não tínhamos iniciado sequer a nossa oração de acção de graças quando surge aquele personagem de boné, encristado, questionando tudo, a nossa Fé, os símbolos, a Igreja, tudo!... E tomou o centro da roda pregando a sua falta de fé enquanto nós, silenciosamente, rezávamos pedindo a Deus que o perdoasse e nos deixasse concluir a noite em paz. Cansado da sua própria arenga, deixou a roda, agradeceu o saco e seguiu o seu caminho.
Recompusemo-nos para a oração, mas não tivemos tempo de a iniciar... Outro personagem, este a dizer-se ortodoxo mas a demonstrar logo de início sê-lo tanto como eu uma camionteta, apresentou-se junto de nós. Tal como o primeiro desencadeou de imediato um discurso sem nexo mas que tinha apenas um ponto e uma direcção: demonstrar-se ser do contra; contra o Papa, contra a Igreja, contra os católicos, contra as imagens, contra Maria. E, questionando com cinismo a nossa caridade, desafiou-nos a ir para junto dos sem-abrigo que estavam no portal do cine Batalha. Tal como o anterior tomou conta da roda e falou enquanto a nossa oração o permitiu. E... beleza das belezas! Ao iniciar a oração final vimos chegar junto de nós o grupo que se encontrava no portal do cine-teatro, mais um casal que ali passava no momento e achou bem rezar connosco, e mais alguns sem-abrigo que se encontravam junto ao café do outro lado da rua!... Foi linda a resposta que Deus enviou de imediato. E a roda alargou-se, e foi mais lindo o  Pai Nosso que todos entoámos com a boca e o coração, e o Cântico que Maria recebeu e percebeu como um desgravo daquele "Boa noite, Maria!" que cantámos em surdina e ficou ressoando nos corações e nas almas, e que a Mãe nos retorna enchendo-nos de ternura e amor.