sexta-feira, 15 de junho de 2018

O conselho de um sem-abrigo

13 de Junho de 2018

"Nunca se cansem de ajudar os pobres."

Assim terminou a nossa saída de ontem. Um homem que, após saber que não tínhamos mais nada para distribuir, mesmo assim nos agradeceu e abençoou saindo a chorar da nossa companhia. Assim é difícil adormecer…

J. Augusto

A Caridade não age esperando ou aguardando paga de qualquer natureza, mas, além da compensação que se recebe do simples sentimento do dever cumprido, estas palavras alentam-nos a continuar… a continuar… a continuar sempre sem desânimo ainda que pareça que não estamos a fazer nada.
Às vezes parecem-nos palavras de profecia, manifestação de aprovação de Deus, pela boca destes cristos, da nossa aproximação aos débeis e frágeis que constituem estas franjas sociais.
Mesmo sofrendo a carência de quase tudo o que constitui necessidade mínima de mesa e habitação e, até, de família, alguns, como o Joaquim que encontrámos ontem, agradecem o dia que pediram a Deus. E nós, que vivemos na abundância, não devemos agradecer o que nos faz falta e aplicar melhor o que nos sobeja?
Então que fazemos de mais ao dispor de um pouco do nosso tempo com utilidade?
 
Que Deus nos ajude a continuar e a ser melhores, sem desistências, sempre com amor, alegria e humildade.
 
C. F. 
 
 

quinta-feira, 14 de junho de 2018

13 de Junho de 2018



Novamente na rua
 
 
Como em todas as nossas idas à rua também ontem deparámos com pessoas e situações que nos põem a meditar.
Começámos pelo Joaquim, que não tínhamos encontrado anteriormente porque não frequenta os lugares de encontro, e que descobri ocasionalmente há apenas dois dias. "A minha vida passa toda aqui nesta rua; só peço a Deus que me dê um dia, e, no seguinte, que me dê outro dia".
Quatro vezes ao dia tem de tomar insulina, e passa o tempo entre o LIDL e um café próximo que escolh
eu para cantina. O curioso é saber que teve uma vida activa perfeitamente normal como cozinheiro dos bons restaurantes do Porto. Com cinquenta e três anos, diabético, sem família, entrou cedo no grupo dos descartáveis e está na rua. As francesinhas e o marisco que confeccionava ficaram para trás, e para trás ficaram também o reconhecimento daqueles a quem serviu.
É assim a glória do mundo...
O Aleixo parece ter retornado ao passado pouco longínquo. Repetiu-se o corrupio de gente no contínuo sobe e desce na procura e leva da dose... E na tomada, à luz do frontal mesmo ali à nossa frente!
O Aníbal apresenta-se como trabalhador e consumidor respeitado por pagar o vício com o seu dinheiro. E justifica, penso que para acalmar a própria consciência, dizendo que a droga "emprega muita gente". Perante a nossa admiração atira:
"Então não emprega? Vejam os CAT, os técnicos, os médicos e enfermeiros, e tanta gente que não tinha emprego se não fosse...". 
É verdade o que diz só que, por um lado não conta com o maior mal que causa a toda a sociedade e aos próprios, e, por outro que se não fosse a necessidade criada com a existência desse flagelo, outras e melhores oportunidades de trabalho surgiriam noutras áreas!
Para meditar...