quinta-feira, 21 de abril de 2011

O sentido da gratuidade é uma resposta ao mundo secularizado, diz a Irmã Rita Piccione

Jesus, na sua humanidade, e todo o percurso até à Cruz, serão o ponto central das meditações da próxima Via Sacra no Coliseu, para cuja preparação foi convidada uma monja agostiniana do mosteiro romano dos Santos Quatro Coroados, Irmã Rita Piccione. O jornal vaticano «L'Osservatore Romano» apresentou uma longa entrevista com a religiosa. A Irmã Rita é a terceira monja, depois da beneditina Anna Maria Canopi, em 1993, e da monja da comunidade protestante de Grandchamp, na Suíça, Irmã Minke de Vries, em 1995, a escrever as meditações da Via Sacra.
«Foi justamente ao olhar para aquela coruja, a pensar na sua capacidade de ver no escuro que encontrei a chave, espero justa, para as meditações a propor. Se ela representa a noite, é necessário procurar o rosto de Deus que ilumina também as trevas mais fechadas», respondeu a freira na entrevista, citando a inspiração encontrada enquanto observava a noctívaga ave de rapina.
«Não conseguia acreditar no que estava a acontecer justamente a mim, uma pessoa tão simples, sem nenhum título particular além daquele de um duplo grande amor:  Deus e a sua Igreja. Confesso não ter conseguido aceitar logo de imediato que estava confusa. Foi a exortação do cardeal que me fez abandonar na confiança do desígnio divino e na graça para dissipar em mim qualquer resistência. Confiei-me totalmente ao Espírito», afirmou a religiosa, ao relatar a sua reacção ao pedido do Papa apresentado pelo Cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, para que preparasse as meditações da Via Sacra.
As meditações da próxima Via Sacra no Coliseu serão inspiradas também pela espiritualidade de Santo Agostinho, um teólogo tão importante para o Papa Bento XVI, explica Irmã Piccione.
«A presença de Agostinho - confessa a freira - antes dos textos, habita o comportamento interior que me guiou nesta experiência a partir do "sim" da aceitação. (...) Depois, a presença de Agostinho - este "bom companheiro de viagem" como o definiu o Papa na audiência do dia 25 de Agosto do ano passado - respira-se no olhar dirigido à humanidade do nosso Salvador, à sua humildade; respira-se no apelo, mais ou menos constante, da verdade e em algumas breves expressões do bispo de Ippona que aparecem aqui e ali no texto. Também o tema da verdade é um ponto de encontro, de sintonia, entre o Papa e Agostinho: a procura sincera da verdade levou Agostinho a Deus, o serviço da verdade foi sempre a alma do ministério de Joseph Ratzinger».
Ao escolher uma monja para preparar os textos para uma das mais famosas Vias Sacras, pode-se notar algum sinal particular do Santo Padre, que no ano passado criou o novo Dicastério para a Promoção da Nova Evangelização. Que contribuição pode dar a vida contemplativa a um mundo marcado pela profunda secularização, a agostiniana responde: «é a gratuidade, o sentido da gratuidade. A beleza e a alegria da gratuidade».
«Pelo facto de a gratuidade não se comprar, talvez justamente este bem tenha sido perdido pelo mundo secularizado, perdendo consequentemente a fonte da alegria genuína. A gratuidade do amor é a própria mensagem de Jesus na cruz: Deus demonstra o seu amor por nós no facto de que, enquanto eramos ainda pecadores, Cristo morresse por nós. O amor não é merecido: é um dom. E quando nos deixamos alcançar, tocar por este amor, não se pode senão amar».

Gaudium Press

Sem comentários: