«João Paulo II foi um grande contemplativo e um grande apóstolo de Cristo. Deus escolheu-o para a sede de Pedro e conservou-o por longo tempo para introduzir a Igreja no terceiro milénio. Com o seu exemplo, guiou-nos a todos nesta peregrinação e agora continua a acompanhar-nos do céu». Foi com esta declaração de Bento XVI que culminou a exibição de um novo documentário sobre João Paulo II no Vaticano.
A exibição de «Peregrino vestido de branco» foi especial para o Santo Padre, e contou com a presença do director da obra, o polaco Jaroslaw Szmidt. O director conversou com a agência de notícias Gaudium Press sobre a ideia, a história e outros elementos do filme.
«A própria presença do Santo Padre mostra uma grande aceitação para o nosso filme. Dá uma nobilidade ainda maior. Eu ainda não me dei conta de que o nosso filme tenha sido apresentado para Bento XVI. Também para mim foi um momento comovente, não conseguia pronunciar as palavras. Quando começamos os trabalhos sobre o filme, nem sonhava que o Papa pudesse vê-lo», declarou o director, depois da apresentação do seu último documentário, na Sala do Consistório no Vaticano.
«A nossa ambição - ressalta o director - foi aquela de mostrar que João Paulo II não era só um Papa de um país distante. Mas que era o Papa também de uma cidade plenamente europeia, de Cracóvia. Da capital cultural que lhe deu uma nova perspectiva no mundo e o havia preparado. Tínhamos intenção de mostrar que o nosso Papa não era Papa por acaso. Que era um Papa bem preparado para esta função através da cultura polaca e do Concílio Vaticano II», continuou o jovem director.
Para Szmidt, o seu documentário não tem a obrigação de apontar as graças e os erros do pontificado: «Quisemos que fosse um encontro pessoal com um homem, com um Papa, uma viagem intensa que cinematograficamente uniria as gerações. Sei que até agora foram feitos mais de 150 filmes sobre o Papa. Alguém poderia perguntar o que de novo se pode contar sobre o Papa. Tratava-se mais de dar um outro olhar ao homem e aos seus sucessos mundiais. Que seria um olhar da minha geração de 78».
O conceito é confirmado pelo resto da equipa do filme. Os dois guionistas representam duas gerações, o próprio Szmidt e Mariusz Wituski, mais velho. Trata-se de um filme independente realizado completamente com fundos de produtores privados.
«Quisemos que o filme não fosse somente sobre as "kremowki " (doce polaco de creme) e sobre o sorriso do Papa» - ressalta o director. No nosso filme há também as palavras importantes do pontífice. Há frases que devem permanecer dentro de nós. Por exemplo que a Igreja não traz ao mundo outra cultura ou raça, mas Cristo. Ele foi assim para África. Estes momentos no nosso filme existem e são importantes. Nós queríamos somente ser portadores destas emoções e destes temas».
Segundo o director, a ideia foi principalmente contar, de um maneira moderna, a história de João Paulo II não somente sob o prisma da sensibilidade polaca, mas também sob o prisma das pessoas que estiveram ao lado do Papa, «que o encontraram e que juntos com ele mudavam o mundo. As suas histórias e as suas emoções são neste filme mais importantes. Este foi o ponto de partida para mostrar não somente no contexto polaco, mas neste contexto mundial». Assim, por exemplo, o filme inicia com declarações do Dalai Lama, líder budista, sobre o líder máximo cátolico.
No documentário, dão testemunhos em muitas entrevistas exclusivas os colaboradores mais próximos de Wojtyla: o seu secretário particular, agora Cardeal Stanislao Dziwisz, arcebispo metropolitano de Cracóvia; Dom Piero Marini, mestre das celebrações litúrgicas do Sumo Pontífice nos anos 1987-2007; Joaquin Navarro-Valls director da Sala de Imprensa da Santa Sé (1984-2006); Dom Pawel Ptasznik, responsável pela secção polaca da Secretaria de Estado vaticano, e outros.
Há também jornalistas como Valentina Alazraki, vaticanista mexicana, Gian Franco Svidercoschi, escritor e vaticanista italiano. E encontram-se também testemunhos de pessoas não ligadas ao mundo vaticano e de outras confissões e religiões, como do já citado Dalai Lama; de Bartolomeo I, patriarca de Constantinopla; de Yisrael Meir Lau, rabino-chefe de Israel nos anos 1993-2003, além dos políticos Lech Walesa, ex-líder do movimento Solidarnosc (Solidariedade) e presidente da República Polaca nos anos 1990-1995; e Francesco Cossiga, presidente da República Italiana entre 1985 e 1992; ou mesmo dos artistas: Placido Domingo, tenor e director da orquestra espanhola, ou Laura Biagiotti, estilista italiana.
«Estava certo que conseguimos contar sobre o Papa de maneira convincente, muito fiel à sua personalidade incrivelmente energética e dinâmica. Inclusive no fim de sua vida, apesar dos limites físicos, a mente continuava jovem. Ele mesmo dizia que era um velho, mas um velho jovem. Esta juventude espiritual teve-a ele até o fim. Estou consciente de que conseguimos falar sobre o Papa e sobre um homem real. Assim, será atraente também para a minha geração», explica o director.
Szmidt observa que seu filme de 90 minutos foi composto pelos seguintes tipos de material: do arquivo proveniente entre outros do CTV, RAI, Filmoteca Vaticana, Filmoteca Nacional polaca, WFDiF (Casa produtora de documentários e outros filmes), TVP (televisão pública polaca), e de outras colecções privadas, de entrevistas com personalidades e de imagens de diversas partes do mundo, como o Vaticano, a Terra Santa, México, Bolívia, África, Polónia, etc, tudo gravado em centenas de horas.
Os lugares excepcionais deixaram também recordações particulares da realização, como filmar as prateleiras de cerca 150 metros de comprimento com documentos fechados do pontificado de Wojtyla nos Arquivos secretos do Vaticano. «Um momento comovente aconteceu na Basílica da Natividade. Estava a filmar ali na Gruta da Natividade. Era meia-noite. Estávamos sozinhos e cantámos "Lulajze Jezuniu" (uma canção de Natal polaca). Foi um momento que todos recordaremos para sempre». Outro momento particular foi uma missa de quase quatro horas na selva africana. Mas houve também momentos de grande desafio técnico, como o da realização das imagens da Capela Sistina, «um dos lugares mais particulares do mundo, porém muito difícil de entrar com todo o grande equipamento cinematográfico».
Sem comentários:
Enviar um comentário