domingo, 17 de abril de 2011

Domingo de Ramos

«Este era verdadeiramente Filho de Deus»

 «A traição a Cristo», 1355-1356, de Simeão, escriba e ilustrador





























Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo São Mateus, 26, 14-27,66

 N - Naquele tempo,
um dos doze, chamado Judas Iscariotes,
foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse-lhes:
R - «Que estais dispostos a dar-me para vos entregar Jesus?»
N - Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. E a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para O entregar. No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe:
R - «Onde queres que façamos os preparativos
para comer a Páscoa?»
N - Ele respondeu:
J - «Ide à cidade, a casa de tal pessoa, e dizei-lhe:
‘O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo. É em tua casa que eu quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos’».
N - Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado, e prepararam a Páscoa.


N - Ao cair da noite, sentou-Se à mesa com os Doze. Enquanto comiam, declarou:
J - «Em verdade vos digo: um de vós há-de entregar-Me».
N - Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar-Lhe:
R - «Serei eu, Senhor?»
N - Jesus respondeu:
J - «Aquele que meteu comigo a mão no prato é que há-de entregar-Me.
O Filho do homem vai partir, como está escrito acerca d’Ele. Mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido».
N - Judas, que O ia entregar, tomou a palavra e perguntou:
R - «Serei eu, Mestre?»
N - Respondeu Jesus:
J - «Tu o disseste».


N - Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e deu-o aos discípulos, dizendo:
J - «Tomai e comei: Isto é o meu Corpo».
N - Tomou em seguida um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo:
J - «Bebei dele todos, porque este é o meu Sangue, o Sangue da aliança, derramado pela multidão, para remissão dos pecados. Eu vos digo que não beberei mais deste fruto da videira, até ao dia em que beberei convosco o vinho novo no reino de meu Pai».


N - Cantaram os salmos e seguiram para o Monte das Oliveiras.


N - Então, Jesus disse-lhes:
J - «Todos vós, esta noite, vos escandalizareis por minha causa, como está escrito: ‘Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas do rebanho’. Mas, depois de ressuscitar, preceder-vos-ei a caminho da Galileia».
N - Pedro interveio, dizendo:
R - «Ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu não me escandalizarei».
N - Jesus respondeu-lhe:
J - «Em verdade te digo: esta mesma noite, antes do galo cantar, Me negarás três vezes».
N - Pedro disse-lhe:
R - «Ainda que tenha de morrer contigo, não Te negarei».
N - E o mesmo disseram todos os discípulos.


N - Então, Jesus chegou com eles a uma propriedade, chamada Getsémani e disse aos discípulos:
J - «Ficai aqui, enquanto Eu vou além orar».
N - E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a angustiar-Se. Disse-lhes então:
J - «A minha alma está numa tristeza de morte. Ficai aqui e vigiai comigo».
N - E adiantando-Se um pouco mais, caiu com o rosto por terra, enquanto orava e dizia:
J - «Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice. Todavia, não se faça como Eu quero, mas como Tu queres».
N - Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro:
J - «Nem sequer pudestes vigiar uma hora comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca».


N - De novo Se afastou, pela Segunda vez, e orou, dizendo:
J - «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade».
N - Voltou novamente e encontrou-os a dormir,pois os seus olhos estavam pesados de sono. Deixou-os e foi de novo orar, pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Veio então ao encontro dos discípulos e disse-lhes:
J - «Dormi agora e descansai. Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos. Aproxima-se aquele que Me vai entregar».
N - Ainda Jesus estava a falar, quando chegou Judas, um dos Doze, e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo. O traidor tinha-lhes dado este sinal:
R - «Aquele que eu beijar, é esse mesmo. Prendei-O».
N - Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse-Lhe:
R - «Salve, Mestre!».
N - E beijou-O. Jesus respondeu-lhe:
J - «Amigo, a que vieste?».
N - Então avançaram, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-n’O. Um dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do sumo sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus disse-lhe:
J - «Mete a tua espada na bainha, pois todos os que puxarem da espada morrerão à espada. Pensas que não posso rogar a meu Pai que ponha já ao meu dispor mais de doze legiões de Anjos? Mas como se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim tem de acontecer?».
N - Voltando-Se depois para a multidão, Jesus disse:
J - «Viestes com espadas e varapaus para Me prender como se fosse um salteador! Eu estava todos os dias sentado no templo a ensinar e não Me prendestes... Mas, tudo isto aconteceu para se cumprirem as Escrituras das profetas».
N - Então todos os discípulos O abandonaram e fugiram.


N - Os que tinham prendido Jesus levaram-n’O à presença do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos se tinham reunido. Pedro foi-O seguindo de longe, até ao palácio do sumo sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se com os guardas, para ver como acabaria tudo aquilo. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho falso contra Jesus para O condenarem à morte, mas não o encontravam, embora se tivessem apresentado muitas testemunhas falsas.
Por fim, apresentaram-se duas que disseram:
R - «Este homem afirmou: ‘Posso destruir o templo de Deus e reconstruí-lo em três dias’».
N - Então, o sumo sacerdote levantou-se e disse a Jesus:
R - «Não respondes nada? Que dizes ao que depõem contra Ti?»
N - Mas Jesus continuava calado. Disse-Lhe o sumo sacerdote:
R - «Eu Te conjuro pelo Deus vivo, que nos declares se és Tu o Messias, o Filho de Deus».
N - Jesus respondeu-lhe:
J - «Tu o disseste. E Eu digo-vos: vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as nuvens do céu».
N - Então, o sumo sacerdote rasgou as vestes, dizendo:
R - «Blasfemou. Que necessidade temos de mais testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. Que vos parece?»
N - Eles responderam:
R - «É réu de morte».
N - Cuspiram-Lhe então no rosto e deram-Lhe punhadas. Outros esbofeteavam-n’O, dizendo:
R - «Adivinha, Messias: quem foi que Te bateu?»


N - Entretanto, Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe:
R - «Tu também estavas com Jesus, o galileu».
N - Mas ele negou diante de todos, dizendo:
R - «Não sei o que dizes».
N - Dirigindo-se para a porta, foi visto por outra criada que disse aos circunstantes:
R - «Este homem estava com Jesus de Nazaré».
N - E, de novo, ele negou com juramento:
R - «Não conheço tal homem».
N - Pouco depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro:
R - «Com certeza tu és deles, pois até a fala te denuncia».
N - Começou então a dizer imprecações e a jurar:
R - «Não conheço tal homem».
N - E, imediatamente, um galo cantou. Então, Pedro lembrou-se das palavras que Jesus dissera:
«Antes do galo cantar, tu Me negarás três vezes». E, saindo, chorou amargamente.


Ao romper da manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para Lhe darem a morte. Depois de Lhe atarem as mãos, levaram-n’O e entregaram-n’O ao governador Pilatos. Então Judas, que entregara Jesus, vendo que Ele tinha sido condenado, tocado pelo remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo:
R - «Pequei, entregando sangue inocente».
N - Mas eles replicaram:
R - «Que nos importa? É lá contigo».
N - Então, arremessou as moedas para o santuário, saiu dali e foi-se enforcar. Mas os príncipes dos sacerdotes apanharam as moedas e disseram:
R -  «Não se podem lançar no tesouro, porque são preço de sangue».
N - E, depois de terem deliberado, compraram com elas o Campo do Oleiro. Por este motivo se tem chamado àquele campo, até ao dia de hoje, «Campo de Sangue». Cumpriu-se então o que fora dito pelo profeta:
«Tomaram trinta moedas de prata,
preço em que foi avaliado
Aquele que os filhos de Israel avaliaram
e deram-nas pelo Campo do Oleiro,
como o Senhor me tinha ordenado».


N - Entretanto, Jesus foi levado à presença do governador, que lhe perguntou:
R - «Tu és o Rei dos judeus?»
N - Jesus respondeu:
J - «É como dizes».
N - Mas, ao ser acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Disse-Lhe então Pilatos:
R - «Não ouves quantas acusações levantam contra Ti?»
N - Mas Jesus não respondeu coisa alguma, a ponto de o governador ficar muito admirado. Ora, pela festa da Páscoa, o governador costumava soltar um preso, à escolha do povo. Nessa altura, havia um preso famoso, chamado Barrabás. E, quando eles se reuniram, disse-lhes:
R - «Qual quereis que vos solte?» Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?»
N - Ele bem sabia que O tinham entregado por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer:
R - «Não te prendas com a causa desse justo, pois hoje sofri muito em sonhos por causa d’Ele».

N - Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus. O governador tomou a palavra e perguntou-lhes:
R - «Qual dos dois quereis que vos solte?»
N - Eles responderam:
R - «Barrabás».
N - Disse-lhes Pilatos:
R - «E que hei-de fazer de Jesus, chamado Cristo?»
N - Responderam todos:
R - «Seja crucificado».
N - Pilatos insistiu:
R - «Que mal fez Ele?»
N - Mas eles gritavam cada vez mais:
R - «Seja crucificado».
N - Pilatos insistiu:
R - «Que mal fez Ele?»
N - Mas eles gritavam cada vez mais:
R - «Seja crucificado».
N  -Pilatos, vendo que não conseguia nada e aumentava o tumulto, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo:
R - «Estou inocente do sangue deste homem. Isso é lá convosco».
N - E todo o povo respondeu:
R - «O seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos».
N - Soltou-lhes então Barrabás. E, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou-lh’O para ser crucificado. Então os soldados do governador levaram Jesus para o pretório e reuniram à volta d’Ele toda a coorte. Tiraram-Lhe a roupa e envolveram-n’O num manto vermelho. Teceram uma coroa de espinhos e puseram-Lha na cabeça e colocaram uma cana na sua mão direita. Ajoelhando diante d’Ele, escarneciam-n’O, dizendo:
R - «Salve, rei dos judeus!»
N - Depois, cuspiam-Lhe no rosto e, pegando na cana, batiam-Lhe com ela na cabeça. Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto, vestiram-Lhe as suas roupas e levaram-n’O para ser crucificado.


N - Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e requisitaram-no para levar a cruz de Jesus. Chegados a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer lugar do Calvário, deram-Lhe a beber vinho misturado com fel. Mas Jesus, depois de o provar, não quis beber. Depois de O terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, e ficaram ali sentados a guardá-l’O. Por cima da sua cabeça puseram um letreiro, indicando a causa da sua condenação:
«Este é Jesus, o rei dos judeus».
Foram crucificados com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam insultavam-n’O e abanavam a cabeça, dizendo:
R - «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo; Se és Filho de Deus, desce da cruz».
N - Os príncipes dos sacerdotes, juntamente com os escribas e os anciãos, também troçavam d’Ele, dizendo:
R - «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz e acreditaremos n’Ele. Confiou em Deus: Ele que O livre agora, se O ama, porque disse: ‘Eu sou Filho de Deus’».
N - Até os salteadores crucificados com Ele o insultavam.


Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. E, pelas três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte:
J - «Eli, Eli, lema sabachtani!»,
N - Que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?» Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram:
R - «Está a chamar por Elias».
N - Um deles correu a tomar uma esponja, embebeu-a em vinagre, pô-la na ponta duma cana e deu-Lhe a beber. Mas os outros disseram:
R - «Deixa lá. Vejamos se Elias vem salvá-l’O».
N - E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou.


N - Então, o véu do templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo; a terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos dos corpos de santos que tinham morrido ressuscitaram; e, saindo do sepulcro, depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. Entretanto, o centurião e os que com ele guardavam Jesus, ao verem o tremor de terra e o que estava a acontecer,
ficaram aterrados e disseram:
R - «Este era verdadeiramente Filho de Deus».


N - Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia, para O servirem. Entre elas encontrava-se Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tinha tornado discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. E Pilatos ordenou que lho entregassem. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o no seu sepulcro novo que tinha mandado escavar na rocha. Depois rolou uma grande pedra para a entrada do sepulcro, e retirou-se. Entretanto, estavam ali Maria Madalena e a outra Maria, sentadas em frente do sepulcro.


No dia seguinte, isto é, depois da Preparação, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus foram ter com Pilatos e disseram-lhe:
R - «Senhor, lembrámo-nos do que aquele impostor disse quando ainda era vivo: ‘Depois de três dias ressuscitarei’. Por isso, manda que o sepulcro seja mantido em segurança até ao terceiro dia, para que não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: ‘Ressuscitou dos mortos’. E a última impostura seria pior do que a primeira».
N - Pilatos respondeu:
R - «Tendes à vossa disposição a guarda: ide e guardai-o como entenderdes».
N - Eles foram e guardaram o sepulcro, selando a pedra e pondo a guarda.

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