Santo Padre convida povo cigano a “escrever uma nova página na história”
Por ocasião dos 75 anos do martírio do cigano espanhol Zeferino Giménez Malla, proclamado Beato por João Paulo II no dia 4 de Maio de 1997, e pelos 150 anos do seu nascimento, uma numerosa representação de ciganos europeus participa hoje e amanhã, domingo, em Roma, na peregrinação promovida pelo Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. Momento central da peregrinação o encontro com o Santo Padre. São ciganos de diversas etnias – roms, sintis, manuches... – vindos de toda Europa; o beato Zeferino Giménez Malla, foi vítima da perseguição religiosa na Espanha em 1936. Ele foi fuzilado por defender um sacerdote e por se negar a desfazer-se de seu rosário, tal como o havia aconselhado um amigo anarquista que queria salvá-lo.
Quatro testemunhos, entre eles o de um sobrevivente dos campos de concentração nazis, ilustraram esta manhã a Bento XVI a vida dos itinerantes. No seu discurso aos presentes o Papa confessou-se feliz por poder recebê-los por ocasião da sua peregrinação ao túmulo do Apóstolo Pedro. Depois de agradecer ao Arcebispo Antonio Maria Vegliò, presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes pelas suas palavras dirigidas momentos antes, Bento XVI recordou que eles vieram de todas as partes da Europa para manifestar a sua fé e amor por Cristo, pela sua Igreja – que é uma casa de todos – e pelo Papa. O Santo Padre recordou então as palavras de Paulo VI dirigidas aos ciganos em 1965: “Vocês na Igreja não se encontram à margem, mas, em certos aspectos, vocês estão no centro, vocês estão no coração. Vocês estão no coração da Igreja”.
Eu também repito hoje com afecto, disse Bento XVI: “Vocês estão na Igreja! Vocês são uma parte muito amada do Povo de Deus peregrino e recordam-nos que “não temos aqui embaixo uma cidade permanente, mas procuramos aquela futura”.
Em seguida o Santo Padre recordou a figura do Beato Zeferino Giménez Malla, do qual se celebra os 150 anos de nascimento e os 75 de martírio. A amizade com o Senhor tornou esse Mártir testemunha autêntica da fé e da caridade. “Com a intensidade com que adorava Deus e descobria a sua presença em cada pessoa e em cada evento, o beato Zeferino amava a Igreja e seus Pastores. Terciário franciscano, permaneceu fiel ao seu ser cigano, à história e à identidade de sua própria etnia. Casado segundo a tradição dos ciganos, junto com sua esposa decidiu convalidar o vínculo na Igreja com o sacramento do Matrimónio. A sua profunda fé religiosa encontrou expressão na participação diária da Santa Missa e recitação do Terço. Precisamente o terço, que ele sempre carregou no bolso, tornou-se a causa de sua prisão e fez do Beato Zeferino um autêntico “mártir do Terço”, pois ele não deixou que o tirassem da mão, nem mesmo no momento da morte. Hoje, o Beato Zeferino convida-nos a seguir o seu exemplo e indica-nos o caminho: a dedicação à oração, e em particular do Terço, o amor pela Eucaristia e pelos demais sacramentos, a observância dos mandamentos, a honestidade, a caridade e a generosidade para com os outros, especialmente para com os pobres; e isso vai tornar-vos fortes para enfrentarem os riscos que as seitas e outros grupos colocam em perigo a sua comunhão com a Igreja".
Bento XVI recordou em seguida a história complexa e, em alguns períodos, dolorosa do povo cigano: "Vocês são um povo que, nos séculos passados não viveu ideologias nacionalistas, não aspirou a possuir uma terra ou a dominar outras pessoas. Vocês permaneceram sem pátria e consideraram idealmente todo o continente como sua casa. No entanto, persistem problemas sérios e preocupantes, como as relações frequentemente difíceis com as sociedades nas quais vocês vivem. Infelizmente, ao longo dos séculos vocês conheceram o sabor amargo do não-acolhimento, e por vezes perseguições, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial: milhares de mulheres, homens e crianças foram brutalmente assassinados em campos de extermínio. Foi - como vocês dizem - o Porrájmos, a “A Grande Devoração”, um drama ainda pouco reconhecido e do qual são medidas com dificuldade as proporções, mas que as suas familias trazem impressas no seu coração. Durante a minha visita ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em 28 de Maio de 2006, rezei pelas vítimas da perseguição e inclinei-me diante da lápide em língua romani, que recorda os ciganos que morreram. A consciência europeia não pode esquecer tanta dor! Nunca mais o seu povo seja objecto de opressão, de rejeição e de desprezo! Por sua vez, procurem sempre a justiça, a legalidade, a reconciliação e esforcem-se para não ser causa de sofrimento aos outros!”
O Papa disse ainda que hoje a situação está a mudar e que novas oportunidades se abrem diante deles, enquanto adquirem uma nova consciência: "Com o passar dos anos vocês criaram uma cultura de expressões significativas, como a música e o canto que enriqueceram a Europa. E uma constatação: muitas etnias não são mais nómadas, mas procuram estabilidade com novas expectativas diante da vida. A Igreja caminha convosco – disse ainda o Papa – e convida-vos a viverem segundo as exigências do Evangelho confiando na força de Cristo, em direcção de um futuro melhor".
Enfim o papa concluiu as sua palavras afirmando que também eles são chamados a participar activamente da missão evangelizadora da Igreja, promovendo a actividade pastoral na suas comunidades, e confiando-os à "Mãe de Deus” e ao Beato Zefirino. E concluiu falando na língua cigana: “Agradeço a todos vocês que vieram até à Sede de Pedro para manifestar a sua fé e o seu amor à Igreja e ao Papa. Que o Beato Zeferino seja para todos vós um exemplo de uma vida vivida por Cristo e pela Igreja, na observação dos mandamentos e no amor ao próximo. O Papa está perto de cada um de vocês e recorda-se de vós nas suas orações. O Senhor vos abençoe, às suas comunidades, às suas famílias e ao vosso futuro. O Senhor vos dê saúde e sorte. Fiquem com Deus!". Fonte: SP/Rádio Vaticano
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