quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

E o 6º. ano começou...

6º. Ano...

No passado dia 12 iniciámos mais um ano na rua. O grupo cresceu muito e o modo de estar teve de se adaptar ao novo modelo. Perde-se um pouco individualmente em benefício de um contacto mais alargado, permitindo a outros novas experiências e a Graça de poderem, também eles, ser samaritanos com os que precisam do nosso apoio, qualquer que seja.

Mais uma vez, Carregosa, Escuteiros, e outros voluntários deram as mãos e uniram esforços na preparação da saída, e no percurso pelas ruas da cidade do Porto.
O trabalho e a partilha divididos por todos custam menos e e tornam-se mais rendosos.

São mais sandes, mais fruta, mais café com leite. O que não aumenta e até diminui são os bolos e os salgadinhos... Está-nos a ser pedido mais um esforçosinho na angariação de sobras.

Na oração a Jú leu a Carta aos Coríntios, 1, 12-20 que nos diz que tudo nos é permitido mas nem tudo é conveniente...

Rezado um Pai-Nosso, lá seguimos divididos em dois grupos, levando por mote aquele pensamento e a afirmação de que "somos templos do Espírito Santo".

De novo iam connosco três meninas da catequese da igreja de Nossa Senhora dos Anjos que integraram o grupo que se dirigiu ao centro da cidade na carrinha de Carregosa. O outro grupo rumou ao Aleixo, Pinheiro Torres e Pasteleira. A divisão abrevia a ronda mas limita as experiências, por isso não posso relatar a volta pela cidade. Nos bairros notámos maior afluência em Pinheiro Torres e o mesmo na Pasteleira. Diminuída tem estado a do Aleixo. Mas o que não diminui é a miséria e a degradação das pessoas que vão aumentando a dimensão desta grande tragédia que é a toxicodependência. E nem vale a pena adocicar o mal de uns com o mal de outros e as comparações que, à laia de justificação, se insiste em fazer entre a droga e o álcool. Ainda que ambos sejam um mal, é evidente que a dependência da droga e tudo o que ela comporta a montante e a juzante do consumo constitui uma tragédia que deixa a milhas de distância os distúrbios pessoais, familiares e sociais que o álcool acarreta. Daí o grito surdo de uma voluntária ao deparar com uma zona degradada:

- Eu não reconheço isto!... Foi ali que eu brinquei há dez anos, havia baloiços, escorrega... jardim!...

E que ela e nós víamos era simplesmente um campo pisado, zona de trilho, onde deambulavam sem aparente finalidade sombras de gente, novos uns, de mais idade outros, "avós", "pais" e "netos" numa amálgama de seres sem distinção de idades...

Demorámo-nos a conversar especialmente com três "utentes" do local: uma senhora que pouco pára junto de nós porque uma viatura cheia de moços anda quase sempre na sua peugada, faz-lhe sinal e ela corre e mete-se com eles seguindo na viatura, para onde, sabe-se lá!... Outras duas, mãe e filha, cada qual na sua vida.

- Sabe quanto precisa "angariar" ela por dia para andar "bem"?

- ?!...

- 50 contos!

- 50 contos?!... E onde vai ela arranjar tanto dinheiro?
- Como não tem, "tem" de roubar...

Os cinquenta contos da moeda antiga dão mais ênfase ao valor. Mas por aqui se vê o tamanho da miséria de uns - os consumidores - a ganância de outros, e a grandeza social, moral, e económica do problema.

Estas histórias não nos demovem da nossa acção (teimo em escrever com 2 cc), mas aproveitamos a ocasião para lançar sempre o convite à mudança. Mas parece tão difícil... E recordamos o desabafo daquela mãe:
- Vocês nem imaginam o que se sofre na ressaca!... Ninguém quer sofrer a ressaca!

Regressámos à Urgência do H. de Santo António onde nos encontrámos com a restante equipa vinda do centro da cidade. Depois de termos acabado a distribuição repetimos a roda de oração tal como fizemos no mês anterior, de mãos dadas, num Pai Nosso que não distingue bons nem maus, mas que a todos irmana independentemente dos gostos ou desgostos de cada um, das suas opções ou estilos de vida, mas todos, mesmo todos, filhos do mesmo Pai, Deus Eterno e Omnipotente.

C.

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