domingo, 17 de maio de 2009

Maio de 2009

Com Maria, na rua


Mês de Maio, mês de Maria.

É também mês de peregrinações. Por força de uma destas, a Fátima, a pé, tivemos de antecipar a nossa saída para dia 6, substituindo os voluntários da Associação Fas+.

À pressa, porque os dias anteriores tinham sido de especial azáfama, lá preparámos o necessário, como de costume. Éramos 5, e chegámos.

Ainda não tínhamos iniciado a volta e já o primeiro nos solicitava auxílio. Não fazia inicialmente parte do grupo dos necessitados mas o rumo que deu à vida também neles o incluiu. E lá está! Vem quase sempre no princípio.

Estranhámos não encontrar ninguém na Boavista. Mais tarde soubemos porquê: a noite de Queima atraiu os sem-abrigo à zona da Circunvalação ao chamariz da arrumação de viaturas. E isso manifestou-se em toda a cidade e, até, no Aleixo!
Descrever o que foi o roteiro seria uma simples crónica, mas não queremos limitar-nos a isso. A noite é rica por outros motivos: pelas vivências que nos traz ou que despoletamos naqueles a quem nos dirigimos. Pelos sentimentos que despertamos.
Há noites simples, quase que sem história, como foi a de Abril, em que os três que saímos cumprimos a missão sem alarde e sem factos dignos de especial registo.
Já nesta não aconteceu o mesmo. Não encontrámos o Fernando (da Praça). Onde parará?!... Mas reapareceu o outro Fernando, o artista das casinhas de cartão, e o Carlitos!... Recuperado, bem barbeado, surpreendeu-nos no Carregal a dar conta de que está ocupado e até tem intervido em acções de formação. Boa!... As boas notícias são de dar a conhecer. Nunca tudo está perdido. Há que manter a Esperança. Perdido está às vezes o passado, mas há sempre um futuro que pode depender de nós. Temos de o aproveitar!
Um grande e sentido abraço selou o reencontro. Ainda há uma hora tinha perguntado por ele aos Samaritanos...
Neste dia trazíamos por tema a leitura de Actos, 15, 7-12, em que Pedro diz que Deus o escolheu para levar aos pagãos o Evangelho para eles abraçarem a Fé. E, no Aleixo, tivémos ocasião de tomar o lugar de Pedro em franco diálogo com o Rui, ateu ou agnóstico, muito ocupado com todas as coisas menos com as de Deus e da sua alma. Descreveu-nos a sua iniciação nas drogas duras aos 16 anos, após demorada experiência com os charros, que eram o seu centro de interesse e da sua roda de amigos até àquela altura. Muito inteligente, durante o nosso curto diálogo desfez alguns mitos que lhe povoavam o espírito, ideias e frases feitas nunca antes discutidas e aceites como boas "porque sim", porque dá trabalho debruçarmo-nos sobre assuntos que não fazem parte do nosso quotidiano e "são uma maçada", "betices". Queria deixar "aquela vida", mas as diversas tentativas falhadas que já fez levam-no a desistir...
E ali estava ele, entretido com o pacotinho "milagroso" de coca e heroína que fazia saltitar entre os dedos enquanto a conversa se estendia...
Despediu-se, surpreso por ter conversado com "católicos" que dizia detestar, e, pior, de ter feito amizade com "eles" ao menos durante uns largos minutos daquela noite!
Rezámos por ele, pela sua incapacidade de mudar, e por quantos que, como ele, também anseiam por uma vida nova sem vislumbrarem uma saída.
A FÉ!... É a Fé que tem poder de os fazer mudar. Sem fé nada poderá mudar, com fé até montanhas poderão ser removidas... O que é indispensável é que se acredite mesmo no que nos parece ser impossível!
Terminou a nossa noite na rua. Mas continuou em cada um de nós no eco que nos deixou a história do Rui, a sua vida que nunca deixou de ser atribulada mau grado a grande capacidade de a ter feito diferente do que de facto é!

"Nossa Senhora lhes dê a mão!...".
Carlos

1 comentário:

L disse...

A sua capacidade de síntese e de boa redacção continua a ser a ideal para os relatos da saída do grupo!

Amen!

Saudações cordiais!

Pax