«A crise está a ser usada para desculpar responsabilidades políticas do Governo, acusa o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, a propósito do aumento do número de famílias em dificuldades para pagar as creches e os lares de idosos.
O dado consta de um relatório que a Confederação das Instituições Particulares de Solidariedade Social vai enviar ainda esta semana ao Executivo.
Em entrevista à Renascença, o Padre Agostinho Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, explica esta situação com o aumento do desemprego e deixa aviso: é preciso apelar à solidariedade e não criar no país uma mentalidade pessimista e populista.
“Eu penso que se está a querer tapar o sol com a peneira, isto é, a crise está a ser usada para desculpar responsabilidades políticas do Governo”, afirma.
O Padre Agostinho Jardim Moreira critica as “políticas assistencialistas” e as “respostas pontuais” aos problemas, e defende a necessidade de atacar as “causas estruturais da pobreza em Portugal”.
Para finalizar a proposta de meditação dos Irmãos Dehonianos a propósito do Domingo de Pascoela, eis-nos chegados à terceira leitura do Evangelho. Ao contrário das anteriores mensagens, ouçamos primeiro o «Concerto per Flautino», RV443, terceiro andamento, de Antonio Vivaldi, e partamos de seguida à descoberta da palavra da Vida.
Evangelho segundo São João, 20, 19-31
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
AMBIENTE
Continuamos na segunda parte do Quarto Evangelho, onde nos é apresentada a comunidade da Nova Aliança. A indicação de que estamos no “primeiro dia da semana” faz, outra vez, referência ao tempo novo, a esse tempo que se segue à morte/ressurreição de Jesus, ao tempo da nova criação.
A comunidade criada a partir da acção criadora e vivificadora de Jesus está reunida no cenáculo, em Jerusalém. Está desamparada e insegura, cercada por um ambiente hostil. O medo vem do facto de não terem, ainda, feito a experiência de Cristo ressuscitado.
João apresenta, aqui, uma catequese sobre a presença de Jesus, vivo e ressuscitado, no meio dos discípulos em caminhada pela história. Não lhe interessa tanto fazer uma descrição jornalística das aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos; interessa-lhe, sobretudo, afirmar aos cristãos de todas as épocas que Cristo continua vivo e presente, acompanhando a sua Igreja. De resto, cada crente pode fazer a experiência do encontro com o “Senhor” ressuscitado, sempre que celebra a fé com a sua comunidade.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira parte (vers. 19-23), descreve-se uma “aparição” de Jesus aos discípulos. Depois de sugerir a situação de insegurança e de fragilidade em que a comunidade estava (o “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”), o autor deste texto apresenta Jesus “no centro” da comunidade (vers. 19b). Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-Se como ponto de referência, factor de unidade, videira à volta da qual se enxertam os ramos. A comunidade está reunida à volta dele, pois Ele é o centro onde todos vão beber essa vida que lhes permite vencer o “medo” e a hostilidade do mundo.
A esta comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil, Jesus transmite duplamente a paz (vers. 19 e 21: é o “shalom” hebraico, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, vida plena). Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os assustava (a morte, a opressão, a hostilidade do mundo); e que, doravante, os discípulos não têm qualquer razão para ter medo.
Depois (vers. 20a), Jesus revela a sua “identidade”: nas mãos e no lado trespassado, estão os sinais do seu amor e da sua entrega. É nesses sinais de amor e de doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que ama e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.
Em seguida (vers. 22), Jesus “soprou” sobre os discípulos reunidos à sua volta. O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará deles homens novos. Agora, os discípulos possuem o Espírito, a vida de Deus, para poderem – como Jesus – dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que constitui e anima a comunidade de Jesus.
Na segunda parte (vers. 24-29), apresenta-se uma catequese sobre a fé. Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado?
João responde: podemos fazer a experiência da fé em Cristo vivo e ressuscitado na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade, nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de integrar-se e participar da mesma experiência, pretende obter (apenas para si próprio) uma demonstração particular de Deus.
Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade. Porquê? Porque no “dia do Senhor” volta a estar com a sua comunidade. É uma alusão clara ao domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado.
A experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas; mas todos os cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência.
ACTUALIZAÇÃO
Antes de mais, a catequese que João nos apresenta garante-nos a presença de Cristo no meio da sua comunidade em marcha pela história. Os discípulos de Jesus vivem no mundo, numa situação de fragilidade e de debilidade; experimentam, como os outros homens e mulheres, o sofrimento, o desalento, a frustração, o desânimo; têm medo quando o mundo escolhe caminhos de guerra e de violência; sofrem quando são atingidos pela injustiça, pela opressão, pelo ódio do mundo; conhecem a perseguição, a incompreensão e a morte… Mas são sempre animados pela esperança, pois sabem que Jesus está presente, oferecendo-lhes a sua paz e apontando-lhes o horizonte da vida definitiva. O cristão é sempre animado pela esperança que brota da presença a seu lado de Cristo ressuscitado. Não devemos, nunca, esquecer esta realidade.
A presença de Cristo ao lado dos seus discípulos é sempre uma presença renovadora e transformadora. É esse Espírito que Jesus oferece continuamente aos seus, que faz deles homens e mulheres novos, capazes de amar até ao fim, ao jeito de Jesus; é esse Espírito que Jesus oferece aos seus, que faz deles testemunhas do amor de Deus e que lhes dá a coragem e a generosidade para continuarem no mundo a obra de Jesus.
A comunidade cristã gira em torno de Jesus é construída à volta de Jesus e é de Jesus que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito, e não seremos uma comunidade de irmãos… Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte?
A comunidade tem de ser o lugar onde fazemos, verdadeiramente, a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade (no “lado trespassado” e nas chagas de Jesus, expressões do seu amor), que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo. É isso que a nossa comunidade testemunha? Quem procura Cristo ressuscitado, encontra-O em nós? O amor de Jesus – amor total, universal e sem medida – transparece nos nossos gestos?
Não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas, egoístas, que encontramos Jesus ressuscitado; mas encontramo-l’O no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida. O que é que significa, para mim, a Eucaristia?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º DOMINGO DE PÁSCOA (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA
Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo de Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus…
2. BILHETE DE EVANGELHO
Apenas Jesus viveu a sua passagem da morte à vida. Os seus discípulos vão passar do medo à alegria e à paz, basta-lhes uma palavra – “a paz esteja convosco” – e verem as chagas ainda visíveis no Ressuscitado. Basta-lhes um sopro, o do Espírito de Cristo, para se tornarem embaixadores da reconciliação. Tomé vai passar da dúvida à fé, basta-lhe ver e tocar o que Cristo lhe oferece, então ele crê. “Há muitos outros sinais” cumpridos pelo Ressuscitado, precisa o evangelista, mas os que aqui são referidos são-no para que nós mesmos passemos do questionamento à afirmação – “Ele ressuscitou verdadeiramente!” – e para que O reconheçamos hoje, porque Ele não cessa de fazer sinal ainda e sempre.
3. À ESCUTA DA PALAVRA
“Meu Senhor e meu Deus!” Há a “fé do carvoeiro”. Ela não coloca qualquer questão. Ela é, muitas vezes, em si mesma, muito sólida, não se deixa levar por qualquer dúvida. E há uma fé “inquieta”, que não fica em repouso, que procura compreender. A dúvida, então, faz parte desta fé. Certamente, pode haver dúvidas destrutivas, aquela que nasce, por exemplo, de uma inveja, porque se desconfia da infidelidade do outro. Tal não é a dúvida de Tomé. Ele gostaria de acreditar no que lhe dizem os companheiros. Mas esta história da ressurreição de Jesus parece-lhe de tal modo fora da experiência humana mais comum e mais constante, que ele pede, de qualquer modo, um complemento de informação e para ver de mais perto. Não recusa crer, ele quer compreender melhor. A sua dúvida não é fechada, exprime um desejo de ser apoiada na fé. “Deixa de ser incrédulo, sê crente”. Mais do que uma reprovação, Jesus dirige-lhe um convite a ter uma confiança maior, total. Então, o Tomé da dúvida torna-se o Tomé que proclama a sua fé como nenhum dos seus discípulos o fez. Ele grita: “Meu Senhor e meu Deus!” A Igreja não abandonará jamais esta profissão de fé. Hoje ainda, ela termina grande parte das orações dirigidas ao Pai, dizendo: “Por Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Deus e Senhor”. São as próprias palavras de Tomé que alimentam a fé e a oração da Igreja. Então, bem-aventurado Tomé!
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Com Tomé… Ao longo da semana que se segue, a partir do grande encontro que Cristo teve connosco na celebração deste domingo, esforcemo-nos em Lhe dizer, como Tomé, a nossa fé. Somos chamados a um diálogo do coração… Mas daí jorrará uma verdadeira felicidade, que poderemos então partilhar à nossa volta.»
Aqui fica a segunda proposta de meditação dos Irmãos Dehonianos sobre as leituras das Escrituras. A música, no fim do texto, continua a ser de Vivaldi, «Concerto per Flautino», RV443, segundo andamento.
Partilhem!
Leitura da Primeira Epístola de São João, 5, 1-6
Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.
AMBIENTE
«Não é fácil a identificação do autor da Primeira Carta de João. Ele apresenta-se a si próprio como “o Ancião” (cf. 2 Jo 1; 3 Jo 1) e como testemunha da “Vida” manifestada em Jesus (cf. 1 Jo 1,1-3; 4,14); mas não refere o seu nome. A opinião tradicional atribui a Primeira Carta de João (como também a segunda e a terceira Cartas de João) ao apóstolo João; no entanto, essa atribuição é problemática. Em qualquer caso, o autor da carta é alguém que se move no mundo joânico e que conhece bem a teologia joânica. Pode ser esse “João, o Presbítero” conhecido da tradição primitiva e que, aparentemente, era uma personagem distinta do “João, o apóstolo” de Jesus. Também não há, na Carta, qualquer referência a um destinatário, a pessoas ou a comunidades concretas. A missiva parece dirigir-se a um grupo de igrejas ameaçadas pelo mesmo problema (heresias). Trata-se, provavelmente, de igrejas da Ásia Menor (à volta de Éfeso), como diz a antiga tradição.
O autor não se refere, de forma directa, às circunstâncias que motivaram a composição da carta. Do tom polémico que atravessa várias passagens, pode concluir-se que as comunidades às quais a carta se dirige vivem uma crise grave. A difusão de doutrinas incompatíveis com a revelação cristã ameaça comprometer a pureza da fé.
Quem são os autores dessas doutrinas heréticas? O autor da Carta chama-lhes “anti-cristos” (1 Jo 2,18.22; 4,3), “profetas da mentira” (1 Jo 4,1), “mentirosos” (1 Jo 2,22). Diz que eles “são do mundo” (1 Jo 4,5) e deixam-se levar pelo espírito do erro (1 Jo 4,6). Até há pouco tempo pertenciam à comunidade cristã (1 Jo 2,19); mas agora saíram e procuram desencaminhar os crentes que permaneceram fiéis (cf. 1 Jo 2,26; 3,7).
Em que consistia este “erro”? Os heréticos em causa pretendiam “conhecer Deus” (1 Jo 2,4), “ver Deus” (1 Jo 3,6), viver em comunhão com Deus (1 Jo 2,3) e, não obstante, apresentavam uma doutrina e uma conduta em flagrante contradição com a revelação cristã. Recusavam-se a ver em Jesus o Messias (cf. 1 Jo 2,22) e o Filho de Deus (cf. 1 Jo 4,15), recusavam a encarnação (cf. 1 Jo 4,2). Para estes hereges, o Cristo celeste tinha-Se apropriado do homem Jesus de Nazaré na altura do Baptismo (cf. Jo 1,32-33), tinha-o utilizado para levar a cabo a revelação e tinha-o abandonado antes da paixão, porque o Cristo celeste não podia padecer. O comportamento moral destes hereges não era menos repreensível: pretendiam não ter pecados (cf. 1 Jo 1,8.10) e não guardavam os mandamentos (cf. 1 Jo 2,4), em particular o mandamento do amor fraterno (cf. 1 Jo 2,9). Tudo indica que estejamos diante de um desses movimentos pré-gnósticos que irá desembocar, mais tarde, nos grandes movimentos gnósticos do séc. II. O objectivo do autor da Carta é, portanto, advertir os cristãos contra as pretensões destes pregadores heréticos e explicar-lhes os critérios da vida cristã autêntica. Na confusão causada pelas doutrinas heréticas, o autor da Carta quer oferecer aos crentes uma certeza: são eles e não esses profetas da mentira que vivem em comunhão com Deus e que possuem a vida divina.
MENSAGEM
Quais são, então, os critérios da vida cristã autêntica, que distinguem os verdadeiros crentes dos profetas da mentira? Antes de mais, os verdadeiros crentes são aqueles que amam a Deus e que amam, também, Jesus Cristo, o Filho que nasceu de Deus (vers. 1). Jesus de Nazaré é, ao contrário do que diziam os hereges, Filho de Deus desde a encarnação e durante toda a sua existência terrena. A sua paixão e morte também fazem parte do projecto salvador de Deus (Jesus veio apresentar aos homens um projecto de salvação, “não só pela água, mas com a água e o sangue” – vers. 6).
No entanto, amar a Deus significa cumprir os seus mandamentos. Quando amamos alguém, procuramos realizar obras que agradem àquele a quem amamos… Não se pode dizer que se ama a Deus se não se cumprem os seus mandamentos… E o mandamento de Deus é que amemos os nossos irmãos. Todo aquele que se considera filho de Deus e que pertence à família de Deus deve amar os irmãos que são membros da mesma família. Quem não ama os irmãos, não pode pretender amar a Deus e fazer parte da família de Deus (vers. 2-3). Quando o crente ama a Deus, acredita que Jesus é o Filho de Deus e vive de acordo com os mandamentos de Deus (sobretudo com o mandamento do amor aos irmãos), vence o mundo. Amar Deus, amar Jesus e amar os irmãos significa construir a própria vida numa dinâmica de amor; e significa, portanto, derrotar o egoísmo, o ódio, a injustiça que caracterizam a dinâmica do mundo (vers. 4-5).
Esta vida nova que permite aos crentes vencer o mundo é oferecida aos homens através de Jesus Cristo. A vida nova que Jesus veio oferecer chega aos homens pela “água” (Baptismo – isto é, pela adesão a Cristo e à sua proposta) e pelo “sangue” (alusão à vida de Jesus, feita dom na cruz por amor). O Espírito Santo atesta a validade e a verdade dessa proposta trazida por Jesus Cristo, por mandato de Deus Pai (vers. 6).
Quando o homem responde positivamente ao desafio que Deus lhe faz (Baptismo), oferece a sua vida como um dom de amor para os irmãos (a exemplo de Cristo) e cumpre os mandamentos de Deus, vence o mundo, torna-se filho de Deus e membro da família de Deus.
ACTUALIZAÇÃO
Na perspectiva do autor da Primeira Carta de João, o projecto de salvação que Deus apresentou ao homem passa por Jesus – o Jesus que encarnou na nossa história, que nos revelou os caminhos do Pai, que com a sua morte mostrou aos homens o amor do Pai e que nos ensinou a amar até ao extremo do dom total da vida. Também na paixão e morte de Jesus se nos revela o caminho para nos tornarmos “filhos de Deus”: o processo passa por seguir o caminho de Jesus e por fazer da nossa vida um dom total de amor a Deus e aos nossos irmãos. Que é que Jesus significa para nós? Ele foi apenas um “homem bom” que a morte derrubou? Ou Ele é o Filho de Deus que veio ao nosso encontro para nos propor o caminho do amor total, a fim de chegarmos à vida definitiva? O caminho do amor, do dom, do serviço, da entrega que Cristo nos propôs é uma proposta que assumimos e procuramos viver?
Amar a Deus e aderir a Jesus implica, na perspectiva do autor da Primeira Carta de João, o amor aos irmãos. Quem não ama os irmãos, não cumpre os mandamentos de Deus e não segue Jesus. É preciso que a nossa existência – a exemplo de Jesus – seja cumprida no amor a todos os que caminham pela vida ao nosso lado, especialmente aos mais pobres, aos mais humildes, aos marginalizados, aos abandonados, aos sem voz. O amor total e sem fronteiras, o amor que nos leva a oferecer integralmente a nossa vida aos irmãos, o amor que se revela nos gestos simples de serviço, de perdão, de solidariedade, de doação, está no nosso programa de vida?
O autor da Primeira Carta de João ensina, ainda, que o amor a Deus e a adesão a Cristo “vencem o mundo”. Os cristãos não se conformam com a lógica de egoísmo, de ódio, de injustiça, de violência que governa o mundo; a esta lógica, eles contrapõem a lógica do amor, a lógica de Jesus. O amor é um dinamismo que vence tudo aquilo que oprime o homem e que o impede de chegar à vida verdadeira e definitiva, à felicidade total. Ainda que o amor pareça, por vezes, significar fragilidade, debilidade, fracasso, frente à violência dos poderosos e dos senhores do mundo, a verdade é que o amor terá sempre a última e definitiva palavra. Só ele assegura a vida verdadeira e eterna, só ele é caminho para o mundo novo e melhor com que os homens sonham.»
É este o NIB da conta bancária que a Igreja Católica de Portugal abriu para todos os interessados em contribuir para o programa «Igreja Solidária». Conforme publicado no blog, a Igreja Católica iniciou um movimento de auxílio a todos os que passam por dificuldades nestes tempos de abundância e misérias. Contribua com aquilo que puder. Certamente irá fazer a diferença. E não se trata de tele-caridade...
Após a consulta às leituras para este Domingo no sítio da Agencia Ecclesia, detivemo-nos na proposta de meditação dos Dehonianos. Assim, para este Domingo de Pascoela, propomos não só a leitura das Escrituras, como também um texto sobre a partilha dos bens (vide Intenção Geral do Papa para Abril de 2009, já colocado neste blog). A música para acompanhar o texto chega-nos de Antonio Vivaldi. O «Concerto per Flautino», (RV 443), primeiro andamento.
Depois das Leituras, fica a primeira proposta de meditação (Act. 4, 32-35), deixando as seguintes para ao longo desta semana que agora inicia. Ficam desde já convidados para (re)lerem os Textos e as propostas meditativas seguintes para terça e quinta-feira que vêm. Como sabem, qualquer participação vossa é bem-vinda para o debate.
Votos de uma semana cheia de Vida!
L.
Leitura dos Actos dos Apóstolos, 4, 32-35
Partilha dos bens
«A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.»
Evangelho segundo São João, 5, 1-6
Leitura da Primeira Epístola de São João
Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.»
Evangelho segundo São João, 20, 19-31
«Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
"A paz esteja convosco"
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo:
"A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós".
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos".
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos:
"Vimos o Senhor".
Mas ele respondeu-lhes:
"Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei".
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse:
"A paz esteja convosco".
Depois disse a Tomé:
"Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente".
Tomé respondeu-Lhe:
"Meu Senhor e meu Deus!"
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.»
A primeira meditação
«A liturgia deste domingo apresenta-nos essa comunidade de Homens Novos que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição.Na primeira leitura temos, numa das “fotografia” que Lucas apresenta da comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade formada por pessoas diversas, mas que vivem a mesma fé num só coração e numa só alma; é uma comunidade que manifesta o seu amor fraterno em gestos concretos de partilha e de dom e que, dessa forma, testemunha Jesus ressuscitado.No Evangelho sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.A segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã os critérios que definem a vida cristã autêntica: o verdadeiro crente é aquele que ama Deus, que adere a Jesus Cristo e à proposta de salvação que, através d’Ele, o Pai faz aos homens e que vive no amor aos irmãos. Quem vive desta forma, vence o mundo e passa a integrar a família de Deus».
Os Irmãos Dehonianos presenteiam-nos generosamente com três belas meditações que se concluem como uma única. Introduzem-nos, também, no ambiente, na mensagem e na actualização da mesma. Eis aqui a primeira proposta:
AMBIENTE
Os “Actos dos Apóstolos” são uma catequese sobre a “etapa da Igreja”, isto é, sobre a forma como os discípulos assumiram e continuaram o projecto salvador do Pai e o levaram – após a partida de Jesus deste mundo – a todos os homens.
O livro divide-se em duas partes. Na primeira (cf. Act 1-12), a reflexão apresenta-nos a difusão do Evangelho dentro das fronteiras palestinas, por acção de Pedro e dos Doze; a segunda (cf. Act 13-28) apresenta-nos a expansão do Evangelho fora da Palestina (até Roma), sobretudo por acção de Paulo. O texto que hoje nos é proposto pertence à primeira parte do Livro dos Actos dos Apóstolos. Faz parte de um conjunto de três sumários, através dos quais Lucas descreve aspectos fundamentais da vida da comunidade cristã de Jerusalém.
Um primeiro sumário é dedicado ao tema da unidade e ao impacto que o estilo cristão de vida provocou no povo da cidade (cf. Act 2,42-47); um segundo sumário (e que é exactamente o texto que nos é hoje proposto) refere-se sobretudo à partilha dos bens (cf. Act 4,32-35); o terceiro trata do testemunho que a Igreja dá através da actividade miraculosa dos apóstolos (cf. Act 5,12-16).
Naturalmente, estes sumários não são um retrato histórico rigoroso da comunidade cristã de Jerusalém, no início da década de 30 (embora possam ter algumas bases históricas). Quando Lucas escreve estes relatos (década de 80), arrefeceu já o entusiasmo inicial dos cristãos: Jesus nunca mais veio para instaurar definitivamente o “Reino de Deus”, e posicionam-se no horizonte próximo as primeiras grandes perseguições… Há algum desleixo, falta de entusiasmo, monotonia, divisão e confusão (até porque começam a aparecer falsos mestres, com doutrinas estranhas e pouco cristãs).
Neste contexto, Lucas recorda o essencial da experiência cristã e traça o quadro daquilo que a comunidade deve ser.
MENSAGEM
Como será, então, essa comunidade ideal, que nasce do Espírito e do testemunho dos apóstolos?Em primeiro lugar, é uma comunidade formada por pessoas muito diversas, mas que abraçaram a mesma fé (“a multidão dos que tinham abraçado a fé” – vers. 32a). A “fé” é, no Novo Testamento, a adesão a Jesus e ao seu projecto. Para todos os membros da comunidade, o Senhor Jesus Cristo é a referência fundamental, o cimento que a todos une num projecto comum.
Em segundo lugar, é uma comunidade unida, onde os crentes têm “um só coração e uma só alma” (vers. 32a). Da adesão a Jesus resulta, obrigatoriamente, a comunhão e a união de todos os “irmãos” da comunidade. A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade onde cada um puxa para o seu lado, preocupado em defender apenas os seus interesses pessoais; mas tem de ser uma comunidade onde todos caminham na mesma direcção, ajudando-se mutuamente, partilhando os mesmos valores e os mesmos ideais, formando uma verdadeira família de irmãos que vivem no amor.
Em terceiro lugar, é uma comunidade que partilha os bens. Da comunhão com Cristo resulta a comunhão dos cristãos entre si; e isso tem implicações práticas. Em concreto, implica a renúncia a qualquer tipo de egoísmo, de auto-suficiência, de fechamento em si próprio e uma abertura de coração para a partilha, para o dom, para o amor. Expressão concreta dessa partilha e desse dom é a comunhão dos bens: “ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum” – vers. 32b). Num desenvolvimento que explicita este “pôr em comum”, Lucas conta que “não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade” (vers. 34-35). É uma forma concreta de mostrar que a vida nova de Jesus, assumida pelos crentes, não é “conversa fiada”; mas é uma efectiva libertação da escravidão do egoísmo e um compromisso verdadeiro com o amor, com a partilha, com o dom da vida.
Num mundo onde a realização e o êxito se medem pelos bens acumulados e que não entende a partilha e o dom, a comunidade de Jesus é chamada a dar exemplo de uma lógica diferente e a propor uma mundo que se baseie nos valores de Deus.Finalmente, é uma comunidade que dá testemunho: “os apóstolos davam testemunho da ressurreição de Jesus com grande poder” (vers. 33).
Os gestos realizados pelos apóstolos infundiam em todos aqueles que os testemunhavam a inegável certeza da presença de Deus e dos seus dinamismos de salvação.A primitiva comunidade cristã, nascida do dom de Jesus e do Espírito, é verdadeiramente uma comunidade de homens e mulheres novos, que dá testemunho da salvação e que anuncia a vida plena e definitiva. A fé dos discípulos, a sua união e, mais do que tudo, essa “ilógica” e “absurda” partilha dos bens eram a “prova provada” de que Cristo estava vivo e a actuar no mundo, oferecendo aos homens um mundo novo. A Cristo ressuscitado, os habitantes de Jerusalém não podiam ver; mas o que eles podiam ver era a espantosa transformação operada no coração dos discípulos, capazes de superar o egoísmo, o orgulho e a auto-suficiência e de viver no amor, na partilha, no dom.
Viver de acordo com os valores de Jesus é a melhor forma de anunciar e de testemunhar que Jesus está vivo. A comunidade cristã de Jerusalém era, de facto, esta comunidade ideal? Possivelmente, não (outros textos dos Actos falam-nos de tensões e problemas – como acontece com qualquer comunidade humana); mas a descrição que Lucas aqui faz aponta para a meta a que toda a comunidade cristã deve aspirar, confiada na força do Espírito.Trata-se, portanto, de uma descrição da comunidade ideal, que pretende servir de modelo à Igreja e às Igrejas de todas as épocas.
ACTUALIZAÇÃO
A comunidade cristã é uma “multidão” que abraçou a mesma fé – quer dizer, que aderiu a Jesus, aos seus valores, à sua proposta de vida. A Igreja não é um grupo unido por uma ideologia, ou por uma mesma visão do mundo, ou pela simpatia pessoal dos seus membros; mas é uma comunidade que agrupa pessoas de diferentes raças e culturas, unidas à volta de Jesus e do seu projecto de vida e que de forma diversa procuram incarnar a proposta de Jesus na realidade da sua vida quotidiana.
Que lugar e que papel Jesus e as suas propostas ocupam na minha vida pessoal e na vida da minha comunidade cristã? Jesus é uma referência distante e pouco real, ou é uma presença constante, que me interroga, que me questiona e que me aponta caminhos?• A comunidade cristã é uma família unida, onde os irmãos têm “um só coração e uma só alma”. Tal facto resulta da adesão a Jesus: seria um absurdo aderir a Jesus e ao seu projecto e, depois, conduzir a vida de acordo com mecanismos de divisão, de afastamento, de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência…
A minha comunidade cristã é uma comunidade de irmãos que vivem no amor, ou é um grupo de pessoas isoladas, em que cada um procura defender os seus interesses, mesmo que para isso tenha de magoar e de espezinhar os outros? No que me diz respeito, esforço-me por amar todos, por respeitar a liberdade e a dignidade de todos, por potenciar os contributos e as qualidades de todos?
A comunidade cristã é uma comunidade de partilha. No centro dessa comunidade está o Cristo do amor, da partilha, do serviço, do dom da vida… O cristão não pode, portanto, viver fechado no seu egoísmo, indiferente à sorte dos outros irmãos. Em concreto, o nosso texto fala na partilha dos bens… Uma comunidade onde alguns esbanjam os bens e onde outros não têm o suficiente para viver dignamente, será uma comunidade que testemunha, diante dos homens, esse mundo novo de amor que Jesus veio propor? Será cristão aquele que, embora indo à igreja, só pensa em acumular bens materiais, recusando-se a escutar os dramas e sofrimentos dos irmãos mais pobres? Será cristão aquele que, embora contribuindo com dinheiro para as necessidades da paróquia, explora os seus operários ou comete injustiças?
A comunidade cristã é uma comunidade que testemunha o Senhor ressuscitado. Como? Através do discurso apologético dos discípulos? Através de palavras elegantes e de discursos bem elaborados, capazes de seduzir e de manipular as massas? O testemunho mais impressionante e mais convincente será sempre o testemunho de vida dos discípulos.
Se conseguirmos criar verdadeiras comunidades fraternas, que vivam no amor e na partilha, que sejam sinais no mundo dessa vida nova que Jesus veio propor, estaremos a anunciar que Jesus está vivo, que está a actuar em nós e que, através de nós, Ele continua a apresentar ao mundo uma proposta de vida verdadeira.»
Que o Criador abençoe o trabalho dos agricultores com colheitas abundantes e torne sensíveis os povos mais ricos ao drama da fome no mundo.
1. Respeitar os agricultores
Ao longo dos séculos, um dos trabalhos mais menosprezados tem sido aquele do qual depende tudo o resto: a agricultura. Aos agricultores coube quase sempre a pior das sortes entre as diversas classes sociais: explorados pelos grandes senhores das terras ou pelos grandes grupos económicos que comercializam os alimentos; trabalhando todo o ano, de sol a sol, sem horários, férias ou salário fixo; dependentes do clima favorável ou inclemente; considerados incultos, ignorantes e olhados com ares de superioridade, sobretudo pelos citadinos; abandonados à sua sorte nas aldeias, sempre os últimos a dispor dos bens da civilização e do progresso...
O seu trabalho é ignorado pela maior parte e desprezado por muitos; no entanto, são eles quem coloca na mesa de todos os alimentos indispensáveis à vida. Nos países economicamente mais desenvolvidos, esta atitude foi-se alterando, sobretudo porque o número de agricultores foi diminuindo. Continua, porém, a ser comum a sua discriminação: porque os outros trabalhadores têm direitos de que eles nunca gozam; porque os bens por eles produzidos são constantemente desvalorizados e pagos a preços irrisórios; porque muitos os vêm como “parasitas”, sempre à busca de subsídios governamentais. E, no entanto, repito, todos nos alimentamos com o fruto do seu trabalho!
2. O cuidado da terra
Muito antes de a ecologia se tornar moda, já os agricultores cuidavam da terra com carinho e velavam para que ela produzisse os seus frutos. A industrialização da agricultura foi meio caminho andado para se perder esta sabedoria ancestral de quem vivia ao ritmo das estações e tratava a terra, as plantas e os animais com respeito amigo e reconhecido. A crise alimentar vivida no ano passado, embora mais especulativa do que real, foi um alerta para a urgência de voltar a uma relação de proximidade com a terra, não deixando campos produtivos ao abandono e promovendo a ocupação humana dos espaços rurais.
Esta ocupação é uma “reserva estratégica” que nenhum país deveria descuidar e só ela permite uma verdadeira ecologia, protagonizada por quem cuida daquilo que conhece – sem idolatrias nem agressões próprias de gente que da terra e dos seus ritmos conhece, quando muito, o que lê nos livros.
3. Alimentos para todos
Noutros séculos, as grandes fomes eram motivadas, ou pelas guerras ou por colheitas escassas. Na segunda metade do século XX, depois das grandes fomes causadas pelas duas guerras mundiais, surgiu um fenómeno novo: populações inteiras, sobretudo em África e também em certas regiões da Ásia, foram deixadas à fome, por incúria dos respectivos governos e desinteresse dos países economicamente mais desenvolvidos. E, ao contrário do que muitos proclamavam e continuam a proclamar, estas situações não resultam da falta de alimentos – antes coincidem com produções excedentárias e enormes desperdícios. Basta atender aos números: mais de mil e 400 milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia; metade dos alimentos produzidos actualmente é desperdiçada – se assim não fosse, chegariam para alimentar toda a população actual e aquela que se prevê venha a existir em 2050; um terço do leite produzido nunca é utilizado; um quarto da produção americana de frutos e vegetais apodrece na distribuição; metade do lixo dos aterros australianos é constituída por restos alimentares; um terço dos alimentos comprados na Grã-Bretanha nunca é consumido...
4. Urgência planetária
São números arrasadores, os números da nossa vergonha. E a aumentar esta vergonha, pulula entre nós, os da sociedade da abundância e do desperdício, gente sem-vergonha, empenhada em alarmismos ecológicos, falando do esgotamento dos recursos naturais, da sobrepopulação do planeta, da incapacidade da Terra para alimentar a todos, da necessidade de reduzir a natalidade, da urgência em promover o aborto nos países mais pobres...
A urgência é outra: um comércio mundial mais justo; maior respeito pelas nações menos desenvolvidas economicamente; verdadeira solidariedade entre as nações; e, sobretudo, um empenho claro em promover formas de governação rigorosas, respeitadoras dos povos e promotoras de verdadeiro desenvolvimento ao serviço de todos e não apenas dos poderosos.O Criador abençoou-nos com colheitas abundantes, mercê da inteligência que nos concedeu e tantos colocam o serviço do bem comum.
Falta-nos usar esta bênção com sabedoria e gratidão, não permitindo a uns poucos apropriarem-se dos bens da terra, enquanto multidões nem sequer podem mitigar a fome com as migalhas desta abundância. Enquanto assim for, bem podemos esperar ouvir: “Já colhestes a vossa recompensa”.
A estação televisiva SIC noticiou hoje no seu «Primeiro Jornal» a iniciativa da Igreja Católica, «Igreja Solidária», com vista a dar resposta «às situações de pobreza criadas pela crise económica e financeira, ...». O Franjas Sociais publica na íntegra a notícia e dois dos três vídeos disponíveis no fim do texto. A «Igreja Solidária» em acção. Como sempre.
“Igreja Solidária” quer dar ajuda básica e apoio na saúde
O projecto “Igreja Solidária”, hoje em debate pelo Cardeal Patriarca de Lisboa e pelas paróquias, desenvolve-se em três planos, sendo que o último, relativo aos cuidados continuados de saúde, só deverá ser desenvolvimento a longo prazo.
O projecto, que abrange inicialmente a área do Patriarcado de Lisboa, pretende ser uma resposta da Igreja Católica às situações de pobreza criadas pela crise económica e financeira, e aposta sobretudo num esforço-extra das instituições de apoio social ligadas à Igreja, no seu trabalho em rede e na convergência de acções com o Estado.
O primeiro plano deste projecto é atender às situações de carência básica, como a alimentação, e o apoio ao pagamento das rendas de casa e, sobretudo, da medicação, especialmente no caso dos idosos.
O apoio pode também chegar à ajuda às famílias no pagamento das mensalidades dos filhos que frequentem estabelecimentos ou instituições escolares ligadas à Igreja. Os responsáveis do projecto já obtiveram o apoio do Banco Alimentar e esperam conseguir sensibilizar a banca e as empresas para a constituição de um fundo que permita acorrer às necessidades, para além de confiarem na "habitual generosidade dos portugueses", referiu à Lusa o cónego Francisco Crespo.
Além disso, vai ser pedido um esforço-extra às instituições, para irem além do que está acordado com o Estado em termos de apoios.
O Estado, afirmou Francisco Crespo, "está muito rígido" no que diz respeito ao alargamento do âmbito dos acordos, situação que cria dificuldades às instituições, que recebem mais pedidos de ajuda do que os existentes nos protocolos.
"Essa é a nossa grande dificuldade: não queremos que os 20 que estão fora do acordo fiquem sem alimentação", disse o cónego Francisco Crespo, que indicou que vai ser feita ainda uma tentativa de fornecer mais do que uma refeição.
"Muitas das pessoas só comem a refeição que lhes é dada pelo Centro Social Paroquial", lamentou.
Cada instituição apresenta os seus casos mais prementes, que serão estudados por técnicos de uma comissão coordenadora, sob a direcção da Caritas Diocesana, para atribuição dos apoios monetários.
Quanto à questão do desemprego, admitindo que "é difícil encontrar uma resposta para os desempregados", o cónego Francisco Crespo referiu ser necessária a boa-vontade do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social para a celebração de protocolos que permitam que os beneficiários do subsídio de desemprego tenham possibilidade de trabalhar nas instituições de apoio social da Igreja.
Também a falta de técnicos nas várias instituições poderia ser suprida com a celebração de acordos de estágios profissionais nos centros sociais e nas outras instituições de apoio social, acrescentou.
O último nível de intervenção do projecto, que admite não ser para já, "pois é um bocado complicado", tem a ver com a vontade das comunidades paroquiais criarem espaços para cuidados continuados de saúde, atendendo os idosos e doentes da respectiva área, libertando espaço nas unidades hospitalares.
"Os equipamentos têm custos que as instituições não conseguem suportar. São custos enormes no que diz respeito à construção e à sua manutenção", referiu, indicando que a actual legislação, que considerou rígida, desincentiva este tipo de apoio social por parte das instituições da Igreja.
"A rede é mesmo uma rede e não se limita a prestar apoio às comunidades. Um doente de Santa Maria pode ir parar ao Minho, a Trás-os-Montes ou à zona oeste de Lisboa, ou a muitas centenas de quilómetros, separando-o do seu meio e da sua família", salientou, defendendo a revisão da legislação.
É Páscoa, momento alto de vivências, de tradições… O nosso sentimento de Cristãos impõe-nos o dever de dedicarmos uma atenção especial nesta quadra ao nosso modo de inserção na família, no ambiente social, no Mundo…
A nossa Redenção, que teve início no Natal, com o nascimento de Jesus, culminou na Sexta-feira Santa com a SUA entrega total por nós, e continua na PÁSCOA em que, Ressuscitando, nos demonstrou que a vida continua mesmo para além da morte terrena… Muitos se questionam porque motivo Ele se deixou morrer. Teria tido necessidade de tanto sofrimento para nos salvar, Ele que é DEUS? Não bastaria apenas um olhar Seu, um gesto, um sacrifício menor?... Creio que não foi por ELE querer que teve de sofrer tanto. Dele era a disposição de tudo fazer para a nossa salvação, incluindo a doação total se Lhe fosse exigida. E FOI!... Por quem?
Recordemos as palavras consagradas no filme de Mel Gibson:
“Afinal, Quem és Tu? Homem algum aguentaria tanto sofrimento”!...
O desafio do Mal exigiu-Lhe o sacrifício total, esperando sempre vê-Lo desistir… Mas o Seu Amor é tão grande que superou toda a dor que teve de suportar, e REDIMIU-NOS, RECONQUISTOU-NOS para Si, para o Seu AMOR! Venceu a Morte, o Pecado, o Mal…
E eis-nos chegados a mais uma Páscoa em que celebramos a Sua doação por nosso amor, a Redenção de todos e cada um de nós. Que o sentimento de gratidão a Cristo prevaleça sobre as amêndoas e os folares e que estes sirvam para manifestarmos a nossa alegria pela Redenção, e que não sirvam para nos esquecermos que Jesus veio para nos dar VIDA, e VIDA EM ABUNDÂNCIA, com alegria!
Ao Comentário que me chegou permito-me acrescentar o que segue. Mas leiam primeiro e voltem ao princípio depois se acharem necessário:
(E esquece-se até a "nossa" Constituição? Aonde vamos ou chegámos?!... Ora vejam:
Artº. 36º., nº. 5: "Os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção dos filhos";
Artº. 41º., nº. 1: "A liberdade de consciência, de religião e de culto é inviolável";
Artº. 41º., nº. 5: "É garantida a liberdade de ensino de qualquer religião praticado no âmbito da respectiva confissão, bem como a utilização de meios de comunicação próprios para o prosseguimento das suas actividades";
Artº. 43ª., nº. 1: "É garantida a liberdade de aprender e ensinar"; Idem, nº. 2: "O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas").
A educação sexual que pretendem instaurar nas escolas obedece a uma visão e ideologia socialista e, mais que ateista, anti-deista, o que vai frontalmente contra os direitos enunciados, directa ou indirectamente. Por isso temos de nos opôr tenazmente a esta nova TIRANIA, a esta nova forma de DITADURA!)
SABIA QUE FOI APROVADA, NA GENERALIDADE UMA LEI QUE PRETENDE IMPOR EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS OBRIGATÓRIA PARA TODOS SEGUNDO IDEOLOGIAS SÓ de ALGUNS?!!!
Sabia que esta lei impõe um modelo de educação sexual que vai abertamente contra a moral cristã e contra a escolha de muitas famílias? Sabia que esta obrigatoriedade se estende dos 5 anos de idade até ao 12º ano de escolaridade, em todas as escolas públicas e em todas as escolas privadas que tenham parceria com o Estado? Sabia que a família tem o dever e o direito de educar os seus filhos em liberdade, segundo os princípios ideológicos e religiosos em que acredita, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Art. 26, assinada pelo Estado Português? Sabia que a educação sexual dada na escola pode marcar muito negativamente as crianças e os jovens?
Veja os seguintes casos reais (com nomes fictícios, claro!): Uma menina de 5 ou 6 anos após detalhadas explicações sobre muco vaginal vomitou em plena aula. Que ideia terá ela neste momento sobre sexualidade? Será que nesta idade isto é necessário? Ana, de 8 anos, explicou à mãe que na aula andavam de mão dada: menino com menina, menino com menino, e menina com menina, e davam beijinhos na boca "porque os casais são assim." Será positivo promover a experimentação hetero e homossexual aos 8 anos? Um jovem de 16 anos, abusado em criança e a fazer psicoterapia para ultrapassar o seu horror à sexualidade, viu-se numa aula com um enorme pénis erecto de borracha sobre a secretária ao qual era preciso pôr o preservativo. Foram anos de retrocesso! Se os pais tivessem sido avisados podiam ter evitado a sua presença na aula. A Teresa teve que ver um filme na aula com imagens que a chocaram tanto que se levantava a meio da noite para falar com a mãe sobre o assunto. O filme, de desenhos animados, chocou esta criança mas a outras foi um incentivo à experimentação da actividade ali apresentada como lúdica.
Se há pais que concordam com estes ensinamentos, há outros pais que não concordam. Mas com a educação sexual obrigatória nas escolas só os pais que concordam serão livres! Porquê? Os pais que não concordam não têm direito à liberdade? Ninguém pode impedir ninguém de não ter aulas de educação sexual; mas ninguém pode obrigar ninguém a ter aulas de educação sexual. O tipo de educação sexual proposto nesta lei espelha uma maneira de viver a sexualidade ligado a algumas ideologias mas discrimina outras maneiras de viver a sexualidade!
Em democracia, um grupo não pode impor a outro a sua ideologia através da lei. Isso é ditadura!
Estamos em democracia!
Esta de educação sexual nas escolas imposta obrigatoriamente é uma agressão e uma violência contra a liberdade dos pais e das crianças.
MUITO IMPORTANTE! Exerçamos o nosso direito de cidadania e evitemos que se crie uma lei contra a liberdade de consciência de muitos pais!
(NOTA DO EDITOR: apesar de o prazo para o envio da petição já ter acabado, transcrevemos o resto da mensagem original porque não perde a relevância)
Enviar, até 20 de Março, uma carta semelhante à que está abaixo, para os seguintes endereços electónicos (também pode ser usada essa mesma carta):
Assunto: “Projecto-lei 660/X – Estabelece o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar”.
Ilustríssimos Senhores Deputados da Comissão de Ciência e Educação: No passado dia 19/02/2009 na Reunião Plenária nº. 43, o Parlamento Português deu um sinal forte aos Portugueses de que não representa o sentir de todos os cidadãos, e que se quer intrometer no âmbito da vida privada de cada um, nomeadamente em questões de liberdade de consciência. Recai agora sobre essa comissão a responsabilidade de... esta Lei, que não deverá contrariar a Constituição da República, e deve manifestar respeito pela liberdade de todos os cidadãos, em particular pela liberdade de educação, religiosa e ideológica. Enquanto cidadão, apelo a que tenham em conta o seguinte: A sexualidade tange com direitos de consciência que nenhum Estado ou ideologia pode ditar ou violentar. Tal tem sido o sentido da Jurisprudência firmada pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Esta é aliás uma visão inclusiva e moderna de uma sociedade plural. A educação sexual envolve a estrutura total e intrínseca da pessoa humana, que nasce sexuada, e, por isso, está muito para além de uma matéria ou disciplina escolar. Envolvendo, sempre, critérios valorativos inerentes que não podem ser ignorados. Em democracia, a escola serve para ajudar os pais na educação dos seus filhos, mas não pode nunca sobrepor-se, ou contrariar os pais – Art. 43.º N.º2 da C.R.P. “O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas”. Estamos num Estado de Direito – Art. 26.º, da Constituição da República Portuguesa: “A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade (…) à reserva da intimidade da vida privada e familiar”. Os pais têm o direito à liberdade de pensamento, de ideologia e de religião, e a escola tem unicamente o dever de transmitir conhecimentos científicos e literários, jamais tendo o direito de veicular, em matérias e disciplinas obrigatórias, qualquer tendência de pensamento ou ideológica, pois nesse caso estaria a violar directa e abertamente os direitos dos pais. Há pais que entendem que se reservam o direito da educação dos seus filhos em matéria de educação sexual (contra qualquer imposição abusiva por parte do Estado), porventura com o recurso a ajudas exteriores escolhidas por eles e/ou dadas com o seu consentimento explícito. Assim, EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA – SÓ OPCIONAL! Como cidadão, no Estado Democrático Português, exijo que seja garantida a liberdade de educação, ideológica e religiosa, as quais estão intimamente ligadas com qualquer matéria de educação sexual, e são os pilares de qualquer estado democrático. Aos pais tem de reconhecer-se o direito a serem informados acerca do que as escolas estão a ensinar e, se o desejarem, escolherem para os seus filhos outras disciplinas ou ocupações.
A finalizar esta Semana Santa de meditação, na festa da Páscoa, o relato do evangelista João e música de Olivier Messiaen, «Dieu parmi nous». Deus entre nós.
Bendito Deus nos seus anjos e nos seus santos
N.B. Não posso deixar passar em branco o agradecimento à Agência Ecclesia pela feliz inspiração de colocar passagens das Escrituras Sagradas e música para esta estação de grande emoção, ao sítio das Paróquias pelo fornecimento das Escrituras, aos mensageiros do Youtube por disponibilizarem tão bela música e ao C., editor deste blog por me deixar colocar as mensagens. Obrigado.
Evangelho segundo São João, 20, 1-29
No primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. Correndo, foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o que Jesus amava, e disse-lhes: "O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram". Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Inclinou-se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer, pois ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos. A seguir, os discípulos regressaram a casa.
Maria estava junto ao túmulo, da parte de fora, a chorar. Sem parar de chorar, debruçou-se para dentro do túmulo, e contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés. Perguntaram-lhe: "Mulher, porque choras?" E ela respondeu: "Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram".Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta que era Ele. E Jesus disse-lhe: "Mulher, porque choras? Quem procuras"? Ela, pensando que era o encarregado do horto, disse-lhe: "Senhor, se foste tu que o tiraste, diz-me onde o puseste, que eu vou buscá-lo". Disse-lhe Jesus: "Maria!" Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» - que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: "Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: 'Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus". Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: "Vi o Senhor!" E contou o que Ele lhe tinha dito.
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: "A paz esteja convosco!" Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: "A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós." Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos." Tomé, um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. Diziam-lhe os outros discípulos: "Vimos o Senhor!" Mas ele respondeu-lhes: "Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito." Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: "A paz seja convosco!" Depois, disse a Tomé: "Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel." Tomé respondeu-lhe: "Meu Senhor e meu Deus!" Disse-lhe Jesus: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!".
Em vésperas de Domingo de Páscoa publicamos a penúltima proposta musical para esta semana: «Dolorosa», do Stabat Mater de Giovanni Battista Pergolesi.Contemplemos a Mãe cheia de dor pela morte de Seu querido Filho. Contemplemos as mães que choram os seus filhos. Para leitura e reflexão este texto da Sagrada Escritura.
Evangelho de São Mateus Mt. 9-, 14-15
«Depois, foram ter com Ele os discípulos de João, dizendo: "Porque é que nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?" Jesus respondeu-lhes: "Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o esposo está com eles? Porém, hão-de vir dias em que lhes será tirado o esposo e, então, hão-de jejuar."».
Chegamos à hora última! O Cristo expira depois de tanto horror sofrido. Sejamos humildes perante o Filho, porque assim o seremos perante o Pai. A proposta musical para este dia é um cântico da Igreja oriental que nos relata a Paixão do Senhor, segundo o Evangelho de Mateus:
Evangelho de São Mateus Mt. 27, 32-56
À saída, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus.Quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, isto é, "Lugar do Crânio", deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas Ele, provando-o, não quis beber. Depois de o terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte. Ficaram ali sentados a guardá-lo. Por cima da sua cabeça, colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: "Este é Jesus, o rei dos Judeus." Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda.Os que passavam injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: "Tu, que destruias o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!" Os sumos sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo: "Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos nele. Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: 'Eu sou Filho de Deus!'" Até os salteadores, que estavam com Ele crucificados, o insultavam.
Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-lo, disseram: "Está a chamar por Elias." Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. Mas os outros disseram: "Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo." E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou. Então, o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. A terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos, que estavam mortos, ressuscitaram; e, saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram apavorados e disseram: "Este era verdadeiramente o Filho de Deus!" Estavam ali a observar de longe muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.»
Contemplemos Jesus à mercê da miséria popular e da indiferença de Pilatos. Como audição, escutemos o Evangelho de Mateus cantado pela Igreja oriental.
Evangelho de São Mateus Mt. 27, 11-26
Jesus perante o tribunal romano - Jesus foi conduzido à presença do governador, que lhe perguntou: "Tu és o Rei dos Judeus?" Jesus respondeu: "Tu o dizes." Mas, ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu.Pilatos disse-lhe, então: "Não ouves tudo o que dizem contra ti?" Mas Ele não respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado.
Ora, por ocasião da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo. Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás. Pilatos perguntou ao povo, que se encontrava reunido: "Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?" Ele sabia que o tinham entregado por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo, porque hoje muito sofri em sonhos por causa dele. Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus. Tomando a palavra, o governador inquiriu: "Qual dos dois quereis que vos solte?" Eles responderam: "Barrabás!" Pilatos disse-lhes: "Que hei-de fazer então de Jesus, chamado Cristo?" Todos responderam: "Seja crucificado!" Pilatos insistiu: "Que mal fez Ele?" Mas eles cada vez gritavam mais: "Seja crucificado!" Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: "Estou inocente deste sangue. Isso é convosco." E todo o povo respondeu: "Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!" Então, soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado.»
Para esta quarta propomos a audição da composição «Artikulation», de György Ligeti, e para leitura a seguinte passagem do Evangelho:
Evangelho de São Mateus Mt. 26, 14-25 - Traição de Judas
«Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. A partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus».
Para esta terça-feira da Semana Santa apresentamos o moteto «Os Justi», de Anton Bruckner, e para leitura a seguinte passagem:
Evangelho segundo S. João 13.21-33.36-38
«Tendo dito isto, Jesus perturbou-se interiormente e declarou: "Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há-de entregar!" Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem a quem se referia. Um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa reclinado no seu peito. Simão Pedro fez-lhe sinal para que lhe perguntasse a quem se referia. Então ele, apoiando-se naturalmente sobre o peito de Jesus, perguntou: "Senhor, quem é?" Jesus respondeu: "É aquele a quem Eu der o bocado de pão ensopado." E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Jesus disse-lhe, então: "O que tens a fazer fá-lo depressa." Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu, porém, com que fim lho dissera. Alguns pensavam que, como Judas tinha a bolsa, Jesus lhe tinha dito: "Compra o que precisamos para a Festa", ou que desse alguma coisa aos pobres. Tendo tomado o bocado de pão, saiu logo. Fazia-se noite. Depois de Judas ter saído, Jesus disse: "Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de Deus. E, se Deus revela nele a sua glória, também o próprio Deus revelará a glória do Filho do Homem, e há-de revelá-la muito em breve. Filhinhos, já pouco tempo vou estar convosco. Haveis de me procurar, e, assim como Eu disse aos judeus: 'Para onde Eu for vós não podereis ir', também agora o digo a vós". Disse-lhe Simão Pedro: "Senhor, para onde vais?". Jesus respondeu-lhe: "Para onde Eu vou tu não me podes seguir por agora; hás-de seguir-me mais tarde." Disse-lhe Pedro: "Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti!" Replicou Jesus: "Darias a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo antes de me teres negado três vezes!"»
Nesta segunda-feira da Semana Santa propomos para escutar o «Pie Jesu», Requiem, op.48, de Gabriel Fauré. Como meditação, este texto da Sagrada Escritura:
Evangelho de São Mateus Mt. 26, 6-13 - Maria de Betânia unge o Senhor
«Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-lhe lá um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa. Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume. Nessa altura disse um dos discípulos, Judas Iscariotes, aquele que havia de o entregar: «Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?» Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava. Então, Jesus disse: «Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura! De facto, os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim não me tendes sempre». Um grande número de judeus, ao saber que Ele estava ali, vieram não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Os sumos sacerdotes decidiram dar a morte também a Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, os abandonavam e passavam a crer em Jesus».