Foi no dia 8 que, por troca e impossibilidade de o fazer na Quarta-Feira, saímos à rua este mês. Isso trouxe-nos alguma complicação porque nem todos ficaram avisados como era conveniente e uma amiga - a M. Elvira - surpreendeu-me na noite de Quarta- Feira com uma chamada em que perguntava onde estávamos e se não íamos à rua naquele dia. Percebi a sua confusão e desilusão porque estava "lá" com os seus mimos, sozinha!
- Preparei estas coisas para eles e não as levo para casa! Se não vêm vou eu levá-las onde puder.
E foi assim que a M. Elvira saíu, acompanhada do marido, pelas ruas do Porto em início antecipado da saída do dia seguinte!...
Acautelada, lá foi informando que, embora sozinha, era a nossa representante naquela noite! Entregou tudo na Rua Júlio Dinis.
No dia seguinte faltou-nos o contributo da Nobreza, que já tinha destino para as suas sobras do dia, e a companhia da M. Elvira, de quem já tínhamos saudades, e nos fazia falta.
Mas, mesmo com essas limitações tudo acabou por correr bem. Frustrada no seu desejo de entregar no Aleixo as descomunais sandes de broa recheada com enchidos preparadas com esmero e carinho, a M. de Lurdes viu ir parar o resultado de todo o seu trabalho às mãos dos que foram aparecendo na Câmara, na Batalha, no Carregal, no H. de Stº. António...
Para sua consolação ainda fomos ao Aleixo com meia dúzia das suas sandes. Por ironia, bastaram! Foram cinco ou seis os que apareceram.
Foi uma noite de encontros. Apareceram muitos de quem não tínhamos notícia e que prourávamos: O Fernando (da Avenida), que fomos encontrar aboletado debaixo das escadas que dão acesso aos sanitários de S. Bento, o António (que já está outra vez num quartinho na R. do Rosário, e que apareceu limpo e asseado), o Francisco (que de alegre até tropeçava nas palavras e nos deu dois fortes abraços).
Junto ao Stº. António reapareceu o Amadeu. Ao lado sussurrou outro:
- Foi meu companheiro na prisão. Acabou de sair da prisão.
- ?!...
- Estive 13 anos em Vale de Judeus. Não nos dão trabalho, temos de nos safar!
Perante essa confissão não provocada, optei por lhe dar um conselho:
- Antes de fazer qualquer coisa pare e pense se isso irá prejudicar alguém. Quando abdicamos de alguma coisa em favor dos outros sentimo-nos mais felizes do que se satisfizermos os nossos desejos.
Lá seguiram ambos em direcção indefinida, na rua e na vida. Tentando safar-se!
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