Testemunho – Agosto de 2014
Aqui ficam algumas palavras de quem
participou pela primeira vez na ajuda aos sem-abrigo...
Durante muitos anos, quando circulava
pela cidade do Porto e me deparava com estes homens e mulheres, simplesmente
tentava ignorá-los, fugia deles exatamente para não sentir qualquer tipo de
piedade. A voz da consciência alertava-me, mas, rapidamente, inundava-me o
pensamento de que o dinheiro que lhes podia dar era para alimentar os seus
vícios. Outras vezes, quanto estacionava o carro, lá dava a moeda para não o
riscarem ou não o estragarem. Era assim que eu via estas pessoas. De facto,
para mim, eram invisíveis e, sobretudo, incómodas, sujando as ruas do Porto.
Entretanto, o meu coração mudou, pois
senti que é nestes pobres homens e mulheres, que por uma alguma razão vão parar
à rua, que está verdadeiramente Jesus. Nos pobres, entre os mais pobres, nos
doentes, nos marginalizados, está o nosso Jesus. Foi esta a razão que me levou
a participar na distribuição de alimentos, não pensando nos medos, na sujidade,
na doença que ia enfrentar.
Começámos pela Rua Júlio Dinis,
passámos pela Câmara do Porto e acabámos na Batalha. Ao encontrar estes homens
e mulheres com as vidas totalmente destroçadas, percebi o sentimento de impotência
face a tantos problemas. Como gostaríamos de mudar radicalmente, com uma
varinha de condão, a vida destas pessoas! Na verdade, senti que pouco ou nada
podemos fazer, porque o grande problema delas é a falta de amor, que é a maior
de todas as pobrezas.
No entanto, fui-me apercebendo de que
cada um de nós tem um papel muito importante, de que o nosso
trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele o oceano seria menor, como dizia a
Madre Teresa de Calcutá. Um sorriso, um conselho, uma palavra de consolo pode
ter um eco infindável, já que pode evitar suicídios, mais inquietações e
problemas e quem sabe... levar uma
esperança e a luz de Cristo.
De todos as
pessoas com quem falei, aquela que mais me tocou foi o Luís. É de Viana do
Castelo, dorme junto ao antigo cinema Batalha. Era casado, tem uma filha e vivia
com a família em França. A vida levou-o à rua, mas a filha de vinte anos não
sabe. Perguntámos se queria rezar uma Avé-Maria connosco. Disse que não.
Perguntámos-lhe se, uma vez que não queria, nós podíamos rezar por ele. Com
muita pena e lágrimas nos olhos, disse que não conseguia, pois sentia-se
bloqueado e com o coração ressentido, sem perdoar.
Rezaremos nós por ti, Luís, com a esperança de
que Maria te console no Seu regaço e de que Jesus te dê a força para te
levantares e reconstruíres a tua vida, porque esta é preciosa aos olhos de
Deus.
Louvado seja Jesus
e Maria por esta noite, em que no meio da miséria e da escuridão brilhou a esperança,
o amor e a caridade!
Ana
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