Franjas
Sociais novamente na rua
No passado dia 11 de Junho voltámos à
rua cumprindo o calendário das saídas e a rota atribuída ao nosso grupo. Mas
não nos limitámos a cumprir fielmente a rota pré-estabelecida porque nos vimos
obrigados, uma ou outra vez, a ir a locais inusitados em busca daqueles que se
não encontravam no poiso habitual.
Indo por partes:
Constituímos neste dia 16 voluntários,
com a graça particular de nos ter acompanhado o Pároco no cumprimento de um
desejo de há muito manifestado.
Regozijamos e regozijámo-nos por isso.
Que volte e venha sempre que as suas tarefas paroquiais o permitam.
Em dois grupos, como é habitual,
iniciámos a volta pela cidade, uns pelos bairros, outros pelas ruas.
No Aleixo verificámos uma vez mais que
há acentuada diminuição de indivíduos a procurar apoio sendo diminuta a ajuda
ali deixada.
Abordámos uma vez mais com uma jovem
de 23 anos que não consegue adquirir coragem para iniciar um programa de
desintoxicação. Mostrou-se acabrunhada por isso mas, agradecida pelo conselho
perguntou:
- Posso dar-lhe dois beijos?
- ...Pode...
Aqueles beijos, quase solitários na
sequência de muitas Quartas-Feiras, senti-os como se foram uma prece silenciosa
que reencaminho pedindo a sua recuperação.
No Pinheiro Torres estava a decorrer
uma rusga policial e os utentes habituais vagueavam dispersos como baratas
tontas por entre os prédios, sem objectivo e sem rumo. Por indicação de um que
conhecia os meandros do sítio fomos dar com uma cascata que se some logo abaixo
sem se dar conta da sua existência, e que dá um ar tristemente bucólico ao
lugar... Ao lado, um “buraco” de que se não descortina a finalidade e, nele,
uns quantos que, à nossa chegada e meio desconfiados, um a um vão saindo ao
nosso encontro.
Afoita e manifestando grande
desconhecimento do que se passa naquele mundo quase que subterrâneo, uma jovem
voluntária pergunta de chofre a um deles:
- O que é que vocês estão fazendo ali?
A resposta é inteligente e educada:
- Olhe, não lhe vou dizer o que
fazemos ali mas posso dizer-lhe que é o que não devemos fazer à vista das
pessoas para não escandalizar ninguém...
A essa hora já a outra equipa apelava ajuda
à nossa na Rua Júlio Dinis pois não tinham mais nada para entregar!...
Lá acorremos e distribuímos um pouco
do que levávamos por cada um dos que naquela noite ali nos procurou. À tarefa
de distribuir juntámos a de ouvir: histórias de vida, anseios, sonhos...
Descemos ao Viaduto. A um grupinho
foram-se juntando outros um-a-um. Às tantas vimos desenhar-se uma zaragata ali
mesmo ao pé de nós. Um rapaz correu desenfreadamente atrás de outro que se
esgueirou rua acima, lesto como lebre acossa… Mal nos apercebemos do que tinha
acontecido! Mas, aconchegando ao peito com carinho uma gaivota branca, informou
o que se sentiu ofendido que o primeiro tinha desferido um pontapé na gaivota
que estava aninhada junto ao passeio!
- Dar um pontapé no passarinho? Isso
não o posso tolerar! Se o apanho…
Pode servir-nos de meditação.
Avançámos para a Cãmara, Praça da República
e para a Batalha. Aqui demos por finda a nossa noite depois de esgotado o último
saco, a última sande e o último copo de café ou sumo.
Antes da despedida dos nossos amigos
de Carregosa fizemos a nossa roda e rezámos por todos os que encontrámos nessa
noite, pelas suas necessidades, pedindo o amparo divino para cada um e para
todos os que precisam. Num cântico simples e belo demos a Maria as boas-noites
agradecendo também a graça de nos ter sido concedida a possibilidade de termos podido
ser um pouco samaritanos mais uma vez.
Franjas Sociais
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