Foi no passado dia 8 que reiniciámos a nossa presença na rua em mais um ano de actividade.
Ao longo destes anos temos vindo a verificar um aumento de grupos em apoio dos carenciados e uma diminuição do número dos verdadeiros sem-abrigo. Isto mercê de uma melhor organização do apoio, devido em certa medida às políticas e orientações de Bruxelas que levaram à organização da Rua em Rede sob a supervisão e com o empenhamento da Segurança Social, e consequente programa de acolhimento dos sem-abrigo em residenciais ou apartamentos. Daí a diminuição do número destes utentes a solicitar apoio na rua.
Contudo, outros vão aparecendo, aqueles que dão um pontapé na vergonha e se aproximam de quem lhes pode levar algum auxílio. Certo é que também dentre estes há quem se habilite a todos os apoios que podem: Cáritas, Vicentinos, associações, paróquias, e voluntariado. Para evitar desperdício e excesso no recurso aos apoios, foi organizado o roteiro dos diversos grupos que percorrem a cidade em todos os dias da semana de modo a possibilitar a interligação entre eles e limitar a repetição de apoio.
Nas Quartas-feiras temos a companhia de outros grupos e com eles racionalizamos a distribuição.
Assim, nesta Quarta-Feira seguimos pela Rua Júlio Dinis, Bom Sucesso, Aleixo, Pinheiro Torres, Câmara Municipal, Viaduto Gonçalo Cristóvão, e Batalha, onde combinámos a continuação da distribuição com o Café Convívio (CASA). Sabendo que já tinham ido à Praça da República e que seguiriam pela Praça D. João I e outros pontos do centro, Continuámos pelo Hospital de Santo António e regressámos a Aldoar.
Restaram-nos desta distribuição 28 sacos que foram entregues no dia seguinte no Bairro Pinheiro Torres.
Desta distribuição participaram apenas 8 voluntários, 5 do grupo de jovens de Carregosa e 3 de Aldoar.
Este dia tivemos um pedido de ajuda para desintoxicação, que foi encaminhado para a associação Norte Vida, e a lição de vida de um utente que se nos dirigiu na Rua Júlio Dinis confessando a sua falta de tino:
- "Quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga"!...
E esclareceu:
- Eu não tinha necessidade disto! Fui bancário nesta cidade, agência "X" do Banco "Y", aceitei a rescisão do contrato por mútuo acordo ao fim de 26 anos de casa... Em pouco tempo estourei 300.000,00 Euros! Sabe? Nasci e cresci num ambiente farto, nunca me faltou nada, e se fazia alguma asneira tinha sempre um guarda-chuva que reparava as minhas faltas. Não fui habituado a assumir as minhas falhas. Agora a casa de comércio do meu pai está na falência, já não posso contar com esse guarda-chuva, mas tenho de me virar seja por onde for!
E lá ficou disposto a recomeçar, e nós a pensarmos como é que ele agora, com esta crise e com 46 anos, vai dar a volta se a não soube dar quando tinha possibilidade...
Conclusão: quem está convencido que dando tudo aos seus filhos, os está a educar como deve, está de facto muito enganado pois não os está a preparar para enfrentar sozinhos os reveses da vida se vierem a surgir!
C. F.
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