Publicitou recentemente um porta-voz governamental que iria ser criado um programa de apoio aos sem-abrigo.
Costuma dizer-se que mais vale tarde do que nunca, mas, em fase pré-eleitoral, deixa a desconfiar muito o verdadeiro alcance da medida.
Se a realidade fosse como foi apresentada até nem seria nada do outro mundo... Disse a referida fonte que se calculava em 2.000 o número dos destinatários da medida. Dois mil? Só? Se são só dois mil custa assim tanto erradicar a pobreza extrema neste país? Por que razão não se começou mais cedo? Seria muito mais acessível à exígua bolsa do País resolver o problema desses dois mil do que a dos milhares que são destinatários do Rendimento de Reinserção.
Então podemos perguntar porque não adoptou o Executivo oportunamente medidas orientadas para a resolução deste problema.
A resposta deixa antever que o Governo não vai resolver mesmo nada e, mais uma vez, se limita a publicitar iniciativas que não visam mais nada que não seja a obtenção de alguns votos nas próximas eleições. É que o número apontado fica muito aquém do real!... DOIS MIL?!... SÓ?!...
Bem: a questão nem é assim tão simples; é que há várias classes de deserdados, todos miseráveis, e o seu número vai muito além de dois mil. Enumerando por alto: pessoas sem bens nem família, pessoas sem bens que não têm apoio da família, pessoas que rejeitam a família e fazem a sua vida na rua, pessoas com deficiência e sem apoio ou sem família, imigrantes sem bens nem apoio, pessoas rejeitadas pela família, falidos ou executados, toxico-dependentes, alcoólicos, casais jovens sem orientação de vida, recuperados da droga ou do alcoolismo sem objectivos de vida para o futuro, ex-presos sem perspectivas nem emprego, simples desempregados, doentes mentais...
Cada classe exige o seu programa. E o pouco que há não passa habitualmente da atribuição de um quartinho numa residencial rasca que nem sequer assegura a limpeza - onde anda a ASAE? -, do rendimento de reinserção, da entrada num programa de desintoxicação que quase nunca tem continuidade para além dele, da criação de expectativas no programa de "novas oportunidades" que seria bom se ensinasse mesmo alguma coisa de novo...
Por isso, só acreditamos no que foi anunciado depois de ver. Mas não estamos em crer que seja verdade! Antes fosse!...
C.
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