segunda-feira, 30 de março de 2009

Sacos de Ternura

Na oração continuámos "À PROCURA DO ROSTO DE DEUS", este mês com o tema "Por Jesus, Deus liberta-nos para a alegria". A escadaria - se começou "a meia haste" - logo se encheu e estava repleta de "amigos", os olhos e os ouvidos bem atentos ao que explicava o Padre Fabião...

Depois cantando energicamente com o coro e a guitarra... e finalmente respondendo com fervor às preces feitas pelo Frei Zé Manel... Claro que a oração é sempre salpicada de "curiosidades", sendo que desta vez dois namorados se encontraram violentamente, logo "apoiados" cada um pelos seus "anjos-da-guarda", e a Branca fez a sua entrada imponente tarde e a más horas muito "entornada" querendo, como de costume, chamar a si as atenções de todos. Mas depressa foi reposta a calma e a (possível) seriedade.

É impressionante como é nestas noites, e apesar de tudo o que por ali se vai passando de estranho, que consigo "apalpar" o amor concreto de Jesus, que Se debruça sobre cada um/a com uma ternura infinita : seja bêbado, toxicodependente, tola, violento, alegre, aldrabona, triste, calmo, sóbria, bom ou má...

O Seu abraço desce do Céu e toca amorosamente cada um, cada uma... e é muito comovente de TÃO GRANDE! Penso que é por isso - por Jesus estar ao lado de cada um de nós - que o Pai Nosso rezado de pé e de mãos dadas foi mais uma vez um clamor imenso que chegou ao Céu... IMPRESSIONANTE!

Depois, na parte "social", reinou a alegria! Os sacos-ternura chegaram para todos e estavam bem fornecidos, e as caixas das sandes e as travessas com os bolos circularam "generosamente" por todo o largo, trazendo o amor de outros amigos que de perto e de longe continuam a fazer questão de se juntarem a esta festa. E por isto tudo eu digo ao meu SENHOR: MUITO OBRIGADA!

E por isto tudo eu digo a cada um dos que se juntam a nós mensalmente, MUITO OBRIGADA! As "contas" ... serão feitas dessa maneira misteriosa como só o contabilista do Céu sabe fazer... SEM "CRISE"! Nós, ficamos mais uma vez espantados como é verdade que o que conta... É O AMOR!"

Teresa Olazabal

quarta-feira, 25 de março de 2009

Sem-abrigo




Proposta visual e poética sobre os sem-abrigo. O clamor pela acção, a acção pelo o Amor. Este vídeo foi postado por uma «ghajamaluka» no YouTube.
Quanto pesa a nossa «maluquice»?

segunda-feira, 16 de março de 2009

O Governo e os sem-abrigo

Publicitou recentemente um porta-voz governamental que iria ser criado um programa de apoio aos sem-abrigo.
Costuma dizer-se que mais vale tarde do que nunca, mas, em fase pré-eleitoral, deixa a desconfiar muito o verdadeiro alcance da medida.
Se a realidade fosse como foi apresentada até nem seria nada do outro mundo... Disse a referida fonte que se calculava em 2.000 o número dos destinatários da medida. Dois mil? Só? Se são só dois mil custa assim tanto erradicar a pobreza extrema neste país? Por que razão não se começou mais cedo? Seria muito mais acessível à exígua bolsa do País resolver o problema desses dois mil do que a dos milhares que são destinatários do Rendimento de Reinserção.
Então podemos perguntar porque não adoptou o Executivo oportunamente medidas orientadas para a resolução deste problema.
A resposta deixa antever que o Governo não vai resolver mesmo nada e, mais uma vez, se limita a publicitar iniciativas que não visam mais nada que não seja a obtenção de alguns votos nas próximas eleições. É que o número apontado fica muito aquém do real!... DOIS MIL?!... SÓ?!...
Bem: a questão nem é assim tão simples; é que há várias classes de deserdados, todos miseráveis, e o seu número vai muito além de dois mil. Enumerando por alto: pessoas sem bens nem família, pessoas sem bens que não têm apoio da família, pessoas que rejeitam a família e fazem a sua vida na rua, pessoas com deficiência e sem apoio ou sem família, imigrantes sem bens nem apoio, pessoas rejeitadas pela família, falidos ou executados, toxico-dependentes, alcoólicos, casais jovens sem orientação de vida, recuperados da droga ou do alcoolismo sem objectivos de vida para o futuro, ex-presos sem perspectivas nem emprego, simples desempregados, doentes mentais...
Cada classe exige o seu programa. E o pouco que há não passa habitualmente da atribuição de um quartinho numa residencial rasca que nem sequer assegura a limpeza - onde anda a ASAE? -, do rendimento de reinserção, da entrada num programa de desintoxicação que quase nunca tem continuidade para além dele, da criação de expectativas no programa de "novas oportunidades" que seria bom se ensinasse mesmo alguma coisa de novo...
Por isso, só acreditamos no que foi anunciado depois de ver. Mas não estamos em crer que seja verdade! Antes fosse!...
C.

A Caminho da Páscoa





D. Manuel Clemente, o Bispo do Porto, propõe-nos um caminho para esta estação quaresmal. Explica-nos o valor da oração, como fazer penitência e como partilhar. A mensagem foi publicada originalmente no youtube.com. É uma mensagem simples que em pouco mais de três minutos nos põe a reflectir e a actuar.
Aproveitamos também para desejar um Santa Páscoa a todos.
L.

quarta-feira, 11 de março de 2009

No alvor da Primavera

O dia 10 chegou depressa, tão depressa que quase nem dávamos por ele. O Fernando continua impedido, a Rosinha tem de cuidar do doente que tem em casa, a Elvira está gripada, a Esmeralda não pôde vir. Mas nem por isso deixamos de nos por ao caminho. Outros vão e vão sozinhos de que é exemplo o sr. M. Rocha que todos os dias aparece no Carregal com dois panelões de sopa (..."- Quantos litros?- perguntei-lhe; avaliei para aí uns 40 em cada panela!...").
Desta vez éramos seis com o Luís, a Mª. Lurdes, a Sofia, a Alda e a Augusta, e tocou à amiga Mª. de Lurdes preparar 4 garrafões de sumo por falta de limões deste lado. Saíu-lhe a sorte grande de trabalho...
Reunidas as ofertas das confeitarias, as sandes, a fruta - maçãs e bananas - e o sumo, tudo arrumadinho em dois carros, juntámos alguma roupa (pouca) e dispusémo-nos a partir. Na nossa oração colocámo nas mãos de Deus todos aqueles que iríamos encontrar no nosso percurso, e colocámo-nos também nós para que pudéssemos ser Seus Bons Mensageiros, com Maria por companhia, medianeira, Rainha.
A Sofia quis abrir a Palavra contida no Novo Testamento. É a Palavra da Vida, é a Palavra Viva. S. João 17,1: "Oração Sacerdotal de Jesus". E foi lendo... As palavras iam soando aos nossos ouvidos como conselhos para esta nossa caminhada, e como certezas de que Deus nos enviava na continuação da exortação que noutros tempos fizera: "A Paz seja convosco! Assim como O Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós." Jo. 20, 21.
"...guarda-os em Ti para serem um só, como Nós somos Um";
"Entreguei-lhes a Tua Palavra..."
"Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo..."
"...Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em Mim, por meio da sua palavra...".
E como outrora a Palavra de Deus se fizera carne, Deus queria que a Sua Palavra se fizesse Amor, amor desinteressado, sem aguardar paga de qualquer natureza que não seja a satisfação do dever de cristão cumprido. E foi com esse intuito que começámos, com o propósito de lhes levar essencialmente o Amor de Deus. Mas Deus, que nos conhece melhor do que nós mesmos, também nos faz as Suas partiditas! E fez! Quando pensávamos (pelo menos eu!) que levávamos alguma coisa que os nossos amigos da rua não tinham e de que precisavam, Deus mostrou-nos que, pelo menos alguns deles, têm muito para dar e que também nós temos ainda muito que aprender deles...
Porque digo isto? Por me lembrar do António dos Santos, que se diz cigano, e que, ao invocar o nome de Deus bateu no peito com a mão cheia e apontou ao céu iniciando uma profissão de Fé digna do maior crente! E ao acompanhamento do Filipe, outro cigano seu amigo ali ao lado. E então o Zé Manuel, em pleno Aleixo, olhos luzidios tão límpidos como os de um babtizado que acabou de sair da Pia onde lava o Espírito Santo, emoldurados por uma barba e cabelo oleosos e corridos sobre o rosto? Do seu peito pendiam três crucifixos de um porta-chaves...
- Encontrei-os no lixo! Este, do meio, é do que gosto mais. Mas são lindos, não são?
Que lição!... Enquanto uns, findo o uso a que os destinavam, e porque os consideram sem préstimo os deitam fora como qualquer traste sem serventia, outros vêem continuamente neles o que realmente representam e os estimam encontrando sempre para eles, respeitosamente, um uso adequado. E que dizer quando este exemplo nos chega... do Aleixo?!...
"Não rogo só por eles, mas por todos aqueles que hão-de crer em Mim... para que sejam um só...".
Uma vez mais, também o Paulo nos obrigou a redobrado esforço na tentativa de desemaranhar a teia em que continua preso mais por egoísmo e desinteresse alheio do que por culpa sua. É compreensível a revolta que sente, e, escondido sob a aparência da dureza que aparenta adivinha-se um coração de oiro. Rezámos com o Paulo outra Avé-Maria, que acompanhou ainda que continue a insistir que não sabe...
Resignado à sua limitação estava o "cigano" que, ao ver dois moços em fato de treino a correr se limitou a dizer:
-Também já fui assim!... - E, conformado, apontava para a canadiana que é agora sua companheira permanente.
- Algum acidente?- perguntei.
- Veja aqui a minha perna.
- E fez-me apalpar de um e outro lado de onde se adivinhavam ferros...
Entretanto chegam duas moças, com bastante bom aspecto, sendo uma muito jovem, bonita, e que disse já ser mãe.
- Mãe de quanto tempo?
- 15 meses.
- Quantos anos tens? - perguntou o António "cigano" querendo acompanhar a conversa.
- 18!- Estudas? - Perguntei.
- Não! Foi por causa do meu filho que tive de deixar...
- Mas não podes ficar assim... Que ano fizeste?
- Fiz o nono. Agora estou na Câmara para continuar.
- E onde moras? Com os pais?
- Não. Com esta minha amiga, num quartinho.
Dezoito aninhos, um filho de 15 meses, a morar em casa alheia, ocupando um quartinho de uma amiga...
O António "cigano" estava comovido e duas lágrimas ameaçavam saltar. O António, homem da rua, a trajar o vestuário com que dorme, sem casa nem família à distância da sua necessidade, comove-se perante a necessidade alheia e deixa sair:
- "Miséria!"...
Dou-lhe uma palmada amiga nas costas como que para o acordar daquela meditação. É que não basta ter pena, é preciso agir. E a conversa continuou com alguns conselhos de como fazer e a quem se dirigir para tentar obter um quartinho da Segurança Social.No Carregal outro exemplo de coragem, de dedicação, de amor. Isto é mais, muito mais do que simples altruísmo! No seu posto já habitual, o Sr. M. Rocha, de colher de sopa na mão, atendia os últimos. Desta vez ainda tinha uma panela meio cheia.
- Vou para aí que depressa distribuo a sopa toda!
Em dia de futebol foi este o seu desporto. E confidenciou que tinha vindo de Viana, que há dias em que nem tempo tem de comer em casa e que acaba por comer a sopa conjuntamente com eles.
- Para a semana vou à Praça da Alegria!
Vá. E leve consigo todos estes que vai encontrando, berre bem alto que a vida que levamos acomodadamente não é vida de gente enquanto ao nosso lado existir um irmão necessitado, de tudo, ou de muito do que temos e não repartimos!
É Quaresma. A esmola, que é a repartição do que se tem com o que não tem, é um dever cristão com vista à santificação de cada um. Repartição que deve ser efectuada com amor e não em obediência a um dever. O destinatário é o próprio Cristo!

13 de Março de 2009

C.