terça-feira, 16 de setembro de 2014

A nossa saída de Setembro

Foi a 10 que voltámos à rua. Éramos 13. A lua, espreitando por entre algumas nuvens que, às vezes, decidiam fazer-lhe cortina, reflectia um magnífico luar que nem por sombras permitiam antecipar o que nos esperava daí a pouco!
A caminho de uma pastelaria comentava para quatro jovens, quase todos neófitos nestas andanças:
- Alguns anos atrás várias vezes apanhámos valentes chuveiradas enquanto fazíamos a distribuição sob a mala aberta do carro! Porém, nos últimos anos tem corrido tudo tão bem que já nem sabemos o que é apanhar chuva...
Reunidos para a saída, o Carlos, de Carregosa, pediu para fazer a oração: uma leitura da passagem do Evangelho, o envio dos discípulos, uma oração a S. Miguel, e o Pai Nosso. Belo o gesto e a escolha, até porque "caíu" certeirinha com a introdução... E, nada combinado!
Seguiram os dois grupos pelos itinerários habituais: cidade e bairros.
No Aleixo nada deixámos porque encontrámos lá a "AXA - Corações em Acção" a terminar a distribuição. Mas foram-nos dizendo que nem iam ao Pinheiro Torres porque aquilo estava como um vespeiro e nem se aproximavam!  Confiados Naquele a Quem nos confiamos, seguimos ao Pinheiro Torres. Havia certo burburinho num grupo concentrado junto aos prédios. Ignorando o que se passava começámos a distribuição um pouco mais abaixo. Uns atrás de outros foram-se chegando e, à medida que vinham iam seguindo o seu destino. Nesta altura fomos surpreendidos pela aparição de uma jovem que diz reconhecer-nos de algum lado. No decorrer do diálogo conseguimos identificá-la: é uma jovem que conhecemos no Magalhães Lemos, em tratamento. Foi um golpe encontrá-la. Não quis alimentos, só água, e lá retornou à escadaria de onde saiu. Os seus olhos baços não enganavam... Como não a abandonamos, apressámo-nos a passar a informação ao Hospital. Abrandava já a distribuição quando se desencadeou uma violenta tempestade que varria tudo, e a água depressa fez ribeiro sob os nossos pés. Não havia como continuar e, logo que pudemos, entrámos no carro a correr e lé fomos ao encontro dos restantes companheiros que já nos aguardavam na cidade. Soubemos que foi grande a afluência na Rua Júlio Dinis e no Viaduto Gonçalo Cristóvão. Reunimo-nos na Batalha e sobrou tempo para confraternizar com amigos da rua durante meia hora. Foi um momento bonito aquele que passámos com o Luís, com o Oliveira, e outros que foram fazendo amizade connosco. E connosco fizeram uma roda larga no final, numa oração de acção de Graças pela nossa noite na rua. E aquele cântico tão suave tão belo do "Boa noite, Maria" entrou nos corações de cada um com a ternura que transporta e suscita, dourando a nossa jornada. E o mesmo sentiram aqueles amigos quase que ocasionais que não conseguiram disfarçar, antes tiveram o gosto de mostrar, comovidos, que acabavam de viver um momento raro de alegria e sentimento. Isso mesmo quis dizer-nos no final o amigo Oliveira em escusado agradecimento.
- Quando voltam? - quiseram saber.
- A oito de Outubro.
E prometeram esperar-nos nesse dia.
De alma e coração cheios de sublime alegria e paz regressámos a nossas casas sentindo que o nosso Deus é mesmo bom, que está connosco e não abandona os que parecem desprotegidos.
Aleluia!
 
Franjas Sociais

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Nossa Senhora

A Natividade de Nossa Senhora
 
Hoje, 8 de Setembro, a Igreja celebra a festividade da Natividade de Maria. Nuns lugares sob a invocação de Nossa Senhora da Serra, noutros das Neves, dos Remédios...
Mas é sempre a mesma Mãe de Deus, e a Mãe que Jesus nos deu.
 
Não esqueçamos neste dia de dedicar um momento especial a Maria, à nossa Mãe, de nos confiarmos a Ela e de lhe confiar o mundo, de modo especial as regiões em que grassam conflitos e o ódio, a cegueira ou o fanatismo transformam os indivíduos em autênticas feras destituídas do mínimo de humanidade.
 
Avé Maria!...
 
Salvé - Rainha...

Setembro - na rua novamente

Caros amigos:
 
Na próxima Quarta-Feira, dia 10, voltamos à rua.
 
Considerando a experiência obtida nas últimas saídas vamos manter o número de sacos, assim distribuídos:
 
- Maria de Lurdes - 25
- Carlos - 20 + 1,5 litros de sumo
- Virgínia - 15
- Sofia - 5 + café
- Alcina - 5 + sumo
- Ana - 3 + sumo
- Aldina - 2 + sumo
- Escuteiros - 30 + café e sumo
- Paróquias de Carregosa, Vª. Cova e Chave - 30 + café e sumo
 
NÃO ESQUEÇAM OS COPOS!
 
Recorda-se que a base é constituída por:
 
- 1 pac. de leite chocolatado
- 1 peça de fruta
- 2 sandes
 
Quem puder acrescente 1 salgado e 1 bolo.
 
Os sacos que não contenham bolo e salgado serão completados com as sobras das confeitarias.
 
Boa preparação!
 

Um testemunho


Testemunho – Agosto de 2014
 

Aqui ficam algumas palavras de quem participou pela primeira vez na ajuda aos sem-abrigo...
Durante muitos anos, quando circulava pela cidade do Porto e me deparava com estes homens e mulheres, simplesmente tentava ignorá-los, fugia deles exatamente para não sentir qualquer tipo de piedade. A voz da consciência alertava-me, mas, rapidamente, inundava-me o pensamento de que o dinheiro que lhes podia dar era para alimentar os seus vícios. Outras vezes, quanto estacionava o carro, lá dava a moeda para não o riscarem ou não o estragarem. Era assim que eu via estas pessoas. De facto, para mim, eram invisíveis e, sobretudo, incómodas, sujando as ruas do Porto.
Entretanto, o meu coração mudou, pois senti que é nestes pobres homens e mulheres, que por uma alguma razão vão parar à rua, que está verdadeiramente Jesus. Nos pobres, entre os mais pobres, nos doentes, nos marginalizados, está o nosso Jesus. Foi esta a razão que me levou a participar na distribuição de alimentos, não pensando nos medos, na sujidade, na doença que ia enfrentar.
Começámos pela Rua Júlio Dinis, passámos pela Câmara do Porto e acabámos na Batalha. Ao encontrar estes homens e mulheres com as vidas totalmente destroçadas, percebi o sentimento de impotência face a tantos problemas. Como gostaríamos de mudar radicalmente, com uma varinha de condão, a vida destas pessoas! Na verdade, senti que pouco ou nada podemos fazer, porque o grande problema delas é a falta de amor, que é a maior de todas as pobrezas.
No entanto, fui-me apercebendo de que cada um de nós tem um papel muito importante, de que o nosso trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele o oceano seria menor, como dizia a Madre Teresa de Calcutá. Um sorriso, um conselho, uma palavra de consolo pode ter um eco infindável, já que pode evitar suicídios, mais inquietações e problemas e quem sabe...  levar uma esperança e a luz de Cristo.
De todos as pessoas com quem falei, aquela que mais me tocou foi o Luís. É de Viana do Castelo, dorme junto ao antigo cinema Batalha. Era casado, tem uma filha e vivia com a família em França. A vida levou-o à rua, mas a filha de vinte anos não sabe. Perguntámos se queria rezar uma Avé-Maria connosco. Disse que não. Perguntámos-lhe se, uma vez que não queria, nós podíamos rezar por ele. Com muita pena e lágrimas nos olhos, disse que não conseguia, pois sentia-se bloqueado e com o coração ressentido, sem perdoar.     
 Rezaremos nós por ti, Luís, com a esperança de que Maria te console no Seu regaço e de que Jesus te dê a força para te levantares e reconstruíres a tua vida, porque esta é preciosa aos olhos de Deus.
Louvado seja Jesus e Maria por esta noite, em que no meio da miséria e da escuridão brilhou a esperança, o amor e a caridade!
Ana