2014 – Fevereiro
Voltámos à rua em
mais uma saída neste mês de chuva e cinza. Perdeu a cor o céu e perde-a a
humanidade que se mostra cada vez mais distante da sua superioridade de ser
pensante, endurecida a mente e fechado o coração.
Foi num dia aparentemente
triste, mas com o coração alegre e a esperança sempre presente de tudo poder melhorar,
que preparámos mais esta saída. Fomos juntando as dádivas que cada um trazia e,
a pouco-e-pouco, vimo-las crescer como que se elas próprias se multiplicassem.
Preparadas ao jeito
de cada um, manifestavam o carinho e a devoção com que foram feitas.
- Hoje preparei
bifes! – disse uma das voluntárias do grupo. Ninguém mais soube se eram bifes
ou bifanas porque não se discute nem se badala o que se traz, não vá saber a
mão direita o que faz a esquerda, nem se toca a trombeta fazendo de uma oferta
singela e silenciosa um acto apregoado aos quatro ventos. E se agora e aqui se
traz ao conhecimento não é para pessoalizar ou obter benefício individual mas
tão-só para informar e motivar quem ler para o dever de cada um prosseguir o
ideal evangélico de amar e fazer o bem.
- “O que fizerdes ao
mais pequenino é a MIM que o fazeis!”, - disse Jesus.
Lembrados dessa
afirmação vamos à rua ainda com mais empenho porque sabemos Quem é o
destinatário.
Como habitualmente
dividimo-nos em dois grupos começando um pelos bairros do Aleixo e Pinheiro
Torres e o outro pelas ruas da cidade. A avalanche aconteceu logo no início, na
Rua Júlio Dinis, de onde já não saímos!… Atrás de uns vinham outros e outros
mais… Sessenta entregas num abrir e fechar de olhos!
Contactado o outro
grupo para saber se tinham sobras que permitissem contemplar a expectativa de
uma dúzia que entretanto aguardava esperançada disseram ter ainda alguns sacos
mais. Aguardámos a sua chegada conversando, e distribuindo rebuçados que um
mais atento tinha acrescentado à “ementa”, e café quente, que tínhamos em
abundância.
- “O vosso saco é excelente!”
– disse um desempregado, pessoa não habitual nestas paragens, mas que agradeceu
a fruta e o pão que lhe demos, dizendo que já tinha pão para dar aos 4 filhos
no dia seguinte.
A rua é agora também
feita desta nova classe de gente que a crise precipitou em poucos anos numa
situação de carência, para não dizer em nova pobreza.
De Carregosa tinha
vindo um lote de cobertores usados, em bom estado mas a precisar de serem
arejados ou até lavados para readquirirem o ar de novos. Como não temos
possibilidade de o fazer pensámos a quem poderiam interessar. Vieram à ideia as Irmãzinhas dos Pobres mas disseram que estavam servidas e não
precisavam. Contactámos de seguida o Lar de Santana, em Matosinhos, de onde
disseram interessar muito porque “tinham muitos sem-abrigo para apoiar e às
vezes precisavam de cobertores”.
Nem mais! Dos sem-abrigo
para os sem-abrigo! As surpresas não acabam, e foi desse modo que soubemos que,
além de Lar, aquela obra cumpre uma outra, silenciosamente, do apoio e
fornecimento de roupas, e de 70 a 80 refeições diariamente a pessoas sem-abrigo
e carenciadas que ali encontram acolhida e apoio!
Louvado seja Deus! E
as televisões que da Igreja só se preocupam, enxergam e publicitam quando descobrem algum escândalo!...
O Lar de Santana
passa a ser uma das nossas preferências e uma nova referência. Ao fornecimento gratuito de refeições
quentes a necessitados pelas Ordens de S. Francisco, Carmo, Carmelitas, Trindade,
Irmãs Hospitaleiras (Boavista), igreja de Nossa Senhora da Conceição (Marquês –
Porta Solidária), temos de acrescentar esta mais-valia prestada por uma
congregação humilde que vive de esmolas e da caridade!...
Perante exemplos
destes sentimo-nos pequeninos, mesmo muito pequeninos!
Por isso mesmo continuamos!
C. F.
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