quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Dezembro de 2010

5 Anos...


Com coroa de ouro se encerrou este 5º. ano da actividade de "Franjas Sociais" na rua. E o que fizemos para isso? NADA!... Só persistimos...
Com fartura desusada, de gente e de coisas, preparámos mais esta saída.
Desde o mês passado que contávamos com o pessoal da Paróquia de Carregosa e com o do Clã 50 do Agrupamento de escuteiros. Mais ainda outros voluntários do grupo original. O suficiente para encher as duas carrinhas de 9 lugares.

Juntámos pão, sandes, bolos, fruta, salgados variados, queques e pastéis e leite com chocolate. Juntámos a isto as sobras do jantar dos escuteiros por eles cuidadosamente guardadas, e bastantes termos com café com leite quente.

Com a agilidade própria dos jovens e, especialmente, dos que já desenvolveram competência organizativa, num abrir e fechar de olhos dispuseram e distribuiram tudo pelos 150 sacos individuais.

Perante aquele espectáculo houve alguém que, ao passar, quis saber do que se tratava. Quando soube que era para distribuir aos Sem-abrigo desabafou:

- Segundo disseram na Católica há dias, e deu na TV, já "há grupos a mais na rua; até se chegam a digladiar a disputar a distribuição; outros até deitam fora o que se acabou de se lhes entregar."

- Pois olhe que em tantos anos de rua nunca vimos tal; o que encontrámos mais que uma vez foi alguns a dizer-nos:

- Ai! Ainda bem que vieram... Se não fosse vocês aparecerem hoje não comíamos nada! E mesmo quando nos parece haver novos grupos, ou colaboramos com eles se a abundância não for suficiente, ou então deixamo-los nesse lugar e avançamos para outro de modo a que não haja atropelo na distribuição.

Quem foi que disse que a Caridade é cega?

Pelos vistos, quando às vezes pretendemos ver é que a Caridade deixa de o ser...

Sem comentários para o muito mau serviço prestado à própria causa da Igreja por quem, sem conhecimento preciso das coisas, e com muito pouco discernimento, dá publicidade negativa a um eventual facto isolado que, deste modo, se transforma em corrente e na verdade oficial!...

Pois bem: nessa mesma noite se confirmou uma vez mais o conteúdo da resposta quando, ao ver alojados dois nas arcadas do H. de Stº. António e nos dirigimos a eles nos disseram:

- Ah!... Estávamos a ver que esta noite não comíamos nada! Vimos passar aqui as carrinhas mas não pararam... Mas, graças a vocês podemos comer alguma coisa! E sabem que mais? Quando já se não espera e aparece é que sabe ainda melhor!...

Reunidos no átrio do Centro pedimos a bênção para aquela noite. Mais uma a arrostar com o pessimismo de tantos que se dizem cristãos mas que sem se dar conta vão mergulhando a sua sensibilidade em formalismos estéreis e práticas desertas de sentimento. Ao Pai Nosso seguiu-se a leitura de uma passagem do Novo Testamento, desta vez aberto pelo José Augusto, de Carregosa:

Actos dos Apóstolos, 3, 1-11.

"... Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho , isto te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!".

É evidente que, além do material, o mais importante é o imaterial que no caso da leitura é a cura do paralítico. No nosso caso até levamos algo para a manutenção do corpo, mas não deveremos dar ainda mais atenção ao espírito, às coisas da alma?

Já no mês passado tivemos idêntica leitura, a da cura do cego de nascença, em que os discípulos inquirem de Jesus de quem é a culpa da sua cegueira.

Ora Jesus dá-nos a entender claramente que o importante não é o saber de quem é a culpa disto ou daquilo mas o partido que nós pudermos retirar desse facto, "para se manifestarem as obras de Deus".

É para a manifestação das obras de Deus que aqui estamos e assim pretendemos continuar sem esperarmos dividendos de qualquer natureza.

Dividimo-nos em dois grupos, seguindo um pela cidade (Boavista, Júlio Dinis, Câmara, Viaduto , Batalha, Urgência do H. de Stº. António), e rumando o outro directamente ao Aleixo, Pinheiro Torres, Pasteleira... Findo este percurso juntámo-nos na Urgência mas passando ainda pelas arcadas do Hospital, onde se passou a cena já descrita, e pelo Jardim do Carregal onde detectámos outra situação a requerer tratamento urgente e que já mereceu algumas diligências da nossa parte em contacto com os Médicos do Mundo.
A noite avançava e urgia dá-la por terminada para permitir o regresso pouco tardio dos grupos. Convidámos os que ainda permaneciam no local a rezar connosco um Pai-Nosso de agradecimento por aquela noite e de prece por todos as suas necessidades: e, de mãos dadas numa roda larga, ressoou no ar da Rua do Rosário, devota e pausadamente, o som daquela oração que ainda hoje une os corações de todos os cristãos.
C.

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