Habituados a pouco e a poucos foi na hora menos esperada que começaram a surgir as surpresas. Primeiro foi um grupo de escuteiros do Agrupamento de Aldoar que manifestou vontade de alinhar na rua e, poucos dias depois, o Sr. Pe. Artur Monteiro, da Paróquia de Carregosa, que se dispôs a iniciar uma nova actividade junto dos Sem-abrigo. Viria lá de baixo, de fora do Porto, com um numeroso grupo de jovens da sua Paróquia acordar com esta sua iniciativa os que por cá ainda permanecem acomodados.
Ao longo dos meses fomos teimando na continuidade sem pensar nos resultados. Pensávamos apenas na nossa obrigação de descer da montada e de nos aproximarmos dos que carecem da nossa ajuda.
Deus é GRANDE! E tão generoso que apontou à rua não um mas dois maravilhosos e numerosos grupos de jovens dispostos a não virar a cara à miséria mas a enfrentá-la com Esperança, esperando que alguns venham ainda a beneficiar em resultado da sua atitude.
E também mandou quem, pela formação e pelo carisma, pode ajudar a levar à rua a Palavra de Deus na pureza da sua interpretação, e a Sua Bênção.
Depois da experiência só poderemos dizer: obrigado, Senhor! Nós pelo dom da continuidade certificada no número e qualidade dos enviados à Missão, eles pelo dom da participação.
Desta vez quase nem nos apercebemos da tarefa de completar os sacos. Eram 150 os previstos mas a amiga Maria de Lurdes apareceu com uma quantidade inusitada de mais uns tantos que até nos fez perder a conta! Tudo decorreu com rapidez e eficiência, fruto da organização e saber dos escuteiros - que bela escola!... - e dos paroquianos de Carregosa.
Porque era a primeira vez de 18 pessoas - 11 de Aldoar e 7 de Oliveira de Azeméis (espero não errar) - a maior parte do tempo de preparação foi gasto com informações e recomendações.
Eram cerca das 21,30 horas quando nos fizémos à rua pelo trajecto habitual. Logo no início encontrámos os Médicos do Mundo que davam apoio a um dos nossos amigos de longa data: o João (da bicicleta), que mudou de poiso.
Continuámos pela Avenida da Boavista, Júlio Dinis e Câmara. Por um estranho fenómeno que acontece às vezes (lá terá a sua explicação), havia menos gente. Na Batalha era próximo do habitual. Igualmente junto à Urgência do H. de Santo António.
A abundância de farnéis, tal como esperávamos, fez-nos avançar para o Aleixo. Também aqui a frequência era menor.
Seguimos até à Pasteleira onde o corropio dos frequentadores era notável e tristemente curioso o de automóveis que mal paravam logo arrancavam com inusitada pressa!...
Continuavam a sobrar sacos. Aconselharam-nos a ida ao Ferreira Torres. Lá fomos ao encontro de mais uns tantos...
Fome!... Fome!... Fome!... Droga e mais droga!... Uma arrasta a outra numa espiral de miséria e desgraça. Desgraça para os próprios e para os que os cercam...
Servia uma mulher dos seus quarenta anos e, ao mesmo tempo íamos conversando.
-Olhe, o melhor que podia fazer era pensar deixar esta vida, tentar mudar... Já pensou nisso?
- Às vezes penso e já temos falado nisso eu e o meu marido. Aquele homem que está ali à frente...
Olhei e vi-o. De aspecto maduro, na fila mais adiante, estendia a mão para recolher o saco. Não conseguiria já esconder as mazelas daquela vida de um só sentido e pensar: droga!...
- Filhos? - perguntei.
- Três, - respondeu.
- Onde estão?
- Com os meus sogros.
É assim: aqui um mal nunca vem só. Traz consigo um rosário de misérias e trabalhos que cava a desgraça de uns e enferniza a vida de outros. E os mais próximos são as maiores vítimas. Em primeiro lugar os filhos, depois os pais, os avós, outros parentes quando se não alheiam!
E ninguém está vacinado contra este mal. Apanha às vezes até os mais avisados. Foi talvez com certa surpresa que os escuteiros do grupo foram descobrir numa só paragem três antigos escuteiros que têm a rua por casa! Mas foi uma alegria para os antigos que não se cansavam de manifestar essa sua qualidade indicando o Agrupamento a que pertenciam e despedindo-se de todos com o conhecido aperto de mão com a mão esquerda.
Mas esta noite pareceu mesmo preparada para os mais novos pois não terminou sem o insólito: um frequentador do Pinheiro Torres que se deslocara de Aveiro para vir buscar veneno ao Porto, com a precipitação, fechou a carrinha deixando as chaves na ignição. Tenta dum modo, tenta do outro e nada! As equipas dos escuteiros e a de Carregosa uniram os seus saberes e talentos na tentativa de descobrirem forma de abrir a porta. E tanto porfiaram que até conseguiram, para alívio do condutor precipitado.
E foi ali, numa roda, que démos Graças por esta noite e pedimos por todos quantos tinham vindo ao nosso encontro. Grupos de rua oram na rua.
Encontrámos pessoas marcadas, sofridas, vidas em farrapos, idas sem regresso, mas na pessoa de cada uma está Jesus sofrido, espezinhado, abatido, crucificado.
- Quem pecou, foi ele ou foram os seus pais?
- Não foi ele nem os seus pais que pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele” (João 9.1-3).
A leitura deste dia aconselha-nos a não atribuir culpas a nenhum daqueles que encontrámos no nosso caminho pela desdita que os atingiu, mas a dar Glória a Deus e a agradecer-Lhe por nos ter permitido participar na Sua obra.
Quantos de entre eles não irão à nossa frente para o Reino dos Céus?
Ao longo dos meses fomos teimando na continuidade sem pensar nos resultados. Pensávamos apenas na nossa obrigação de descer da montada e de nos aproximarmos dos que carecem da nossa ajuda.
Deus é GRANDE! E tão generoso que apontou à rua não um mas dois maravilhosos e numerosos grupos de jovens dispostos a não virar a cara à miséria mas a enfrentá-la com Esperança, esperando que alguns venham ainda a beneficiar em resultado da sua atitude.
E também mandou quem, pela formação e pelo carisma, pode ajudar a levar à rua a Palavra de Deus na pureza da sua interpretação, e a Sua Bênção.
Depois da experiência só poderemos dizer: obrigado, Senhor! Nós pelo dom da continuidade certificada no número e qualidade dos enviados à Missão, eles pelo dom da participação.
Desta vez quase nem nos apercebemos da tarefa de completar os sacos. Eram 150 os previstos mas a amiga Maria de Lurdes apareceu com uma quantidade inusitada de mais uns tantos que até nos fez perder a conta! Tudo decorreu com rapidez e eficiência, fruto da organização e saber dos escuteiros - que bela escola!... - e dos paroquianos de Carregosa.
Porque era a primeira vez de 18 pessoas - 11 de Aldoar e 7 de Oliveira de Azeméis (espero não errar) - a maior parte do tempo de preparação foi gasto com informações e recomendações.
Eram cerca das 21,30 horas quando nos fizémos à rua pelo trajecto habitual. Logo no início encontrámos os Médicos do Mundo que davam apoio a um dos nossos amigos de longa data: o João (da bicicleta), que mudou de poiso.
Continuámos pela Avenida da Boavista, Júlio Dinis e Câmara. Por um estranho fenómeno que acontece às vezes (lá terá a sua explicação), havia menos gente. Na Batalha era próximo do habitual. Igualmente junto à Urgência do H. de Santo António.
A abundância de farnéis, tal como esperávamos, fez-nos avançar para o Aleixo. Também aqui a frequência era menor.
Seguimos até à Pasteleira onde o corropio dos frequentadores era notável e tristemente curioso o de automóveis que mal paravam logo arrancavam com inusitada pressa!...
Continuavam a sobrar sacos. Aconselharam-nos a ida ao Ferreira Torres. Lá fomos ao encontro de mais uns tantos...
Fome!... Fome!... Fome!... Droga e mais droga!... Uma arrasta a outra numa espiral de miséria e desgraça. Desgraça para os próprios e para os que os cercam...
Servia uma mulher dos seus quarenta anos e, ao mesmo tempo íamos conversando.
-Olhe, o melhor que podia fazer era pensar deixar esta vida, tentar mudar... Já pensou nisso?
- Às vezes penso e já temos falado nisso eu e o meu marido. Aquele homem que está ali à frente...
Olhei e vi-o. De aspecto maduro, na fila mais adiante, estendia a mão para recolher o saco. Não conseguiria já esconder as mazelas daquela vida de um só sentido e pensar: droga!...
- Filhos? - perguntei.
- Três, - respondeu.
- Onde estão?
- Com os meus sogros.
É assim: aqui um mal nunca vem só. Traz consigo um rosário de misérias e trabalhos que cava a desgraça de uns e enferniza a vida de outros. E os mais próximos são as maiores vítimas. Em primeiro lugar os filhos, depois os pais, os avós, outros parentes quando se não alheiam!
E ninguém está vacinado contra este mal. Apanha às vezes até os mais avisados. Foi talvez com certa surpresa que os escuteiros do grupo foram descobrir numa só paragem três antigos escuteiros que têm a rua por casa! Mas foi uma alegria para os antigos que não se cansavam de manifestar essa sua qualidade indicando o Agrupamento a que pertenciam e despedindo-se de todos com o conhecido aperto de mão com a mão esquerda.
Mas esta noite pareceu mesmo preparada para os mais novos pois não terminou sem o insólito: um frequentador do Pinheiro Torres que se deslocara de Aveiro para vir buscar veneno ao Porto, com a precipitação, fechou a carrinha deixando as chaves na ignição. Tenta dum modo, tenta do outro e nada! As equipas dos escuteiros e a de Carregosa uniram os seus saberes e talentos na tentativa de descobrirem forma de abrir a porta. E tanto porfiaram que até conseguiram, para alívio do condutor precipitado.
E foi ali, numa roda, que démos Graças por esta noite e pedimos por todos quantos tinham vindo ao nosso encontro. Grupos de rua oram na rua.
Encontrámos pessoas marcadas, sofridas, vidas em farrapos, idas sem regresso, mas na pessoa de cada uma está Jesus sofrido, espezinhado, abatido, crucificado.
- Quem pecou, foi ele ou foram os seus pais?
- Não foi ele nem os seus pais que pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele” (João 9.1-3).
A leitura deste dia aconselha-nos a não atribuir culpas a nenhum daqueles que encontrámos no nosso caminho pela desdita que os atingiu, mas a dar Glória a Deus e a agradecer-Lhe por nos ter permitido participar na Sua obra.
Quantos de entre eles não irão à nossa frente para o Reino dos Céus?
C.
franjassociais@hotmail.com
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