quinta-feira, 9 de setembro de 2010

De volta...

Setembro.2010
Já não são as noites cálidas do nosso Verão aquelas que encontramos quando saímos ao encontro daqueles que dia-a-dia, semana-a-semana, mês-a-mês nos aguardam nas ruas do Porto.
Este blog tem estado em silêncio mas a nossa actividade não parou. Todos os meses temos saído, com exclusão de Maio. Ainda que não seja propriamente aliciante o tema nem agradável a miséria, congratulamo-nos com os leitores que nos vêm visitando com regularidade nos países onde residem, nomeadamente os mais assíduos, que são os que moram na Califórnia (USA), Rússia, Brasil (muitos), e em Portugal.
Os relatos também não têm em vista fazer propaganda (de quê?!...) mas apenas permitir tomar contacto com esta nossa realidade a quem noutras latitudes se dedica igualmente à tarefa de ir ao encontro "do outro" para que da experiência de uns e de outros resulte um melhor conhecimento de como deveremos actuar.
Ontem lá fomos uma vez mais, lutando com falta de voluntários mas esperando e confiando. E, se uns faltam, outros vêm.
Não são bons os tempos que atravessamos e a rua vai-no-lo lembrando: São muitas as caras novas que espelham amarguras e desaires da vida e que dia-a-dia aumentam o número dos que nos aguardam.
Era farta a mesa que levávamos ontem mas tudo acabou na Rua do Rosário. Há já três meses que não conseguimos descer ao Aleixo.
Não têm surgido casos que mereçam especial atenção a não ser as mães novitas que nos aparecem acompanhadas dos seus filhitos. Excepção foram no mês passado o caso de uma mãe de cinco filhos que luta por ganhar coragem para iniciar um programa de desintoxicação, outro o da "Emília" que deixou em casa três filhos entregues à mãe já lá vão uns vinte anos e que diz ter e não ter saudades deles, e mostra um ar abstracto cuja razão não conseguimos diagnosticar. Há dois meses foi uma catalã das Baleares que, saltitante, atravessou a rua no Pinheiro Torres cantarolando a Avé Maria, devoção que mantém bem arreigada mau grado a prisão da droga...
Mas positiva, positiva, é a alegria com que nos aguardam e agradecem, sinal de que a nossa visita produz efeitos. E é isso que queremos. É gratificante ver entre eles alguns que assumem já atitudes muito diferentes daquelas que lhes vimos nos primeiros contactos, e saber que outros encontraram outras formas de vida mais consentâneas com a dignidade própria de seres humanos.
- Quando voltam? - perguntavam alguns deles ontem.
Dando continuidade à "promessa" há muito feita, no próximo mês lá estaremos com eles novamente, rondando a cidade, as ruas, os becos, os portais...
Que Deus os proteja e lhes dê aquela "boa noite" que bem desejaríamos para cada um deles.
C.

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