sexta-feira, 12 de março de 2010

E a rua continua... Março 2010

Reduzidos ao mínimo, teimosamente, cá continuamos! A Rua chama-nos. Tendo atravessado um deserto que nos obrigou a interrogarmo-nos, pelos sinais que nos iam chegando, concluímos que a acção teria de prosseguir. Uma sucessão continuada de impedimentos parecia indicar que Deus nos dispensava. Mas... lendo bem a mensagem que no Evangelho nos deixou, essa indicação parecia não ter cabimento. Não batia certo. Que um ou outro seja "desviado" para tarefas de outra natureza, entende-se, mas já se não entende que TODOS o sejam. Se assim fosse não haveria lugar para a Caridade e Deus não quer isso.
De muitos lados temos leitores destas páginas e destas crónicas. Vêm , uns do Brasil (sobretudo do Brasil), outros de norte a sul e ilhas de Portugal, mas também dos EUA, França, Espanha, Holanda, Timor e até da Rússia. O interesse que tem vindo a ser manifestado nas notícias destas páginas aconselha a que continuemos.
Por outro lado, sem encomenda de qualquer natureza, pessoas caridosas que não têm condições de nos acompanhar inquiriam das datas em que voltaríamos à rua pois queriam participar preparando sandes ou ajudando de outra forma.
Sentíamos isto como sinais que nos estavam a ser enviados para não parar por aqui.
Não parámos, e aqui estamos!
Estamos e estivemos também já em Janeiro, em Fevereiro e agora em Março.
Em Fevereiro saímos apenas dois. Sem temor mas crendo que Deus nos acompanharia demos a volta completa até ao Aleixo e a Pinheiro Torres. Tivemos muitas sobras nesse dia que entregámos no dia seguinte nas Irmãs dos Pobres, no Pinheiro Manso.
Este mês o número cresceu. regressou a Elvira, acompanhou-nos também o marido, e agregou-se ao grupo o Aníbal C. que também abraçou a causa com muita dedicação. Estávamos junto à Câmara quando se associou também a Sofia e a filha (de 13 anos) que promete continuar. Já a conhecíamos e integrava outro grupo que rebentava de voluntários. Por isso achou melhor destacar-se dele e iniciar nova caminhada connosco. Bem-vinda! Creio que vai ser uma experiência forte e abençoada.
Na oração de partida abriu a Palavra o neófito do grupo, Aníbal, que, nem de propósito leu a passagem em S. Marcos, 12, 41:
"...Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento."
A mensagem vinha directamente para cada um de nós, que também estávamos ali para dar o que nos sobrava!... Era para estarmos atentos e não nos deixarmos iludir pelo orgulho de nos julgarmos mais do que aqueles que nada davam. Deus estava a colocar-nos no nosso lugar e a dizer-nos qual o tamanho da nossa caridade, do nosso amor.
Estranho o diálogo com uma mocita de 15 anos em Júlio Dinis na sequência da informação de que não falava com o pai e que nem o queria ver:
- Sabes o "Pai Nosso"?
- Não que isso é de "betinhos"!
Prosseguiu a nossa dialética com a menina alertando-a para o perigo daquela radicalidade ignorante dos valores, de experiência, da vida. Semeámos alertas e deixámos conselhos nomeadamente os que respeitam à necessidade de estudar. Mas a menina resolvia tudo em simples mudança: deixar a escola no 9º. ano e seguir um curso de representação - quer ser actriz - talvez num qualquer das "novas oportunidades" preparando para pouco, nada ou quase nada.
A nossa via sacra continuou ruas fora, parando nos locais habituais, encontrando rostos já amigos. Desviámos na Trindade ao encontro do Francisco. Mas que transformação!... Não parece o mesmo Francisco ensimesmado, que encontrávamos continuamente rabiscando quadradinhos de ponta a ponta das folhas A4 em linhas certinhas, como um exército de letras sem sentido. Ria, abriu os braços para nos acolher, falámos um pouco e lá o deixámos a caminho de um melhor lugar onde disse que agora estava. De facto estranhámos não o ter encontrado em Fevereiro no sítio do costume.
O nosso cabaz era abundante. Não regateámos distribuir sandes, fruta e o mais que levávamos. Por isso, do Carregal ainda fomos ao Aleixo e ao Bairro Pinheiro Torres, onde deixámos o resto. Ninguém ficou por servir a não ser o outro Francisco e companheiros no vão da escada de São Bento, por mero esquecimento.
E foi ali mesmo, numa roda de 6 (incluindo um amigo da rua que acabara de chegar) que rezámos a nossa oração de agradecimento por aquela noite, e pedimos por todos eles e pelas suas necessidades espirituais e materiais.
Deus, que tudo vê e provê segundo a nossa Fé, não os abandonará e, por isso, muitos franciscos se transformarão pela Sua Graça e viverão na Sua Paz.
É Quaresma, tempo de Oração, Sacrifício e Caridade. Ainda não o é de Aleluias, mas apetece gritar desde já e bem alto cantando Aleluia ao senhor pelas Suas maravilhas!
C.