domingo, 15 de janeiro de 2012

7º. Ano...

E regressámos à rua no dia 11 deste mês. É especialmente bom ver alguns que se nos dirigem contando que já se encontram em tratamento, outros recuperados. Não vou relatar em pormenor os encontros ou reencontros nem o que rodeou a preparação de mais uma saída. Foi mais uma boa resposta dos nossos amigos escuteiros e dos da Paróquia de Carregosa, uns e outros com história alicerçada nestes raides. Aliás, não consta do relato, mas só da Paróquia de Carregosa compareceram 35 voluntários ao Jantar de Natal servido aos Sem-abrigo!
Sempre presentes nestas e noutras iniciativas, são exemplo vivo de que olhar com olhos de ver o próximo não é tarefa alheia mas da responsabilidade moral de cada um.
Foi fria a noite mas muito quente de afectos.
Correram-se os Bairros Sociais e as ruas da Baixa.
Deixámos algo de nós e muito do que lhes levámos e viemos embora temporariamente resignados com a nossa incapacidade de responder a todas as suas necessidades. Mas anotamo-las e continuamos a teimar...
Salutar é ver que a rua, a pouco e pouco, vai mudando alguma coisa! Hoje já não é aquela rua de há 10, de há 7 anos! Há menos gente a dormir ao relento e há muito menos abandonados a si mesmos e ao seu natural desleixo. Alguns dos que afastavam de si qualquer um pelas cotras do vestuário e pelo odor acre e desagradável da imundície que transportavam no corpo e na roupa, estão e sentem-se muito mais humanizados.
Tudo isto é sinal de que todos os que estão com eles na rua, seja em resposta a um apelo pessoal ou da organização em que se integraram como voluntários, ou até de dever de ofício, devemos continuar porque ainda que não consigamos erradicar o mal pela raíz podemos pelo  menos fazê-lo diminuir.

A tarefa não é fácil mas não é motivo para se lhe virar as costas.
Neste novo ano e nos que se lhe seguirem continuaremos a tentar com o melhor do nosso esforço e contributo que a rua seja melhor, e que os que a têm por casa encontrem por fim um abrigo certo, seguro e digno.
Um Bom Ano a todos.

C. 

Jantar de Natal com os Sem-abrigo

Seguindo a tradição iniciada na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição há já alguns anos, foi servido no passado dia 29 de Dezembro o Jantar de Natal aos Sem-abrigo. A iniciativa destinava-se a contemplar não só os habituais utentes da Porta Solidária, a quem é servida diariamente uma refeição na Paróquia, mas também aos demais Sem-abrigo que o desejassem.

A data foi previamente anunciada nas ruas e foram também feitos os contactos com alguns grupos de voluntários para assegurarem a preparação e o apoio na refeição.

Numa congregação de vontades, em verdadeiro espírito de Caridade Cristã, cedo começaram a surgir de um e outro lado as contribuições voluntárias dos géneros necessários, todos dispensando qualquer tipo de publicidade. Assim, desde os frangos, passando pela fruta, Vinho do Porto e terminando nos chocolates e no Bolo-Rei, tudo foi aparecendo anonimamente, sem alarde nem qualquer forma de cobrança.

E, na tarde deste dia, foi uma agradável surpresa ver aparecer, dispostos a executar qualquer tarefa, cerca de cem (100!...) voluntários aos quais foi destinada uma das diversas ocupações – cozinha, copa, mesas, acolhimento, animação – necessárias ao bom êxito da festa. Sim, porque de verdadeira festa se trata, e tratou mais uma vez este ano, em que até se ultrapassou o êxito já alcançado em anos anteriores.

De facto, à fartura e diversidade do serviço, juntou-se a alegria geral partilhada com os mais de trezentos comensais e a animação do grupo de cavaquinhos da Paróquia. Cantou-se, dançou-se, e o riso rasgado em muitas bocas deixava para trás as agruras do dia-a-dia de todos…

Sempre presente onde mais falta faz, numa comprida mesa corrida, o Sr. D. Manuel Clemente tomou mais uma vez lugar no meio deles, acompanhando-os na refeição, alimentando-lhes a alegria, e relembrando-lhes que também eles são parte integrante da Igreja de Cristo.

Em coro afinado, os voluntários desejaram a todos as Boas Festas de um Natal Santo e de um Ano Bom como precisamos.

De estômagos compostos e sacos cheios de prendas, os contemplados levaram também a alma cheia de gratidão e daquela alegria que, é pena, mas parece que só o Natal sabe dar, ainda que ali a Porta Solidária durante todo o ano aberta, o pretenda fazer aos que a procuram todos os dias.

Na troca de abraços final ficou a sensação de mais um dever cumprido e a determinação de ali voltar no próximo Natal, esperando que a alegria que a pouco e pouco vai sendo semeada, germine e cresça e cada vez mais se expanda numa séria contribuição para a construção de um mundo melhor.