sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

5º. Ano

Chuva e vento

Pois foi, a chuva e o vento não nos largavam...
Por isso a dúvida quanto à saída permaneceu até quase ao fim. Permaneceu para alguns porque interiormente estávamos decididos a ir fosse como fosse e qualquer que estivesse o tempo!
Havia muita gente impedida por motivos vários, e certos estavamos só três.
Combinámos alterar algumas coisas: o frio não convida tanto a sumos, por isso ensaiaríamos levar café com leite quente. A Margarida encarregou-se de levar os termos. O resto levaríamos nós. Mesmo assim apareceu com 30 sacos quase prontos. Adicionados ao que levávamos entre sandes, fruta, bolos diversos e leite com chocolate não foi nada mau.

Contra os nossos receios a noite nem foi fria nem chuvosa. Também não éramos só três mas cinco pois a Margarida apareceu com um casal jovem.
Foi um deles que abriu a Palavra: "David e Ciba":
" Tendo David descido um pouco a outra encosta do monte, viu Ciba, servo de Mefibosét, que vinha ao seu encontro com dois jumentos carregados com duzentos pães, cem cachos de uvas secas, cem peças de fruta da estação e um odre de vinho."

No decorrer da leitura recordei-me dos preparativos: "devem chegar cem maçãs... cem pacotes..."!
Por acaso não só chegou o que levávamos mas até sobrou porque a noite estava pouco convidativa a permanecer na rua e alguns decerto preferiram ficar sem ceia mas continuar resguardados, tanto quanto alguns puderam, do frio, do vento e da chuva.
Também contribuiu para isso a Chantal que, como vem sendo costume, se encarrega da Rua Júlio Dinis às Quartas-feiras e nos dispensou ali o serviço.
O certo é que, depois de termos corrido a cidade, descido ao Aleixo, ido ao Pinheiro Torres ainda tínhamos sacos completos, maçãs e sandes no carro, que tiveram como destino depois as Irmãzinhas dos Pobres.
Nada se perde se tudo se pode aproveitar.
Terminámos em Leça com a oração expontânea da amiga Mª. de Lurdes, cheia de inspiração e ternura.
Vão-se dissipando as dúvidas de como deveremos continuar na rua: é continuando... e Deus nos ajudará quanto ao mais.

Estar, querer estar e a determinação de continuar creio que é o fundamental. Será esse o objectivo principal. E, se pudermos fazer mais alguma coisa por eles, será o coroar da nossa dedicação.
Com a ajuda de Deus...

C.

sábado, 9 de janeiro de 2010

5º. ANO!!!


Jantar de Natal
Uma vez mais, desta vez no dia 2 de Janeiro, a Paróquia de Nª. Senhora da Conceição organizou e serviu o jantar de Natal aos Sem-abrigo da cidade do Porto.Para esse efeito contou com a disponibilidade de voluntários que, na sua maioria, são as pessoas da Porta Solidária que costumam servir as refeições diariamente aos Sem-abrigo, reforçadas por elementos de outros grupos da Paróquia, por anónimos que ajudam os Sem-abrigo, ou por pessoas que todos os anos acorrem ao pedido de apoio do Sr. Pe. Rubens. Ainda que não seja habitual destacar ninguém, não poderíamos deixar de mencionar a presença de 4 Irmãs do Instituto das Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento, vulgarmente conhecidas como da “Toca de Assis”.
Já o ano passado tinham dado o seu contributo e assim quiseram fazer também neste.
Tendo como carisma o acolhimento e a dedicação aos Sem-abrigo, a sua presença aqui deixa antever o possível início de uma nova missão…
“Entrada Livre!”, dizia o “convite” a tempo distribuído pelos cantos da cidade.
E a ele responderam mais de 300 pessoas, frequentadoras habituais da rua ou nela residentes, com interesse tal que, ainda faltava uma hora para a abertura das portas do salão onde ia ser servido e já a fila de espera se alongava por mais de meio perímetro do templo. Viam-se ali alguns nossos conhecidos que não deixam por nada deste mundo o lugar onde recolhem a moedinha, e que esperaram pacientemente a hora do jantar sem um lamento ou manifestação de contrariedade.
Que se passava no espírito de cada um deles? O que fez, por exemplo, com que o P., revoltado crónico, ali estivesse aquele tempo todo, prescindindo da sua fonte de receita, sem vislumbre de azedume ou revolta? E, como ele, tantos outros...
Nem a chuva os demoveu ou fez atrasar.
Aberta a porta pontualmente às 20,00 horas depressa ficaram preenchidos os 230 lugares previamente preparados. À porta continuavam a assomar rostos impacientes. Acrescentaram-se mais mesas extra. Também estas ficaram rapidamente ocupadas. Esticou-se o espaço para a lateral, e também encheu…
O Sr. Bispo do Porto brindou-os com a sua presença. Também é pastor deles e já vem sendo habitual a sua participação neste jantar.
Curiosamente, a primeira pessoa que contactou ao entrar foi precisamente a superiora das Irmãs Filhas da Pobreza com quem estabeleceu um curto diálogo. E, ao saber que pertenciam à diocese de Braga e não do Porto, não perdeu tempo a lançar-lhes o desafio:
- Se pensarem fixar-se no Porto, FALEM COMIGO!
As mesas estavam cuidadosamente preparadas: arranjos ao centro, velas acesas.
A semi-obscuridade do salão contribuía para criar uma atmosfera de solenidade e respeito.
Com o início do serviço acenderam-se as luzes e o espaço encheu-se de claridade, do ruído dos talheres, do lufa-lufa dos voluntários no afã de servirem, uns o pão, outros os sumos, outros ainda o arroz quentinho acabado de sair dos panelões…
Comeram e repetiram.
Seguiram-se as sobremesas, a fruta, os doces, as rabanadas, o Vinho Generoso.
Os voluntários reuniram-se no palco para cantar as janeiras. Juntou-se-lhes o Sr. Bispo. E pela sala ecoou então o som de dezenas de vozes todas bem afinadas pelo ritmo do coração:
“Oh!... Acordai!... Jesus nasceu: Cantai! Cantai! Cantai!..."
“Nasceu em Belém
Jesus O Redentor.
Chegou à Terra o Amor,
A Luz, a Luz e a Salvação…”
E assim por diante até ao fim das 11 quadras. Cantava-se no palco, cantava-se e dançava-se no salão.Via-se alegria nos seus rostos e alegria contida nos corações de cada um de nós.
São horas como estas que dão razão às nossas vidas!
Em boa hora o Sr. Pe. Rubens entendeu que a hora é de acção, arregaçou as mangas e disse:
- Se não fazem os outros fazemos nós!
Sim, não devemos estar à espera de que sejam sempre os outros a dar o primeiro passo. Basta olhar à nossa volta e ver o que é preciso e, como ele, arregaçar as mangas, e ir...
São iniciativas como esta que devem multiplicar-se!
C.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Uma história de humildade

As "Irmazinhas dos Pobres" são uma instituição fundada por Santa Joana Jugan, santificada há poucos meses, uma francesa pobre que um dia levou para sua casa uma velhinha e a deitou na sua própria cama, passando a dormir no chão. Foi aí que nasceu o primeiro Lar de Terceira Idade orientada por estas irmãs.
Dá gosto ver como tratam dos velhinhos, com que amor falam com eles e aguentam alegremente as suas manias, tiques, teimosias, demencias. Vivem de andar a calcorrear as ruas no dia a dia batendo às portas a estender a mão a pedir, e da Providência Divina - daquilo que lhes aparece.
Têm critérios de aproveitamento fantásticos e a casa é de um arranjo, de uma limpeza, e de um bom gosto que só podem ser fruto de um grande amor. Invejável. E as irmãs na sua grande pobreza de vida estão muito asseadas mostrando que a pobreza não tem a ver com porcaria ou trapalhice, como tantas vezes acontece confundirmos.
Costumo ir lá à Missa e é muito bom ficar na capela depois a rezar - um silêncio, um ambiente acolhedor, um Cristo na Cruz lindíssimo ajudam a que possa fazer a minha "caminhada de silêncio" diária ali muitas vezes.

Há pouco tempo a Irmazinha Superiora da comunidade adoeceu e foi preciso substituí-la. Não sei como é feita a escolha da nova Madre só sei que a escolha caíu... espantem-se! ... sobre a "Irmazinha" da cozinha... O "mundo" habituou-me a pensar que normalmente o/a superior/a de uma comunidade se ía preparando percorrendo um caminho de "importância" dentro da ordem, até que um dia a escolha para superior/a recairía lógicamente sobre ele/a. Mas nunca viria da cozinha... Pois aqui não foi assim. De facto, todas as irmãs têm a mesma formação, e todas a renovam periodicamente. Depois, dentro da Instituição, cada uma ocupa lugares vários: ou vai para a rua pedir de porta em porta, ou tem a seu cargo a alimentação dos velhinhos acamados, ou é a sacristã, ou acompanha a Madre Superiora nas suas tarefas, ou está encarregue das partes lúdicas, ou está destinada á cozinha... não havendo, pois, razão nenhuma para que a irmã que vejo levar o lixo ao contentor na rua não venha a ser um dia a Madre Superiora da casa.
Ontem na Missa foi a apresentação da nova Irmazinha superiora. E com que humildade, simplicidade, e alegria todas a receberam! Este acontecimento alegrou-me muito e mostrou-me como há ainda quem viva a humildade e a simplicidade de Jesus. E a certeza de que o servir é que dá a importância e os "galões". Foi muito bom viver estas horas de fim de ano com as Irmazinhas dos Pobres.
Teresa Olazabal