sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Porta Solidária

É o nome da nova iniciativa da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, que conta com a colaboração do Externato de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, da Escola Superior de Educação Paula Fracinetti, e o apoio de grupos de voluntariado.
Constará do fornecimento de 2ª. a Sexta-Feira de sopa e pão às pessoas sem-abrigo da cidade no bar da Paróquia, a partir de 26 de Fevereiro.
Bom seria que o aumento de apoios possibilitasse ir ainda mais além.
Quem estiver interessado em apoiar ou oferecer-se como voluntário no serviço daquela pequena refeição deverá contactar a secretaria daquela Paróquia.
C.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Na Trindade!

Dia 28 à noite -21,00 horas - é dia de ir ao encontro dos nossos amigos da rua à Trindade. O encontro realiza-se sob novo figurino, nova postura, inaugurando um novo relacionamento com "o outro", aqui representado pelos "irmãos da rua".Vai ser, certamente, um convívio são, e um muito forte e corajoso momento de evangelização. Quem puder, compareça! E não estranhem a minha ausência porque, desta vez, não poderei estar.

C.

domingo, 18 de janeiro de 2009

E o quarto ano começou

Parece que foi ontem... Mas já passaram três anos desde que iniciámos esta nossa acção na rua, continuando outros dois que foram de aprendizagem. Mas aprender aprendemos todos os dias e é nessa abertura de coração à afinação de procedimentos que Deus nos fala e orienta. As nossas saídas são quase sempre uma incógnita: limitamo-nos a ir e a aguardar as surpresas que nos esperam. E têm sido muitas! Esta Quarta-feira que parecia mísera (da confeitaria vinha um tabuleiro a meio, minguadíssimo!) acabou por ser um dia cheio, cheio, cheio!!!...
Ao chegar dizia-me a amiga Maria de Lurdes, companheira nestas andanças desde o início:- Ai!... Hoje vem tanta coisa! As confeitarias de Leça dão-nos cada vez mais! E lá foi inventariando o que trazia dado, e o que tinham preparado. Tudo a juntar ao açafate da Alda, sempre preparado com esmero e carinho, às 40 sandes da amiga Virgínia (que não vem mas nos empurra a partir de casa), às que nós trazíamos, à fruta, sumo, leite com chocolate constituía um reforço alimentar bem bom. Reforço para uns, base para outros.
O melhor, porém, estava reservado para a chegada: lá nos fomos juntando os habituais, descontando uma ou outra falta por sobreposição de obrigações, mas, a verdadeira surpresa veio com a amiga Maria de Lurdes que trazia como reforço quatro ocupantes de uma viatura!Também juntei o último reforço, a amiga Lucília, já muito traquejada nesta missão e que andava como "free lancer"... E o dia que parecia ser de miséria acabou por ser um dos mais abastados em tudo: farto de alimentos e com uma equipa abençoada de 13 elementos! Deus é assim, de vez em quando surpreende-nos como que a dizer-nos: "-Não sois vós que fazeis..."!

Ainda não tínhamos preparado as coisas e já tínhamos dois clientes, um deles cheio de pressa para que lhe desamparássemos a loja para poder facturar mais uns cobres com o parqueamento nos três lugares que ocupávamos. A nossa paciência acabou por desarmar a quase que insolente e mal agardecida persistência. Passámos rapidamente pela Boavista e ali nos demorámos apenas o tempo de servir dois amigos e de trocar algumas impressões com os Médicos do Mundo. Em Júlio Dinis deparámos com o ajuntamento habitual e com o grupo de Nossa Senhora da Boavista - Foco - onde tivemos a surpresa de reencontrar o Sr. Pe. Paulo e a nossa, embora nova mas já velha, amiga Natasha.

Deu tempo para conversar, para reforçar a distribuição do outro grupo, dar alguma roupa e cobertores, e um pouco de alegria a quem ali estava. E naquele meio destacava-se uma família quase inteira de uma mãe com as filhas e um tio, que ali continuaram depois da nossa partida, à espera, talvez, dos Samaritanos. São meninas em idade escolar que já deviam estar a dormir àquela hora... A caminho da Câmara não perdemos a oportunidade de passar pelo Fernando e de visitar o seu novo vizinho de portal. Ainda estávamos ali quando uma mão caridosa dos vegetarianos lhes trouxe uma sopa quentinha. Mais abaixo, em S. Bento, via-se um numeroso grupo de evangélicos ostentando vistosos coletes reflectores. É assim: a Caridade não tem nome, não tem dono, tem espírito e destinatários. Cavaqueámos com o Morais, aconchegado no portal ao lado da sua última aquisição com o qual não se importou de ficar na fotografia.
- Fiquei lá? - perguntou.

Mostrei-lhe a foto no visor.

- E a... vê-se bem?

Para lhe tirar dúvidas fiz nova foto agora mais dirigida à amiga. Ficaram contentes. Na próxima oportunidade tenho de lha levar. Mais abaixo o Francisco, estava bem disposto e fora do sítio, sem preocupações de escrita

Na Batalha já havia poucos; atendemos os que apareceram e fomos descendo a rua ao encontro dos que agora a tomaram como sua casa durante a noite. Um dormia profundamente, o outro foi a surpresa da noite e uma lição: pessoa que se nega a pedir mas faz um tremendo esforço para ganhar a vida, indo de aldeia em aldeia, rua a rua, porta a porta, sempre a pé, para vender peças que até são pesadas!

- Ganho cada vez menos por causa da concorrência, é preciso espremer a margem de lucro para poder vender alguma coisa e, mesmo assim, vende-se pouco!

- Tinha uma casa e as minhas coisas mas não podia suportar a despesa e tive de a deixar e vir para a rua. Mas tenho tudo guardado em casa de pessoas amigas! E ali estava ele, perfeitamente deslocado, limpo e barbeado, conversa séria e atinada, conformado com as dificulades que a vida lhe reservou para os seus 59 anos...

Assim se dorme num portal...

O Carregal e o seu séquito de utentes aguardava-nos. O Fernando, bastante em baixo, parece que guarda segredos que não conta. Vítima de si próprio e das suas sucessivas más escolhas, creio que está sendo também vítima, como na história do lobo, de alertas infundados ou de oportunidades rejeitadas. Temos de o acompanhar mais e melhor. Acabámos por lhe dar boleia até casa enquanto os outros carros seguiam até ao Aleixo. Como quase sempre, ali voaram os 60 sacos pré-preparados e o resto da fruta, sumo e bolos. Ali se vêem desembocar restos de gente já sumida na voracidade do consumo, e jovens incautos que a ilusão do prazer já prendeu no seu anzol. Na retina de alguns ficaram duas meninas lindas que se deslocavam num Audi que não desdenharam receber o que estava preparado para quem precisa. Ao receberem o "seu" saco iam-no trocando por outro contendo um tapete de arraiolos e objectos que pareciam ser de prata!
- Esse saco é meu!... - apressou-se a dizer uma delas.
Sim, seu de posse, não de verdade porque o seu conteúdo ou foi subtraído à família ou a outrém e nem num caso nem no outro lhe pertenceria. Rezámos no final colocando todos os nossos encontros da noite nas mãos de Deus por, com, em e para Maria apresentar a Jesus recordando a prece que lhe dirigiu na bodas de Caná:
- Não têm vinho!...
Sim, não temos vinho, pão, água, juízo, paciência, compaixão, gratidão, trabalho, amor, família, constância, respeito, paz, oração...Mas temos o pedido constante de Jesus na Cruz ao Pai:
- Pai!... perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!...
C.

Um testemunho

À "Ronda da Noite" e Irmãos Sem-abrigo

A pobre viúva deu tão pouco,
Mas deu tudo o que tinha para viver!...
Aos olhos de Deus, foi a maior oferta de todas as deixadas, nesse dia, no Templo!...
Ai, o frio que enregela os corpos
Sofridos
Desnutridos
Andrajosos
Ambulantes de ruas
Mais ou menos movimentadas,
E, agora,
Aliados à fome
De horas e horas
Dias e dias
Sem uma refeição reconfortante
Que aqueça o corpo
E dê alento à alma!
Que esta parece já não existir
Com tanto sofrer e mágoa no resistir!!...
Passei na rua,
E ouvi apregoar:
Meias para o frio:18 pares por tanto...
Então, lembrei-me de vós
Irmãos sofredores
Sem tecto ou lareira
De estômago vazio
Enfrentando o frio!!...
Já alguma vez
Sentiste fome e frio ao mesmo tempo?
Doloroso por certo!!
Mas, disto nós temos,
E de nós bem perto!!...
Quando me deito
E tenho os pés frios,
não adormeço,
E de vós não me esqueço!
Coloco uma botija
Com água bem quente
E que alívio se sente!!
Com este óbolo insignificante,
Nada comparado ao da viúva,
Poderei dar um pouco de conforto
A 56 pés nús e macerados
Pelos rigores do Inverno atormentados!!...

E verá que não custa!
A vida para si não foi madrasta
E sentir-se-á mais justa!

Maria Alice